Em depoimento à PF, José Dirceu atribui a Delúbio esquema de caixa 2

Em depoimento de cerca de três horas à Polícia Federal, o deputado José Dirceu (PT-SP) atribuiu ao ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares toda responsabilidade pelo esquema de caixa 2 do partido. Ele disse que tomou conhecimento de empréstimos que o partido teria feito na rede bancária, em 2003, período em que era ministro da Casa Civil, mas alegou que não conhecia detalhes, como valores, forma de pagamento e muito menos sobre a distribuição dos recursos com parlamentares da base aliada.

Dirceu disse também à PF que nem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou qualquer outro integrante do governo conhecia os empréstimos do PT ou qualquer detalhe sobre distribuição de recursos com parlamentares. Para a PF, o depoimento do ex-ministro repete os mesmos argumentos que ele usou na CPI dos Correios e na Corregedoria da Câmara e não acrescenta nenhum dado novo às investigações.

Ele reafirmou, por exemplo, que não tinha qualquer relação com o empresário Marcos Valério de Souza, acusado de ser operador do caixa 2 do PT. Dirceu disse que conheceu Valério em 2003 em um evento social, o qual não se lembra onde. Revelou também que o empresário esteve em seu gabinete três vezes acompanhando grupos de empresários, em audiências pedidas pela Usiminas, Banco Rural e Banco do Espírito Santo.

Apesar das negativas, Dirceu está sendo formalmente investigado no inquérito que apura o ‘mensalão’, mesada paga a parlamentares e partidos em troca de apoio ao governo. O inquérito apura também o esquema de arrecadação e movimentação de recursos do caixa 2 petista. Por ser parlamentar, Dirceu teve o direito de marcar dia, local e hora do interrogatório, realizado no seu apartamento residencial na tarde de hoje.

A inclusão de Dirceu no rol de pessoas investigadas foi feita pelo procurador-geral da República, Antônio Fernando Barros de Souza e aprovada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Souza verificou que, ao longo de 2003 e 2004, o então ministro da Casa Civil teve três reuniões com Valério no Palácio do Planalto e duas em Belo Horizonte, em 2003 e 2004, em períodos que coincidem com grandes decisões ligadas ao ‘mensalão’, como as datas de negociações de empréstimos com o Banco Rural.

O procurador-geral levou em conta também a denúncia do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) e a confirmação do próprio Valério feita à CPI dos Correios e à PF, de que o ex-ministro conhecia o esquema. A análise do conjunto de depoimentos e documentos convenceu à PF e ao Ministério Público que Dirceu não apenas sabia, como era o principal avalista do caixa dois do PT e do pagamento de propina a partidos e parlamentares para fortalecer a base aliada do governo.

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