Produção industrial teve maior queda em um ano

Rio 

– O estrangulamento do mercado interno foi um dos principais fatores que levaram à queda da produção industrial em 3,4% em março (ante fevereiro), a mais expressiva desde maio de 2002, quando a produção do setor caiu 5,3% ante o mês anterior. “Há uma tendência de declínio na produção industrial”, reconheceu Silvio Sales, chefe do Departamento de Indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ao divulgar os números, ontem.

Pela primeira vez, o instituto admitiu que a trajetória industrial está mesmo em queda. Até fevereiro, os técnicos do IBGE acreditavam que o fraco desempenho significava apenas um “soluço na produção”. Na avaliação de Sales, o que tem impedido uma queda maior na produção industrial são os desempenhos dos setores ligados à agroindústria e à exportação.

Na comparação com março de 2002, porém, a produção industrial acumula alta de 0,7%. No acumulado do primeiro trimestre, a produção cresceu 2,5%. No acumulado dos últimos 12 meses até março, a produção industrial subiu 3,5%. Mas esses desempenhos positivos nos resultados acumulados não mudaram a avaliação do IBGE quanto à trajetória de declínio na produção.

Sales considerou que a queda de 3,4% foi influenciada pelo “efeito calendário”, já que o Carnaval este ano caiu em março – o que proporcionou menor número de dias úteis para a indústria. “Mas não foi só o efeito calendário que provocou a queda”, disse.

O economista explicou que isso só intensificou uma trajetória de queda já existente. As altas taxas de juros, o comportamento da inflação e a queda da renda real do trabalhador têm causado recuo na demanda interna. Isso tem afetado negativamente a produção, principalmente do setor de bens de consumo – termômetro do mercado interno.

A situação se agrava no caso dos bens de consumo duráveis, que representam os setores de eletrodomésticos e a indústria automobilística. Sales observou que, em março, todas as categorias de uso apresentaram queda ante o desempenho em fevereiro. É o caso de bens intermediários (0,7%), bens de capital (3,8%), bens de consumo semiduráveis e não-duráveis (5,2%) e bens de consumo duráveis (20,2%). Porém, este último segmento apresentou o pior resultado desde março de 1992, quando o setor teve queda de 23,9% ante o mês anterior.

“Os duráveis são o termômetro da expectativa do consumidor de fazer dívida. Estes bens são normalmente vendidos a crédito”, disse, observando que a alta taxa de juros contribui para esse resultado negativo. “Pode estar havendo excesso de estoques; as indústrias produziram e o consumidor não correspondeu às expectativas”, afirmou.

Em comparação com igual mês do ano passado, os setores de bens de consumo continuaram registrando em março as maiores quedas de produção. O IBGE registrou recuo na produção em três das quatro categorias de uso, como bens de consumo duráveis (16,4%); bens de consumo semiduráveis e não-duráveis (3,1%) e bens de capital (1,91%).

A única taxa positiva no período ficou com o segmento de bens intermediários (3,6%), que representa principalmente os setores ainda dinâmicos, como agroindústria, exportação e extração mineral (que envolve o setor de petróleo). Esta área representa cerca de 60% do resultado da indústria geral no País. “O que tem sustentado a indústria geral é o segmento de bens intermediários”, disse Sales.

Apesar do cenário negativo, uma notícia positiva foi captada pela pesquisa. A indústria de bens de capital está mostrando sinais de produção para substituição de importações, segundo Sales. A produção de bens de capital para a indústria subiu 11% na mesma comparação. Porém, no aspecto geral, a produção de bens de capital continuou negativa em março ( -3,8% ante fevereiro e -1,9% ante março de 2002).

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