União Européia quer acordo com Brasil, fora do Mercosul

Genebra (AE) – A União Européia (UE) quer estabelecer um acordo com o Brasil para criar um mecanismo de diálogo para assuntos políticos, como segurança internacional, desenvolvimento, meio ambiente, terrorismo e democracia. Fontes em Bruxelas confirmam que a proposta já foi aprovada pelos países da UE e agora está sendo debatida com o governo brasileiro. Os europeus teriam tomado a iniciativa de propor o novo acordo bilateral diante da falta de resultados concretos das cúpulas entre a América Latina e a Europa realizadas desde 1999, além dos poucos avanços nas negociações entre o Mercosul e a UE.

Para o Brasil, porém, o mecanismo pode criar uma saia-justa com seus vizinhos. Isso porque no acordo que se negocia entre o Mercosul e a Europa, um dos três pilares do entendimento é um capítulo político que trataria de assuntos semelhantes aos que os europeus agora sugerem lidar diretamente com o Brasil. Os outros pilares são o acordo de cooperação e de comércio.

Ao fechar o entendimento bilateral, portanto, o Brasil estaria de certa forma driblando o Mercosul, pelo menos no que se refere ao capítulo político. O governo já criticou outros países, como o Uruguai, por iniciar negociações comerciais com os Estados Unidos sem a participação do restante do Mercosul.

Fontes no Itamaraty admitem que o acordo pode deixar os demais países do bloco sul-americano irritados e gerar suscetibilidades na região.

Mas, para os formuladores da política externa brasileira, a existência do Mercosul não impediria que o Brasil se aproximasse bilateralmente da Europa em assuntos políticos.

Para os europeus, a iniciativa tem como objetivo estabelecer o Brasil como um ?interlocutor privilegiado? na região. Hoje, Bruxelas já consulta o Itamaraty com certa freqüência sobre a situação na Venezuela e na Bolívia diante das medidas de nacionalização de recursos naturais.

A iniciativa dos europeus ainda vem em um momento em que Bruxelas constata que as cúpulas entre os dois continentes têm gerado pouco resultado concreto. A primeira delas ocorreu em 1999, no Rio de Janeiro, e reuniu presidentes de todos os países europeus e latino- americanos. Mas, nas edições seguintes, os encontros acabaram sendo marcados por questões pontuais. Em maio de 2006, na última edição da cúpula, o encontro realizado em Viena acabou dominado pela polêmica decisão da Bolívia de nacionalizar o gás e petróleo e pelas declarações do presidente venezuelano, Hugo Chávez, que foi acompanhado por uma comitiva de 100 pessoas.

Diante dessa situação, diplomatas europeus estimam que o projeto de criação de um mecanismo de diálogo político com o Brasil deva ser acelerado em 2007. Isso porque os alemães presidem o bloco europeu até julho e querem avançar no debate com o Brasil. Já no segundo semestre do ano, a UE será presidida por Portugal, outro país que quer ver um avanço nas negociações com o Brasil.

Para tentar amenizar o impacto do acordo na América do Sul, o governo brasileiro não quer nem mesmo que os europeus utilizem um nome pomposo para o entendimento. A UE classifica Índia, China, Estados Unidos, Rússia e Canadá como ?sócios estratégicos?, título que ainda não deverá ser dado ao Brasil.

Nada disso, porém, significa um avanço ainda nas negociações comerciais entre o Mercosul e a UE. O governo brasileiro ainda não confirma a realização de uma reunião do final de janeiro em Bruxelas entre os dois blocos para tentar tirar o processo de uma paralisia em que se encontra desde 2004.

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