Vale reajusta minério de ferro em 71,5%

A Companhia Vale do Rio Doce concluiu as negociações para o reajuste do preço do minério de ferro em 2005 com a Nippon Steel Corporation, a maior siderúrgica do Japão. O minério de ferro fino de Carajás e o do Sistema Sul sofrerá aumento de 71,5%. A empresa ainda tem inúmeros contratos que não foram fechados, mas, historicamente, o preço do primeiro contrato firmado serve como referência para o setor.

A negociação do minério de ferro ganhou relevância este ano após o forte aumento dos preços do aço em 2004. Usado como insumo pelas siderúrgicas, o minério de ferro acumulou alta de 25% no ano passado. O aço chegou a subir cerca de 60%, segundo dados da FGV (Fundação Getúlio Vargas), e o impacto foi de tal magnitude que se chegou a falar em um ?choque do aço?.

Durante as negociações, representantes de siderúrgicas chegaram a enviar uma carta aos ministros Antônio Palocci (Fazenda) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento). O objetivo inicial da Vale era reajustar o preço do minério em até 90%.

A reclamação é de que um aumento do minério neste patamar levaria a uma nova rodada de aumentos do aço, além dos impactos sobre a inflação. No ano passado, o impacto do aço pôde ser medido também em produtos como automóveis. O problema poderia repercutir não só nos índices de preços como também dar sustentabilidade à política de aumento dos juros adotada pelo Banco Central nos últimos seis meses.

A Vale afirma em nota que a magnitude do aumento dos preços este ano reflete a situação de ?desequilíbrios sem precedentes nos mercados de metais e fretes marítimos?, que contribuíram para elevar os preços dos produtos e serviços nos dois últimos anos.

A empresa destaca os investimentos previstos para este ano em produção e logística do minério de ferro, apesar dos custos crescentes. O orçamento prevê investimentos de US$ 1,7 bilhão na área de minerais ferrosos. Seis projetos de ampliação da capacidade de produção de minério de ferro estão em andamento.

Segundo o coordenador de Análises Econômicas da FGV, Salomão Quadros, o aumento não deverá interferir na tendência de desaceleração dos IGPs. Isso porque o potencial de elevação do aço desta vez deverá ser menor. Com o aumento da demanda chinesa, as usinas encontraram um mercado propício a elevações de preços, mas agora a pressão parte do insumo.

Inflação

O aumento no minério de ferro anunciado pela Companhia Vale do Rio Doce para as vendas ao Japão poderá resultar num reajuste de até 25% no preço do aço, segundo estimativas de representantes da indústria. Para analistas de inflação e fabricantes de eletrodomésticos, pode haver impacto na inflação.

O aumento pode desencadear ?ajustes finos? nas estimativas de inflação para o ano, avalia a analista Basiliki Litvac, da MCM Consultores.

Para o setor de autopeças, a elevação de custos poderá ser de 7,1%. A estimativa é do presidente da fabricante de motores para caminhões Cummins Latin America, Ricardo Chuahy. O executivo diz que o cálculo leva em conta a hipótese de as siderúrgicas repassarem integralmente o reajuste negociado com a mineradora. Caso isso ocorra, o impacto para a Cummins gira em torno de 10% do valor negociado entre a Vale e as siderúrgicas.

Anfavea vai aguardar resultados

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) não se pronunciou sobre as conseqüências do aumento de 71% no preço do minério de ferro anunciado ontem pela Companhia Vale do Rio Doce. O minério é o principal insumo do aço, uma das matérias-primas dos automóveis. A entidade que reúne as montadoras informou que vai aguardar os resultados do reajuste na cadeia.

Em recente relatório, a Anfavea informou que os preços do aço para o setor automotivo aumentaram 160% entre 2002 e 2004. Em 2002, o aço respondia por 15% do custo industrial médio de um veículo. Atualmente, responde por 33% do custo, de acordo com a Anfavea.

Em fevereiro, a entidade enviou, junto com outras nove associações representantes de setores usuários do aço, um documento ao governo federal reclamando dos sucessivos aumentos do insumo. O documento foi enviado aos ministros da Fazenda, Antônio Palocci, e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Luiz Fernando Furlan. Além disso, o MDIC encomendou um amplo estudo para levantar quais os índices reais de preços aplicados pelas siderúrgicas e os que foram efetivamente pagos pelas montadoras. O estudo deve ser divulgado em março.

As montadoras têm repassado, desde o ano passado, uma parte do aumento de custos para o preço dos veículos, com reajustes médios de 2% a cada dois ou três meses. O carro zero quilômetro ficou em média 14,6% mais caro em 2004, conforme estudo feito pela Agência AutoInforme.

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