Primeiro mundo vive verdadeiro “dia de cão”

Rio

(AG) – A mais importante praça financeira do mundo, a cidade de Nova York, experimentou dias dignos de turbulência em países emergentes no primeiro semestre de 2002. Engolidas pela desconfiança dos investidores após o início dos escândalos de maquiagem de balanço de grandes empresas e pela necessidade de diversificação das carteiras de investimentos dos fundos de pensão europeus, as bolsas de Nova York e a Nasdaq viram bater asas e deixar seus pregões US$ 1,755 trilhão este ano. Isso equivale a todo o valor da produção de bens e serviços da Alemanha durante um ano.

A bolsa eletrônica, que chegou a valer quase US$ 7 trilhões em março de 2000 no auge da valorização das empresas de tecnologia, já perdeu o posto de segunda maior do mundo para o pregão de Tóquio. E será ultrapassada pela Bolsa de Londres em no máximo dois meses.

– A Nasdaq já sofrera com a crise do mercado de tecnologia e foi abatida, este ano, devido à maquiagem de balanços concentrada em empresas de telecomunicações e internet. Acreditamos, inclusive, que a Nasdaq corre o risco de perder posição para a Euronext (que reúne as bolsas de Paris, Lisboa, Amsterdã e Bruxelas) – avalia Fernando Ferreira Pinto, sócio-diretor da consultoria Global Invest.

A Bolsa de Valores de Nova York, a maior do mundo, teve seu valor de mercado encolhido em US$ 935 bilhões em seis meses, sendo US$ 722 bilhões entre 31 de maio e 31 de junho. A Nasdaq perdeu US$ 820 bilhões entre janeiro e junho, e vale hoje US$ 2,077 trilhões, cerca de 35% do que valia quando estourou a bolha das pontocom, há pouco mais de dois anos.

Esses recursos, segundo dados da Global Invest e do banco de investimentos BCP Securities, deixaram os EUA, principalmente, rumo aos mercados de renda fixa europeus (bônus corporativos, de governos “saudáveis”, como o dos EUA e os europeus e, em menor parte, de países emergentes, com destaque para México e Rússia), ao investimento em hipotecas e a poucas bolsas consideradas atraentes neste momento.

O Japão destacou-se na captação de investimentos que fugiram dos EUA, com a Bolsa de Tóquio encerrando o semestre com valor de mercado US$ 233 bilhões maior do que em 31 de dezembro de 2001. Nos mercados europeus, explica Walter Molano, chefe de pesquisa do BCP Securities, o comportamento foi diferente. A Bolsa de Frankfurt captou US$ 5 bilhões, e, se não fosse pelo abalo em Paris com o escândalo da Vivendi, a Euronext também fecharia o período de forma positiva, já que até maio subira US$ 48 bilhões, por exemplo.

Mas o forte no continente foi o investimento em bônus, por causa da exigência de vários governos de que os fundos de pensão europeus diversifiquem as carteiras, quase 100% compostas por ações. Muitas delas americanas, o que sugere que os europeus podem ter conduzido o processo de fuga de Nova York.

– De qualquer maneira, a evidência é de que o dinheiro migrou para a Europa e o Japão, pois o euro (11,2%) e o iene (12,7%) se valorizaram no período – explica Fernando Honorato Barbosa, economista do BBV Banco.

Como a aversão ao risco é a tônica do momento, os mercados emergentes só conseguiram captar recursos onde o Produto Interno Bruto (PIB) está crescendo – lançando perspectivas de lucro para as empresas – e os indicadores macroeconômicos estão relativamente sob controle, afirma Molano, do BCP.

Isso explica a fome de alguns investidores pelas bolsas asiáticas, notadamente as de Seul (Coréia), Cingapura, Bangcoc (Tailândia) e Kuala Lumpur (Malásia), e pela bolsa de Johannesburgo (África do Sul). Com crescimento de US$ 39 bilhões em seu valor de mercado, tirou da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) o posto de quarto maior pregão emergente do mundo.

– Infelizmente, a Bovespa encolheu devido à percepção do risco político e da dívida pública no Brasil, que levou às turbulências. E isso continuará ditando os investimentos aqui – afirma Dawber Gontijo, estrategista-chefe do HSBC Investment Bank.

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