Processo de ajuste do setor externo prossegue no início deste ano, diz BC

O chefe do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Tulio Maciel, salientou nesta terça-feira, 23, que o déficit de US$ 4,817 bilhões em janeiro reforça a avaliação de que o processo de ajuste do setor externo prossegue no início deste ano. Ele lembrou que, um ano antes, o rombo das contas externas havia sido de US$ 12,165 bilhões. “O déficit de janeiro deste ano ficou abaixo do que projetávamos um mês atrás”, comparou, citando à cifra de US$ 6,7 bilhões.

De acordo com o técnico, as três contas das transações correntes se destacaram no resultado de janeiro. No caso da balança comercial, houve ganho de US$ 3,5 bilhões na comparação interanual, já que houve déficit de US$ 2,865 bilhões no primeiro mês de 2015 e agora o resultado ficou positivo de US$ 643 milhões.

Na conta de serviços, Maciel enfatizou o ganho de US$ 2,2 bilhões também na comparação interanual, saindo de déficit de US$ 3,602 bilhões para resultado negativo de US$ 1,383 bilhão.

Já na conta de rendas, o ganho foi de US$ 1,5 bilhão, passando de US$ 5,849 bilhões para US$ 4,316 bilhões. Ele lembrou que, no caso desta conta, há uma sazonalidade mais significativa no início do ano por conta de pagamento de bônus semestrais.

Fevereiro

Maciel projetou um déficit em conta corrente de US$ 1,5 bilhão em fevereiro. Segundo ele, o volume menor que o comum – em janeiro o déficit foi de US$ 4,187 bilhões – se justifica, em parte, pelo menor número de dias úteis no mês. Ainda ponderou que, diante dos dados observados até agora, a projeção da autoridade monetária para o ano, um déficit de US$ 41 bilhões, mostra-se conservadora e deve ser alterada nos próximos meses.

Para os ingressos de Investimentos Diretos no País (IDP), recursos estrangeiros destinados ao setor produtivo, Maciel informou que até 19 de fevereiro houve ingresso de US$ 3,3 bilhões. Diante desse movimento, ele projeta que o mês deve fechar com entradas de US$ 4,5 bilhões de IDP.

O técnico do BC ponderou, no entanto, que a projeção de investimentos estrangeiros para o ano, de US$ 60 bilhões, tem se mostrado consistente com os números apresentados até agora.

Melhora das exportações

Tulio Maciel salientou que existe uma expectativa de melhora das exportações brasileiras, até como uma forma de amenizar os impactos negativos da redução da atividade doméstica. Para ele, há uma possibilidade de aumento do volume das vendas por causa da desvalorização do câmbio em 2014 e 2015.

Em janeiro, lembrou o técnico, o processo de redução das exportações continuou, mas com os preços predominando no recuo e o quantum aumentando 4% na comparação com o mesmo mês do ano passado.

Do lado das importações, houve queda de 15% de volume e de 11% de preços. “Na comparação com janeiro há uma intensificação e, na ponta, há 36% de queda”, comparou. Segundo ele, isso mostra que continua um processo de ajuste da balança.

Em termos de financiamento, segundo Maciel, ao mesmo tempo que se tem a redução do déficit, há a manutenção em patamar elevado de investimentos e de IDP, em particular. “O IDP dá margem significativa mais que suficiente para financiar integralmente o déficit em conta corrente”, disse.

Fluxo de capitais estrangeiros

O chefe do Departamento Econômico do Banco Central afirmou que os IDPs, recursos estrangeiros destinados ao setor produtivo, seguem positivos a despeito do cenário econômico. Segundo ele, esses investimentos respondem às oportunidades e aos preços dos ativos disponíveis, que ficaram mais baratos em função da alta do dólar frente o real.

“Os IDPs respondem às oportunidades que os investidores veem no País e o Brasil é visto como mercado robusto, com 200 milhões de consumidores”, observou Maciel. Segundo ele, esses investidores tomam decisões com base em avaliações de longo prazo.

Maciel explicou ainda que o ingresso de IDPs tem sido pulverizado em diversos setores. Ele explicou que em janeiro, do total de US$ 5,455 bilhões, o seguimento que mais recebeu recursos foi o de comunicações, com US$ 500 milhões. “Isso mostra como esses ingressos estão disseminados entre todos os setores”, explicou.

Déficit de serviços

O representante do Banco Central afirmou que o déficit de serviços mostra “retração acentuada” na comparação entre janeiro deste ano e igual mês do ano passado, com um recuo de 62%. Na avaliação dele, o dólar mais alto frente o real e a dinâmica econômica afetaram a conta de serviços, sobretudo as despesas com viagens internacionais, que perderam fôlego desde que o dólar disparou frente ao real.

Maciel observou ainda que, até o dia 19 de fevereiro, o déficit na conta de viagens estava em US$ 182 milhões, um saldo formado por gastos de brasileiros fora do País em US$ 612 milhões e receitas com estrangeiros em US$ 430 milhões.

“Câmbio, atividade econômica impactando renda e a taxação de remessas ao exterior afetando as empresas de viagens, contribuíram para diminuir os gastos fora do País”, explicou.

Esse cenário também afetou a conta de transportes. Nesse caso, soma-se ao fatores anteriores a menor corrente de comércio e a redução de compra de passagens para o exterior, ao mesmo tempo em que mais estrangeiros têm vindo ao Brasil. “Esse é um comportamento diferente de outros anos para a conta de serviços. Ela recuou no ano passado e recua de forma mais intensa nos primeiros meses de 2016”, afirmou.

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