Eleição e desilusão

Este é um imenso País de população numerosa, porém com precária capacidade de entendimento. Temos uma proporção grande de analfabetos e outra maior de analfabetos funcionais. Não são poucos os brasileiros que, formalmente, sabem ler e escrever, porém falta-lhes a capacidade de entender. Os que se dedicam ao setor de ensino sabem disso. Tão preocupantes realidades geram estudos e mais estudos, mas nenhuma solução a curto ou a médio prazo. E a longo prazo todos estaremos mortos, como dizia o ex-ministro Delfim Neto.

Este é um ano eleitoral e os mais letrados e informados surpreendem-se com os resultados das pesquisas de opinião pública, que são contraditórios. As grandes massas não conhecem os candidatos para fazer escolhas. Sabem apenas quem é Lula e pouco se preocupam com as acusações que sobre seu governo e ele próprio pesam, pois isso não é decisivo num País em que, eleição após eleição, as decepções se sucedem e os governos desonestos mais parecem regra do que exceções.

No mais, inexistem partidos políticos como organizações ideológica e programaticamente identificáveis. Tanto faz votar em um candidato desta ou daquela legenda. A escolha é lotérica e acerta uma minoria. Um candidato de esquerda pode ser um conservador direitista e vice-versa. E um e outro não têm programas de governo e, se têm, nem os apresentam. Prometem às pampas, dizem que vão fazer isto e aquilo, mas nenhum explica de forma compreensível e aceitável como fará.

Temos, no momento, dois candidatos à Presidência da República que parecem vieram para valer. O próprio presidente Lula, que deseja a reeleição, e Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo. Aquele tem uma longa carreira que sempre foi mais de líder sindical e de militante de esquerda; e este, de administrador à sombra de seu amigo, o falecido governador de São Paulo Mário Covas. Covas representava o que havia de melhor na política brasileira, mas este País é tão grande e a desinformação tão disseminada que nem ele poderia ser considerado um nome nacional popularmente conhecido. Quanto mais seu vice, Alckmin, que veio a assumir o governo de São Paulo.

Assim, o povo não está em condições de escolher o melhor e, como o candidato oposicionista, mesmo que bom, ainda é um ilustre desconhecido, resta Lula, popular e mais popular ainda, face aos escândalos que envolveram o seu partido e o seu governo, tão complexos que escapam ao entendimento das grandes massas. Quem vai ganhar as próximas eleições, o futuro dirá. Mas não dirá que estamos dando os primeiros passos para a construção de uma verdadeira democracia, em que todo o povo esteja em condições de escolher esclarecidamente seus governantes. Para tanto, seria essencial primeiro uma profunda reforma política, que não só moralizasse o processo de escolha dos governantes, mas que oferecesse ao eleitorado uma idéia clara, via programas e ideologias, dos partidos e coligações e do que deles poderá ser esperado se assumirem o governo. Como está, é mais fácil escolher por sorteio.

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