Wal-Mart se volta para a baixa renda

Investimento nas classes de baixa renda. Este deve ser o principal foco da rede de supermercados Wal-Mart, que detém nove bandeiras em 313 unidades em todo o País, nos próximos anos. A rede anunciou no final do ano passado 36 novas lojas em todo Brasil com investimentos de R$ 1,2 bilhão.

Ainda não há cronogramas de entrega dos novos supermercados e a empresa não divulga os locais onde serão implantados. Entretanto, o presidente do Wal-Mart Brasil, Hector Núñez, afirmou ontem em São Paulo que a empresa pretende ampliar com maior ênfase a rede popular, voltada para as classes de consumo C, D, E. O Paraná tem atualmente 40 lojas da rede, sendo apenas duas de bandeira popular. O Estado vai entrar no cronograma de ampliação nos próximos anos.

?As bandeiras Todo Dia e Maxxi (supermercados populares da rede) terão um percentual mais preponderante na expansão?, limitou-se a dizer Núñez. Ele explicou que por questões estratégicas o Wal-Mart não pode divulgar em quais cidades serão as novas lojas e nem quais serão as bandeiras. O presidente da rede no Brasil afirmou que hoje o setor popular representa pouco menos de 10% do faturamento da empresa e, apesar de também preferir não citar números, garantiu que o plano da rede é aumentar significativamente este percentual.

Ontem aconteceu em São Paulo o Fórum Wal-Mart de Varejo. Especialistas em baixa renda e executivos da empresa do Nordeste do País, da América Central e do México trouxeram as experiências bem-sucedidas das redes populares.

A rede popular do Wal-Mart tem sua concentração principal em dois estados nordestinos. O vice-presidente de operações Nordeste do Wal-Mart Brasil, Marcos Ambrosano, lembrou que nos próximos anos o Brasil deve dobrar o número de pessoas que se enquadram nas classes C, D, E. Atualmente, segundo ele, aproximadamente de 60 milhões de pessoas no País se enquadram nesta faixa e até 2015 este número deve chegar a 120 milhões. ?Cerca de 70% dos consumidores no Brasil hoje são de baixa renda. E é um mercado em crescimento?, afirmou. Entre as características destas lojas com preços mais baixos estão a diminuição dos custos com construções mais simples, menos funcionários, investimentos em marcas específicas ou próprias e localização em áreas populosas.

É preciso conhecer o interesse do consumidor

Especialista renomado em baixa renda e autor do livro Capitalismo na Encruzilhada, o professor da Universidade Cornell (EUA), Stuart Hart, defende que as grandes empresas devem se aproximar das comunidades mais pobres para saber como devem investir. ?As empresas têm que partir da premissa que devem vender não só que eles precisam, mas o que eles querem. E para isso é preciso primeiro conhecer essa população?, afirmou.

Hart contou experiências bem sucedidas de empresas que se inseriram na comunidade antes de tentar vender um produto no local. Assim, segundo ele, é possível ver primeiro as necessidades dessas pessoas e integrá-las em projetos que ajudem a desenvolver o que precisam e depois introduzir o produto. ?É preciso trazer os dois juntos?, explicou. Para o professor deve funcionar mais ou menos como antes da Revolução Industrial, quando a comunidade decidia o que precisava consumir e não o contrário.

A teoria do professor chama-se Protocolo da Base da Pirâmide. Isto é, um sistema voltado àqueles que estão na base da pirâmide social e criado com base nas necessidades dessas pessoas. E ele chama atenção para o crescimento das camadas da população que compõem as faixas de baixa renda. ?Atualmente temos 4 bilhões de pessoas no mundo do total de 6 bilhões têm baixa renda. Destas 1,5 bilhão vivem em favelas?.

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