Turbulências políticas afetam mercado

São Paulo (AG) – As incertezas do cenário político aumentaram a cautela do investidor e levram a uma maior procura por dólares. Com isso, o dólar à vista fechou em alta de 0,94% ontem, cotado a R$ 2,448 na compra e R$ 2,450 na venda. A moeda americana chegou a subir 2,18%, em repercussão a denúncias contra o PT feitas pelo presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson (RJ).

O mercado de ações teve uma onda de ordens de venda, por conta do temor de um agravamento da crise política. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou em queda de 3,07%, em resposta às denúncias de pagamento de propina a parlamentares aliados em troca de apoio ao governo nas votações. O Índice Bovespa terminou o dia aos 25.556 pontos. O volume financeiro na Bovespa foi de R$ 1,479 bilhão.

?Os analistas estavam esperando uma correção que levaria o Ibovespa aos 25.200 pontos, mas não em um único pregão. Esse patamar foi atingido no período da tarde, mas o mercado reagiu e fechou acima dos 25.500 pontos?, disse Maurício Gallego, gestor de renda variável da Corretora Concórdia.

Ele afirma que o cenário político foi o principal motivo das vendas, mas afirma que a semana ainda deve reservar informações importantes, como os índices de inflação. Há ainda os rumores sobre a permanência de Hen-rique Meirel-les na presidência do Banco Central, que na semana pas-sada chegaram a agitar os negócios. Na próxima semana acontece a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), outro fator importante para o mercado de ações.

?O ambiente é de incerteza, porque ainda não se sabe qual o desfecho que o caso terá. Também não se sabe como o investidor estrangeiro vai reagir e, principalmente, qual a atitude que o governo vai tomar. No curto prazo, é difícil o dólar voltar a cair?, disse Alexandre Sant?Anna, analista da ARX Capital Management.

Uma vez superada a crise, no entanto, o analista acredita que a tendência do dólar ainda é de baixa. Ele ressalta o bom desempenho da balança comercial, que nos três primeiros dias de junho teve superávit de US$ 668 milhões, levando o acumulado do ano para US$ 16,3 bilhões.

Honestos pagam juros altos pelos desonestos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva evitou falar sobre as recentes denúncias envolvendo o governo e preferiu comentar sobre o desempenho econômico do país. Ao participar, ontem, do lançamento de um programa da CEF (Caixa Econômica Federal) que concede empréstimos a juro baixo para a população de baixa renda, Lula afirmou que a taxa de juros no Brasil é alta ?porque as pessoas honestas pagam pelas desonestas.? ?Isso é a coisa mais absurda do mundo?, disse.

Lula discursou para uma platéia de funcionários da Caixa e para costureiras que fazem parte do programa, que concede empréstimos a taxas de juros mais baixo para população de baixa renda.

O presidente entregou a primeira máquina de costura financiada para este programa. A beneficiada vai pagar um empréstimo a uma taxa de juros de 2% ao mês por um prazo de pelo menos dez meses.

Críticas

Para Lula, a Caixa Econômica Federal ainda deve trabalhar para reduzir a taxa atual. Em uma menção isolada à questão política, o presidente voltou a criticar seus antecessores por não terem já concretizado esse programa de crédito.

?Esse pequeno ato é uma demonstração de algumas coisas que poderiam ter sido feitas no Brasil, há 15, 20 anos. É por isso que nós estamos sempre trabalhando com muitos anos de atraso. Para fazer as coisas que se tivessem sido feitas há dez anos, nós estaríamos discutindo neste momento outra coisa.? Segundo o presidente, se esse programa de crédito tivesse sido realizado há mais tempo, ?talvez hoje, estaríamos competindo com a China?.

Embora pesquisas de opinião pública apontem uma queda na taxa de aprovação de seu governo, Lula demonstrou que ainda que tem muita popularidade junto às camadas de baixa renda. Antes de iniciar seu discurso, ele desceu do palco e cumprimentou as mulheres que estavam próximas.

Meirelles minimiza baixo crescimento econômico

Goiânia (AE) – O fraco crescimento da economia brasileira no início do ano não deve ser visto como um problema para o País, segundo o presidente do Banco Central, Henrique Meirel-les. Durante evento em Goiânia, ontem, para discutir uma agenda de desenvolvimento para Goiás – Estado que pretende governar – Meirelles reforçou o discurso do governo de que a economia está em ótima situação e vem crescendo há oito trimestres consecutivos.

?Isso é o que tem que ser enfatizado?, ressaltou para uma platéia formada por políticos locais e representantes de associações de classe, todos sob o impacto das declarações do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) sobre o pagamento de ?mesada? para deputados apoiarem o governo.

?A divulgação do PIB causou muita preocupação. O crescimento de 0,3% no primeiro trimestre não significa um problema para o País. Estamos numa situação especial no Brasil?, disse, destacando em seguida que há momentos em que o crescimento é mais acentuado do que em outros e que o nível de atividade não se comporta de forma linear. ?O importante é que a economia segue em ritmo de crescimento sustentado.?

Para ajudar a convencer a platéia, o presidente do BC utilizou uma série de gráficos e tabelas que mostravam a evolução dos principais indicadores da economia. Um dado enfatizado por Meirelles foi o do crescimento da produção industrial. ?A economia brasileira mostra pujança industrial?, afirmou ao apresentar um gráfico que destacava que a produção industrial aumentou 8,3% em 2004 e mantém-se próxima ao nível máximo registrado. Segundo o presidente do BC, os dados recentes que apontam uma queda na utilização da capacidade instalada da indústria é uma boa notícia ?porque significa que está havendo elevação dos investimentos para continuarmos crescendo?.

Os resultados recentes das vendas no varejo foram apresentados pelo presidente do BC como outro sinal de que o aumento do nível de atividade é sustentável. ?Nos últimos 21 meses, as vendas tiveram desempenho positivo em 15 meses. O que mostra uma tendência inequívoca de crescimento?, afirmou.

Normalmente sorridente e bem à vontade quando participa de eventos públicos em Goiás, o presidente do BC parecia incomodado e, em alguns momentos, deixou a impressão de ter se perdido no raciocínio.

Meirelles deu ênfase à melhora verificada nas contas externas brasileiras, na queda da dívida pública e em indicadores que confirmam a redução da vulnerabilidade externa do Brasil, como a relação entre o total pago de juros pelo governo e o volume exportado. ?É uma medida importante porque chegamos a usar 35% das exportações para pagar juros. Estávamos vulneráveis e, cada vez que o mercado internacional pegava uma gripe, a gente podia pegar uma pneumonia?, comparou.

O discurso não convenceu alguns dos presentes. Ao final da palestra, alguns participantes reagiram com ironia: ?Depois dessa palestra, vocês ficaram mais tranqüilos com relação à economia brasileira??, questionavam entre eles. Ao final do evento, o presidente do BC não quis falar com a imprensa. Retirou-se rapidamente.

Só 35% acham que economia vai melhorar

Apenas 35% dos brasileiros acima de 16 anos acham que a economia vai melhorar. Outros 43% acreditam que tudo continuará como está e 18% enxergam piora no horizonte. Esses são os principais números sobre perspectivas da economia de pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha nos dias 31 de maio e 1.º de junho, com 2.532 pessoas, em 151 municípios e em todas as unidades da Federação. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

Todos os indicadores econômicos do levantamento apontam para uma deterioração do humor das pessoas. Essa queda de esperança é clara quando se comparam os números atuais com os de dezembro último. O Datafolha fez uma pesquisa nos dias 14 a 17 daquele mês: 48% dos pesquisados achavam que a economia iria melhorar. De lá para cá, a queda nesse grupo de otimistas foi de expressivos 13 pontos percentuais.

A percepção do estado da economia descreve uma curva muito semelhante, até igual, muitas vezes, à da popularidade do presidente da República. Hoje, segundo o Datafolha, 35% dos brasileiros aprovam o governo Lula – é o mesmo percentual dos que acreditam em melhoras econômicas daqui para a frente.

Esse percentual também fica na vizinhança dos 36% que consideram o desempenho de Lula na economia ?bom? ou ?ótimo?. Curiosamente, quando apresentados a uma lista de setores para dizer onde o presidente petista está se saindo melhor, só 7% cravam a ?economia?.

O desânimo dos pesquisados no que se refere ao país é amenizado em parte pela esperança que têm para si próprios. Quando o Datafolha pergunta se a situação econômica pessoal da pessoa abordada vai melhorar, o percentual de respostas positivas é de 43% – um patamar mais alto do que os 35% que vislumbram melhorias para o país. Ainda assim, uma má notícia: em dezembro, 65% dos brasileiros diziam esperar melhora na sua situação econômica pessoal. A queda foi brutal de lá para cá, de 22 pontos.

Esse desencanto também se reflete no item mais objetivo de todos: o poder de compra dos salários vai aumentar ou diminuir? Para só 26% haverá aumento. Como contraste, em dezembro eram 39% os que sonhavam com um aumento real do poder de compra. A queda foi de 13 pontos.

Somados os que acreditam que haverá redução do poder de compra (34%) aos que avaliam que tudo ficará como está nos salários (35%), a maioria dos brasileiros acima de 16 anos está mais pessimista do que Lula.

Nordeste mais otimista

Assim como na avaliação de seu governo, é o Nordeste que segura a barra para que não sejam muito ruins os indicadores de percepção econômica. Entre os nordestinos, 41% acreditam que a economia do país vai melhorar nos próximos meses. Esse percentual cai quase pela metade, para 24%, quando o Datafolha faz suas entrevistas nos estados do Sul do país (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná).

Já no Sudeste, onde estão os estados mais ricos e populosos, o percentual de otimistas é de 33%, próximo da média nacional de 35%. No Norte e no Centro-Oeste, há 38% vislumbrando recuperação econômica.

Como era de esperar, são os petistas os maiores otimistas com a política econômica, embora essa questão esteja longe de ser um consenso entre eles: 57% acham que o país crescerá mais, só 9% enxergam piora pela frente e 31% acreditam numa estabilidade do quadro.

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