Sacrifício decidido. Só falta definir a data

O resultado da votação do Conselho Estadual de Sanidade Agropecuária (Conesa) sobre o sacrifício dos animais da Fazenda Cachoeira, determinada como foco de febre aftosa pelo Ministério da Agricultura, não fugiu ao esperado. Por 17 votos contra um, com cinco abstenções, ficou definido que as 1.800 cabeças de gado serão mortas e enterradas nas duas áreas da fazenda indicadas pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP). A decisão, segundo as normas da Organização Mundial de Saúde Animal, possibilitará a normalização da exportação de carne em um período de seis meses, a partir do sacrifício, que só será definido após uma série de resoluções administrativas do Ministério da Agricultura.

Apesar de a maioria dos membros do Conesa ter votado a favor do sacrifício dos animais, a reunião realizada no anfiteatro da Secretaria Estadual da Agricultura e Abastecimento (Seab) teve um tom de protesto contra o Ministério da Agricultura, já que em m omento algum foi comprovado através de exames a presença do vírus nos animais no Paraná. A cada voto favorável, uma ressalva: aceitar o sacrifício foi a única maneira encontrada de acelerar o processo de recolocar o Paraná na área de livre mercado da carne.

?Tentamos de todas as maneiras, em diversas reuniões, fazer o Ministério da Agricultura retroceder na decisão. Continuamos discordando da definição do foco, mas vamos acatar o que a maioria decidir?, afirmou o secretário da Agricultura e Abastecimento, Orlando Pessuti, antes de abrir a sessão. Foi dele, inclusive, um dos cinco votos de abstenção.

A reserva à decisão era tanta que um dos momentos mais marcantes da reunião foi o pronunciamento da diretora-presidente da Ceasa, Jane Stenareski. Médica veterinária, ela se disse constrangida em ter que escolher entre sacrificar os animais ou abatê-los em frigorífico. ?Voto pela segunda opção pelo simples fato de considerar inconcebível sacrificar animais saudáveis, como veterinária. Fica o protesto veemente contra o Ministério da Agricultura e que ele arque com todas as conseqüências dessa indicação de foco.?

Questionamentos

O Ministério da Agricultura afirma que o vírus foi detectado na fazenda por meio de exames de sangue, que apontaram alterações sorológicas em 209 novilhas adquiridas em Eldorado (MS). Partindo deste pressuposto, foi determinada vinculação epidemiológica do rebanho afetado, pois na região de origem do rebanho foram confirmados 28 focos da doença.

O governo do Paraná, por sua vez, questionou esse diagnóstico apontando para o resultado negativo de mais de 90 amostras do rebanho tido como contaminado, examinadas por meio do exame Probang, que permite o isolamento do vírus. ?Ainda restam 74 amostras a serem analisadas e estamos cobrando uma atitude do Ministério da Agricultura. Também não obtivemos respostas quanto ao acompanhamento direto dos exames?, afirma Pessuti.

Histórico

O drama da febre aftosa começou com a confirmação do foco na Fazenda Bonanza, em Eldorado, no Mato Grosso do Sul, no dia 10 de outubro. Tão logo tomou conhecimento do caso, a Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento reforçou as barreiras sanitárias na região. Porém, como animais do Mato Grosso do Sul haviam participado da Eurozebu, de 1.º a 9 de outubro, em Londrina, ficou o alerta, já que vários animais foram adquiridos provenientes daquele estado.

No dia 21 de outubro veio a suspeita de contaminação de 19 cabeças de gado, distribuídas em quatro propriedades nas regiões oeste e norte. Destes animais, três estavam em Loanda, três em Amaporã, um em Maringá e doze em Grandes Rios. Os exames da sorologia desses animais deram negativo, porém pouco mais de um mês depois, a Fazenda Cachoeira, situada em São Sebastião da Amoreira, a 47 km de Cornélio Procópio, entrou na lista de propriedades suspeitas. No dia 6 de dezembro, mesmo sem exames científicos realmente conclusivos, o Ministério da Agricultura determinou a propriedade como foco.

Após várias tentativas de retrocesso na decisão, com diversas reuniões, a Seab decidiu convocar a reunião extraordinária que aconteceu ontem, quinze dias depois da convocação, conforme rezava o regimento do Conesa. Ontem, após a angústia dos quinze dias de espera pela votação, o conselho aprovou o prazo de 48h para reuniões extraordinárias.

Proprietário da fazenda diz que vai recorrer à Justiça

A trégua entre a Secretaria Estadual da Agricultura e Abastecimento (Seab) e o Ministério da Agricultura pode ser quebrada pelo proprietário da Fazenda Cachoeira, André Carioba. Ontem, após a decisão do Conselho Estadual de Sanidade Agropecuária do Paraná pelo sacrifício dos animais, ele revelou que vai recorrer à Justiça para impedir o ato.

?Não é concebível sacrificar um gado saudável, já que não foi provado o contrário. Os prejuízos que tivemos até agora e vamos ter com o sacrifício são incalculáveis?, disse o pecuarista.

O advogado que representa os direitos de Carioba, Ricardo Jorge Pereira, afirmou que entrou com uma ação cautelar na 3.ª Vara de Justiça Federal, em Londrina, solicitando o impedimento do sacrifício. ?A doença não foi comprovada. Foi uma decisão do Ministério da Agricultura através de análise dedutiva, não científica. Então, como o Conesa pode fazer uma reunião se há concordância de que a doença não existe??, questiona o advogado.

Com duras críticas à decisão do sacrifício, ele compara historicamente a atitude do Ministério da Agricultura. ?Parece que estamos na Idade Média, sob a inquisição.?

Como o advogado ainda aguarda a liminar da Justiça, o secretário da Agricultura e Abastecimento, Orlando Pessuti, reservou-se o direito de não polemizar. ?Ainda não fomos comunicados dessa decisão e espero que não aconteça agora uma guerra judicial?, disse o secretário.

O presidente do Sindicato da Indústria da Carne (Sindicarne), Péricles Salazar, disse que a questão judicial com o proprietário da Cachoeira caberá à Seab e ao Ministério da Agricultura. Aos empresários do setor das carnes, só resta comemorar. ?Uma vez que a decisão do ministério era irreversível, era a única solução. Agora esperamos a recuperação do mercado. A arroba que em outubro custava R$ 61,00, hoje vendemos a R$ 47,00.? (GR)

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