Em depoimento, empresário diz que empresas eram obrigadas a pagar propina

Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos, o empresário João Antonio Setti Braga disse hoje que os donos de empresas de ônibus que operavam em Santo André, no Grande ABC (SP), na gestão do prefeito Celso Daniel eram obrigados a pagar propina ao então secretário de Administração, Klinger Luiz de Oliveira. Braga disse que, no período em que foi um dos seis sócios da Expresso Nova Santo André, de julho de1997 a abril de 2000, a empresa era obrigada a contribuir com mais da metade dos R$ 100 mil que eram entregues pela concessionárias a Klinger por intermédio de outro cotista, o empresário Ronan Maria Pinto. "A propina mensal, que classifico de uma autêntica extorsão, era considerada como um custo político para a gente trabalhar sossegado", afirmou. Quanto aos R$ 100 mil, ele disse ter sido avisado que era o sistema da cidade. "Quer dizer que, além da Nova Santo André, as outras empresas tinham também de fazer este caixa", acrescentou.

Braga disse que se desfez das cotas, correspondentes a 25% do total da sociedade, pelo valor de um real, depois que Klinger passou a retaliar a empresa, cortando mais da metade das linhas em que ela operava. "O que a empresa valia, ela devia. Pulverizei as cotas e resolvi sair do negócio", afirmou. "Como nossa empresa era familiar, minha irmã queria doar as cotas para os pobres, ela dizia que com este pessoal, eu não fico mais", informou. Segundo ele, a retaliação começou quando ele e outro cotista, Luiz Alberto Gabrilli, requereram que fosse feita uma auditoria na Nova Santo André.

Ele confirmou a informação prestada pela empresária Rosângela Gabrilli à comissão, de que o valor da extorsão crescia quando do aumento das tarifas dos ônibus. Braga disse que tentou falar com Daniel, de quem tinha sido colega no ginásio, mas que não conseguia nem por telefone. "Tentei muito falar com Celso, mas ele estava blindado, tentei na prefeitura e por amigos, mas Celso parava muito pouco em Santo André e um dos que tinham carta branca para agir era o Klinger", afirmou. O empresário disse que só soube pela imprensa sobre os esquema montado em Santo André para abastecer o caixa dois do PT.

As informações sobre a extorsão confirmam o que foi revelado à comissão pelas irmãs Mara e Rosângela Gabrilli, que denunciou o esquema ao Ministério Público (MP) seis dias depois do assassinato de Daniel, em janeiro de 2002. Já Mara recorreu diretamente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em março de 2003, pedindo que interviesse na prefeitura para acabar com o esquema de corrupção. Mas, até agora, ela não obteve resposta de Lula. O esquema também foi denunciado à CPI pelos irmãos de Daniel, o médico oftalmologista João Francisco Daniel e o professor universitário Bruno Daniel. Eles disseram ter ouvido o chefe do Gabinete Pessoal da Presidência da República, Gilberto Carvalho, afirmar que era obrigado a levar para São Paulo, num Corsa preto, o dinheiro da extorsão para entregá-lo ao então presidente nacional do PT, ex-deputado José Dirceu (SP). Carvalho disse que, de uma só vez, entregou R$ 1,2 milhão a Dirceu. No depoimento à CPI, ele negou a informação. O presidente da comissão, senador Efraim Morais (PFL-PB), lembrou que Dirceu foi convocado a depor. Mas que ele só será chamado "no momento exato para que não venha usar a CPI como palanque ou como fez na Câmara , negar fatos que todos os brasileiros sabem que são verdadeiros".

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