Presidente eleito encontrará cenário adverso

Rio

  – No primeiro ano de seu governo, o próximo presidente da República terá pela frente um cenário mundial adverso, que restringirá as chances de um crescimento mais vigoroso da economia brasileira. As promessas de uma expansão de 3,5% a 4% por ano, dizem os economistas, terão que ficar para 2004. Na melhor das hipóteses, o Brasil crescerá a uma taxa perto dos 3%. A economia mundial segue em ritmo lento e há muitas incertezas no horizonte.

Nos EUA, nação responsável por um terço do PIB mundial, as políticas comerciais do presidente George W. Bush e o crescente desequilíbrio nas contas externas do país são as principais dúvidas. E ainda paira a ameaça de uma guerra contra o Iraque. O Japão segue estagnado e a Europa, em ritmo ainda mais lento do que os EUA, não tem como assumir o posto de locomotiva do crescimento global.

? Sem contar nossos próprios problemas, o ano de 2003 já será difícil. Os ventos que vêm de fora não são nada favoráveis ? diz Carlos Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getúlio Vargas.

Langoni explica que, depois da expansão exuberante da década de 90, os países ricos entraram no século XXI crescendo a taxas bem mais modestas. O economista Otaviano Canuto, professor da Unicamp, acrescenta que as fortes quedas nas bolsas de valores desde 2000 (quando a bolha com ações de alta tecnologia estourou) ainda terá desdobramentos sobre a economia real. A perda no valor das ações diminuiu a renda das famílias americanas, que passaram a consumir menos.

As empresas, por sua vez, reduziram investimentos. A produção industrial nas economias desenvolvidas está estagnada: nos EUA, cresce a um ritmo de 0,4% (em dados anualizados) e, na zona do euro, recua 0,5%. O Japão retomou a atividade industrial, que em julho subiu 3,3%, mas ainda enfrenta forte retração no consumo (4,8%), o que impede o crescimento da economia. Na zona do euro, as vendas no varejo recuaram 1%.

? Nos Estados Unidos, o consumo ainda é forte, mas foi sustentado por um boom no mercado imobiliário graças às baixíssimas taxas de juros. Para a economia respirar, é preciso que as empresas voltem a investir ? explica Canuto.

Juntos, EUA, Japão e União Européia respondem por mais de 70% da economia mundial. As previsões do FMI para este ano são de um crescimento de apenas 2,2% nos EUA e de 1,1% na União Européia. No Japão, espera-se uma retração de 0,1%.

Outra fonte de preocupação é o crescente déficit dos Estados Unidos nas suas trocas com o exterior. Hoje, os EUA têm que importar o equivalente a 4,7% de seu PIB em investimentos externos para cobrir esse déficit. Nesse quadro, diz Langoni, o dólar está sobrevalorizado.

? Hoje, o mundo ainda financia os Estados Unidos, mas a questão é saber até quando. Se o dólar se desvalorizar bruscamente, pode pressionar a inflação e obrigar os EUA a elevarem seus juros, o que tornaria a dívida externa brasileira mais cara ? explica Langoni.

O economista Luiz Carlos Prado, da UFRJ, acrescenta que, em meio a um freio na economia global, o Brasil terá que aumentar suas exportações, para reduzir sua vulnerabilidade externa e aliviar as pressões sobre o câmbio. Principalmente porque o fluxo de investimentos estrangeiros para o País deve continuar reduzido. O lado positivo é que, este ano, as vendas para o exterior já aumentaram. Prado lembra ainda que o novo presidente já enfrentará um grande desafio em 2003: lidar com a dura política comercial americana nas negociações da Alca, que começam em janeiro.

Nos próximos meses, a grande incógnita é o risco de um ataque dos Estados Unidos ao Iraque. Uma guerra teria efeitos recessivos e inflacionários sobre a economia global, devido ao provável aumento nos preços do petróleo. Projeções do Citibank mostram que, em caso de um ataque militar com rápido desfecho, a economia americana poderia crescer até um ponto percentual menos do que o estimado em 2003.

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