Queda de preços não chega ao consumidor

Rio (AG) – Com o aumento da produção e a queda do dólar, a cotação do trigo caiu 15% e a do açúcar outros 20% no mercado atacadista nos últimos meses. Mas o consumidor desfruta pouco destas vantagens nos produtos derivados, principalmente, os de marcas líderes. O pacote de talharim (Adria e Piraquê), por exemplo, está saindo por R$ 2,10 em média. Em 2003 custava cerca de R$ 1,95 nos supermercados do Rio.

– Os mercados do trigo e do açúcar estão calmos. Mas há indústrias não repassando a baixa para compensar os custos mais altos das tarifas e impostos. O governo é que tem feito a inflação – afirma José de Sousa, presidente da Bolsa de Alimentos do Rio.

O pão de fôrma de primeira linha, que variava de R$ 2,70 a R$ 2,90, é oferecido hoje entre R$ 3,10 e R$ 3,40. Nas principais padarias da cidade, o pão francês mantém o preço de R$ 0,30, resultado ainda do peso da alta do dólar em 2002. A pesquisa do IBGE para apuração da inflação pelo IPCA confirma a tendência. Mesmo com a queda do preço do trigo, este ano o macarrão encareceu 0,51%; o pão de fôrma, 1,56%; a massa para lasanha, 3,34%; e o bolo, 3,62%. Só a farinha de trigo baixou: 1,17%.

No caso dos refrigerantes, que têm o açúcar como insumo básico, os preços da marca líder (Coca-Cola) variam entre R$ 2,09 e R$ 2,39 (dois litros). Em 2003 o produto era vendido de R$ 1,79 a R$ 1,95. Na pesquisa do IBGE, o refrigerante está 0,75% mais caro este ano; já o preço do açúcar baixou 17,8%.

José de Sousa diz que, com os custos mais altos de outros insumos, os fabricantes vêm mantendo as tabelas ou reduzindo pouco para não perderem margem.

O comerciário Darcy Carvalho só tem comprado nos dias de oferta. Semana passada fez um estoque de Coca-Cola, em promoção a R$ 2,09 (era R$ 2,29). Mas levou também refrigerantes de marcas alternativas, entre R$ 1,59 e R$ 1,69.

– Todos subiram muito. Para aliviar a conta, o jeito é testar os mais baratos. A gente aprende a gostar – frisou.

Esta gangorra de alta favorecendo o fabricante envolve também produtos básicos com preços influenciados pela safra e entressafra. É o caso do arroz, em plena safra, que baixou pouco para o consumidor. A marca Tio João ainda é encontrada entre R$ 10,50 e R$ 12,50 (5 kg). Há cerca de um ano saía por R$ 8,90.

O mesmo ocorre com a manteiga. Apesar de o preço do leite ter caído de R$ 1 para R$ 0,80 no atacado, há poucas promoções de manteiga nas lojas; as marcas líderes custam de R$ 2,50 a R$ 3,30.

As indústrias dizem que há outros custos ainda pesando nas planilhas – explicou João Carlos Oliveira, presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras).

Trigo deve subir, de novo

Com a boa safra do trigo nacional e a baixa das cotações dos estoques importados, ante a queda do dólar, os preços do trigo recuaram ano passado, após o salto de mais de 80% em 2002. A farinha baixou de R$ 1,90 para R$ 1,30, mas parece que a trégua acabou. Os últimos levantamentos da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), mostram que as tabelas subiram de R$ 450 para R$ 500 a tonelada em duas semanas.

O vilão é o aumento das cotações na Bolsa de Chicago por pressão da demanda. Os produtores argentinos, que garantem a oferta no mercado brasileiro, seguiram a tendência. As cotações passaram de US$ 154 (FOB) para R$ 165. Os moinhos começam a repassar a alta de 7%, que poderá anular as vantagens obtidas com o crescimento da produção nacional para 5,5 toneladas. Com o argumento da queda nas vendas, as indústrias tentam negociar tabelas menores, mas na ponta final o consumidor deve estar preparado para enfrentar novas altas.

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