Embaixador defende bloco econômico da América do Sul

A construção de um mercado comum sul-americano é prioridade da atual política externa brasileira. ?O objetivo é formar um bloco único, capaz de atuar de forma mais igualitária com o sistema internacional, cuja tendência é a formação de grandes blocos econômicos?, afirmou o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, secretário-geral do ministério das Relações Exteriores.

O diplomata foi o convidado especial do governo Roberto Requião para apresentar palestra, que teve como tema ?O Brasil no Sistema Internacional ? da periferia ao centro?, na reunião do secretariado desta terça-feira (12). Na avaliação do governador, a política externa brasileira é o grande destaque do governo Lula, porque defende a integração com o Mercosul e países andinos como resistência ao controle dos grandes blocos econômicos. ?Essa também é a política do Paraná, de preservar as estruturas contra a dominação das empresas estrangeiras?, comparou.

ONU

De acordo com Pinheiro Guimarães, as chances de o Brasil ganhar um assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) são muito grandes. O país já conta com o apoio da China, Índia, Japão, Alemanha, Rússia, França, entre outros, para conseguir sua vaga. Segundo o embaixador, o governo está se esforçando para essa conquista porque a ONU é o único órgão a ditar normas de segurança no sistema jurídico internacional.

Atualmente, o Brasil obedece ao conselho, contribui no pagamento das despesas das decisões, mas não participa do processo. O embaixador citou, como exemplos, a autorização para uso da força militar, o uso de armas e a licença para o enriquecimento de urânio para fins pacíficos, entre outras normas, que dependem da aprovação do conselho. ?É fundamental para o Brasil ter assento permanente nesse conselho para defender e promover melhor seus interesses no sistema internacional?, justificou.

Pinheiro Guimarães analisou a participação do Brasil no sistema internacional e defendeu que o país não assuma compromissos que reduzam sua capacidade de superar os desafios. O embaixador disse que o sistema internacional tende a desenvolver normas e acordos que favorecem a concentração de poder. ?É preciso transformar esse sistema e não se submeter a ele?, destacou. A política externa brasileira atual, segundo Guimarães, tem contribuído para superar esses desafios.

Disparidades

A análise do embaixador levou em conta as peculiaridades do País. A primeira delas, as extraordinárias disparidades que caracterizam a nação, como o confronto de situações de extrema pobreza com extrema riqueza. Para espanto da platéia, o diplomata lembrou que o Brasil possui a segunda maior frota de aviões e de helicópteros particulares do mundo. ?Por outro lado, tem um elevado percentual da população vivendo abaixo da linha de pobreza, com menos de US$ 1 por dia?.

O diplomata citou ainda muitas outras disparidades como as regionais, cidade e campo, dentro das cidades, cultural, educacional, étnicas, de gênero, que criam grandes dificuldades para a definição de políticas para o País, pela falta de homogeneidade da sociedade. Paralelamente, o país enfrenta grandes vulnerabilidades de ordem econômica, tecnológica, militar e política. ?Por causa disso o Brasil ainda não faz parte dos principais centros de poder do sistema internacional?, afirmou.

Pinheiro Guimarães lamentou as vulnerabilidades tecnológica e econômica, fatores de atraso do desenvolvimento econômico do País. Segundo o embaixador, as empresas norte-americanas registram por ano 44% de todas as patentes do mundo. Enquanto o Brasil registra muito pouco, o que afeta a competitividade. ?E no front econômico há uma necessidade permanente de gerar superávits comerciais para fechar a balança de transações correntes?, acrescentou.

O diplomata defendeu a superação desses obstáculos para o Brasil realizar seu potencial, tão pouco conhecido. Lembrou aspectos positivos do País, como o fato de apenas 10% do potencial geológico do território ser conhecido. ?Também fazemos fronteira com muitos países vizinhos, sem enfrentar conflitos ou disputas territoriais?. Citou ainda como vantagem o uso de apenas um idioma apesar do tamanho da população e da dimensão do País.

Outras vantagens, como o fato do País não enfrentar conflitos de natureza religiosa ou étnica, ?possibilitam a coesão da sociedade brasileira dentro de um território amplo e de muitas riquezas?, explicou.

Convênios

O governador Roberto Requião e o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães assinaram o convênio de renovação da permanência do escritório de representação do Itamaraty (ministério das relações exteriores) no Paraná. O convênio visa estimular a participação de entidades e órgãos públicos e privados do Estado no processo de inserção do Brasil no cenário internacional. E também articular ações conjuntas no processo de integração regional.

A coordenadora-geral da Casa Latino-Americana do Paraná, Gladys Floriano, e o presidente do Centro de Relações Internacionais do Paraná, Rafael De Lala, entregaram um documento que reivindica a implantação no Paraná de um curso preparatório ao exame de admissão para a carreira diplomática. Segundo De Lala, os jovens paranaenses estão em desvantagem no acesso à carreira diplomática em relação a seus colegas de Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro, por falta de um curso especializado de acesso ao Instituto Rio Branco.

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