Eleição e impeachment

Os brasileiros foram levados pela mídia a recordar, por esses dias, dois acontecimentos de grande significado na história recente do País: a eleição indireta de Tancredo Neves para a Presidência da República, em 1985, e o congelamento da poupança e depósitos bancários pelo presidente Fernando Collor, cinco anos depois.

A eleição de Tancredo foi a última realizada pelo finado colégio eleitoral, e havia servido para dar um mínimo toque de democracia à indicação pura e simples da quina de generais que, desde o golpe de 1964, presidiu o País.

Operado na madrugada anterior ao dia da posse na presidência, Tancredo acabou substituído pelo vice José Sarney, que renunciara à presidência do PDS (partido sucessor da Arena), por causa da insistência de Paulo Maluf em disputar a eleição.

A Nova República sonhada por Tancredo e Ulysses – extraordinário anseio da sociedade – caiu no colo de José Sarney, Antônio Carlos Magalhães, Marco Maciel, Jorge Bornhausen e companhia bela.

O cenário para a eleição de Collor, queira-se ou não, teve grande respaldo desses mesmos políticos. No auge da crise do impeachment, com exceção de Sarney, todos os demais assumiram a posição de condestáveis do reino, transformando-se em convictos defensores da governabilidade, a quintessência do gênio político brasileiro.

Esse confisco de valores financeiros foi a medida mais estapafúrdia, de quantas a série de frustrados planos econômicos impôs. O único tiro para eliminar a inflação acertou alvo errado, a poupança popular.

O punhal ficou cravado até aquela manhã luminosa de Brasília, quando o presidente recebeu e cumpriu a ordem de despejo do Palácio do Planalto. Com a ensaiada altivez que sempre ostentou, no melhor figurino do Rei de Túnis.

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