Varig será dividida em duas e vai a leilão

Em um cenário muito parecido ao usado pelos funcionários da Panair protestarem pela imposição de sua falência pela ditadura, na década de 60, os credores da Varig aprovaram ontem o plano de venda da companhia. Mais de 700 pessoas lotaram um hangar no aeroporto Santos Dumont e referendaram a venda da empresa, integralmente ou com as operações doméstica e internacional desmembradas.

Neste último caso, a marca Varig, com 79 anos de história, poderá desaparecer, já que caberá ao comprador (cogita-se empresas aéreas nacionais), decidir se a usará, se vai extingüi-la ou se fará uma mistura de bandeiras. Demissões só serão decididas após o leilão de venda, que deve ocorrer em 60 dias.

A atual administração da Varig será trocada em dez dias, revelou Marcelo Gomes, diretor da consultoria Alvarez & Marsal, responsável pelo processo de recuperação da empresa.

"Serão profissionais do mercado", afirmou. Ele mesmo é cotado para substituir o atual presidente, Marcelo Bottini. Mas outro nome, relata uma fonte próxima às negociações, também está no páreo. Trata-se do ex-presidente da Varig, Manuel Guedes, que negou a sondagem.

O prazo para a mudança de direção respeita o tempo necessário para a criação do principal meio de reestruturação acionária da Varig, que é o Fundo de Investimento em Participações (FIP) controle.

Esse instrumento financeiro vai distribuir cotas aos credores interessados. Essas cotas, que funcionarão como moeda de troca, poderão ser negociadas pelos credores com o futuro investidor.

Assim que for criado, o FIP controle vai receber 87% das ações da Fundação Ruben Berta (FRB), acionista majoritária da Varig. O mínimo de participação que a FRB vai ter no FIP é de 5,26%. A Varig será oferecida ao mercado nos próximos 60 dias de duas formas.

Na primeira, batizada de Varig operacional, ela poderá ser arrematada em leilão judicial com as rotas nacionais e internacionais, pelo preço mínimo de US$ 860 milhões.

Nessa hipótese, prevê-se ainda a separação da parte comercial, chamada de "Varig relacionamento", que inclui toda a parte de serviços (serviços aeroportuários, Smiles, suporte técnico etc) e que herdará o passivo de R$ 7 bilhões, segundo consta nos autos da recuperação judicial. Essa proposta foi elaborada pelo Trabalhadores do Grupo Varig (TGV), que reúne cinco associações de empregados.

Outra forma de vender a Varig , elaborada pela Alvarez & Marsal, é assumir apenas suas rotas domésticas. Conhecida como Varig regional, essa proposta, avaliada pelo preço mínimo de US$ 700 milhões, inclui a criação de uma empresa voltada apenas para a operação internacional, que assumiria as dívidas, mas que poderia ser negociada numa segunda etapa.

Essa modelagem só será considerada no leilão judicial caso não haja oferta pela operação integral da Varig, ou se algum investidor oferecer mais pela parte doméstica do que pela operacional.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai emprestar US$ 100 milhões ao investidor que tiver interesse em investir na Varig, o que corresponde a 14,29% do preço da Varig operacional e 11,63% da regional.

Ontem, Gomes chegou a informar que o banco divulgaria a modelagem da operação "nas próximas 24 horas", mas a instituição informou que precisava estudar a proposta aprovada, o que poderia exigir mais de 24 horas. "O apoio do governo é importante por meio do BNDES", afirmou.

Voltar ao topo