TV digital brasileira terá padrão japonês

Foto: Agência Brasil

Lula: fortalecendo política industrial e tecnológica.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou ontem, em cerimônia no Palácio do Planalto, o decreto que regulamenta a escolha do padrão japonês para a TV digital brasileira. O padrão é o preferido das emissoras de televisão brasileiras. A escolha, no entanto, gerou críticas dos representantes dos padrões americano e europeu, que afirmam que a decisão isola o Brasil, afasta investimentos e reduz o potencial de geração de empregos.

O acordo prevê o uso de tecnologia japonesa com a incorporação de inovações desenvolvidas por pesquisadores brasileiros. Entre essas inovações estão o sistema de compressão de vídeo (MPEG-4), o sistema operacional (middleware) e aplicativos (softwares, por exemplo), que seriam agregados ao sistema de modulação japonês no Brasil. Também haverá financiamento do JBIC (banco japonês de fomento) para a implantação da TV digital no Brasil e uma proposta de trabalho conjunto para viabilizar a modernização da indústria eletrônica brasileira.

Sobre a instalação de uma fábrica de semicondutores (chips) no Brasil, o documento trata de um compromisso de formação de mão-de-obra especializada e criação de condições no País que viabilizem a implantação dessa indústria.

As primeiras transmissões da TV digital deverão começar por São Paulo, mas o prazo para que isso ocorra vai depender das próprias emissoras de TV. Para implementarem a TV digital, as redes receberão um novo canal, com 6 MHz (intervalo do espectro idêntico ao atual), para fazer a migração de um sistema para o outro.

As redes de TV serão obrigadas a usar todo o espectro, sob pena de perderem o direito à freqüência, de acordo com regras que serão definidas pelo Ministério das Comunicações.

A idéia é incentivar a multiprogramação (o espectro permite a transmissão de até quatro canais) quando as emissoras não estiverem transmitindo em alta definição (de qualidade superior, que ocupa uma faixa maior do espectro).

Mudanças

A partir do início das transmissões em sinal digital, o consumidor não terá que comprar imediatamente um aparelho novo de TV. Ele terá de instalar apenas um adaptador ou caixa de conversão. O sinal analógico, entretanto, continuará sendo transmitido nos próximos 10 anos.

?Este é um projeto destinado a todos os brasileiros, afirmou o ministro das Comunicações, Hélio Costa, durante a cerimônia.

De acodo com o decreto, as emissoras de TV abertas receberão automaticamente um canal digital e terão prazo de 18 meses para iniciar as transmisssões. Em sete anos, essas emissoras terão que garantir o serviço em todo o território brasileiro e, em dez anos, o sinal analógico deixará de ser transmitido.

Para a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), que representa as emissoras de radiodifusão no Brasil, o modelo escolhido tem vantagens em relação aos modelos europeu e americano, adotados por outros países, principalmente quando se trata de mobilidade.

O presidente da Abert, José Inácio Pisani, disse que o novo modelo vai garantir ao cidadão brasileiro a boa qualidade de transmissão.

Tecnologia escolhida isola o Brasil no Mercosul

Buenos Aires (AE) – A escolha pela tecnologia japonesa para a TV digital (ISDB) ?isola o Brasil dos demais países do Mercosul?, na opinião do gerente técnico de um dos principais canais de televisão da Argentina, Canal 13, o engenheiro Eduardo Bayo. ?Será pouco provável que nosso país ou os outros vizinhos acompanhem o Brasil em seu sistema?, afirmou. Tanto na Argentina quanto no Chile, ?as discussões estão avançadas e as normas mais consideradas são as norte-americana e européia?.

A opinião de Bayo é semelhante ao do embaixador argentino no Brasil, Juan Pablo Lohlé, que recentemente publicou um artigo opinando que ?se cada um opta por uma norma, estaremos mostrando uma visão diluída de nosso processo de integração?. Na Argentina o sistema japonês parece não ter grandes defensores. O Canal 13 transmite os jogos da Copa da Mundo pelo sistema digital dos Estados Unidos (ATSC), assim como sua concorrente, a Telefe (Canal 11).

Com a maioria de seu capital argentino, o Canal 13 vem utilizando a norma americana desde 1998, quando o governo de Carlos Menem determinou, por decreto, que essa seria a tecnologia da TV digital argentina. A Telefe, do grupo Telefónica, da Espanha, também havia adotado o sistema dos Estados Unidos em suas transmissões digitais.

Mas em outubro do ano passado, quando o governo de Néstor Kirchner decidiu rever o assunto e revogar o decreto, a Telefe recebeu a ordem de converter seu sistema ao europeu (DVB). Agora as duas principais emissoras de televisão aberta do país defendem sistemas diferentes. O Canal 13 prefere o ATSC enquanto que Telefe, o DVB. Nenhuma delas optaria pelo japonês, disse Bayo.

?Temos uma proposta do sistema japonês puro, mas seus custos são mais altos e não nos interessa, muito menos uma proposta de um sistema misturado, como o que parece propor o Brasil?, disse o engenheiro do 13. O Ministério de Planejamento e a chefia de gabinete da presidência criaram uma comissão técnica para estudar o assunto e avaliar as três propostas recebidas para a implantação da TV digital no país.

 

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