Prejuízo com quebra da safra pode chegar a R$ 7 bi

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Casal gaúcho presenteia Lula com produtos típicos de Erechim.

Brasília – Os produtores agrícolas poderão ter um prejuízo de até RS 7 bilhões com a quebra da safra deste ano em consequência da seca que atingiu o Sul do País. A estimativa foi feita ontem pelo ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, durante audiência pública no Senado. Ele lembrou que estimativas não oficiais indicam que a colheita de grãos atingirá neste ano apenas 118 milhões de toneladas, um recuo de 14 milhões de toneladas ante a previsão inicial de 132 milhões, feita pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Segundo o ministro, cada milhão de toneladas a menos na produção agrícola significa prejuízo de R$ 500 milhões para o produtor rural. ?A perda econômica será de R$ 7 bilhões se for considerada a quebra de produção de 14 milhões de toneladas?, garantiu Rodrigues, durante depoimento na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado.

O ministro Roberto Rodrigues disse também que a agricultura vive hoje ?o pior mundo possível?. Além da seca, observou, os principais fatores que prejudicam a atividade agrícola neste ano são a elevação dos custos de produção e a desvalorização do dólar frente ao real, que inibe as exportações. Rodrigues avaliou que a seca é grave nos Estados do Sul, mas disse que regiões de Mato Grosso e do Nordeste também sofrem com a estiagem. ?As informações são que o Nordeste terá uma seca fora do comum?, alertou.

Na audiência, Rodrigues pediu aos senadores apoio para conseguir, junto a área econômica do governo, liberação adicional de R$ 1 bilhão para que o ministério apóie a comercialização da safra.

Apesar das previsões pessimistas, o ministro da Agricultura ponderou que a crise não é generalizada. Alguns setores como o café, o suco de laranja e o açúcar e álcool terão um ano favorável. ?As exportações vão cair, mas a queda não será grande porque os embarques destes produtos evitarão uma redução geral expressiva. A situação cambial, no entanto, vai estimular as importações, o que reduzirá o saldo comercial?, destacou Rodrigues.

Lula visita o Sul

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva insistiu ontem, em discurso feito para pequenos produtores rurais afetados pela seca em Erechim, não temer adversidades. Foi quase uma repetição do discurso feito em Coronel Freitas (SC), também seriamente atingido pela seca. Ele não fez promessas além do pacote de ajuda anunciada na semana passada pelo governo federal para os Estados do Sul que enfrentam a estiagem. O pacote prevê a liberação de R$ 300 milhões este ano, a antecipação dos créditos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) para a safra de inverno que somam R$ 800 milhões e a criação, junto com os governos estaduais, de um fundo para os agricultores que não são beneficiados pelo programa. Apesar de também atingido pela seca, o Estado do Paraná ficou de fora do roteiro de visitas de Lula ao Sul do País. Em palanque montado na frente da Prefeitura de Erechim, Lula respondeu ao desafio feito pelo coordenador-geral da Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar do Rio Grande do Sul (Fetraf), Altemir Tortelli, que disse ser necessária uma ajuda extra de R$ 600,00 da União e de R$ 300,00 do Estado para cada família de pequenos produtores atingida pela seca. ?Tortelli é bom de bico. Se der para fazer, vamos fazer?, disse Lula. ?Mas, se não der, não tenho nenhuma preocupação em voltar aqui e dizer isso.? Segundo Lula , a relação do governante com a sociedade não pode ser pautada por mentiras.

Consciência de que o mandato é temporário

Erechim – O presidente Lula destacou ainda, durante seu discurso aos agricultores gaúchos, que os governantes não podem se transformar em ?personagens? que governam. ?Nós temos consciência que o exercício do mandato é muito temporário. O governante não pode nunca deixar de querer ser para se transformar num personagem governante. Se assim o fizer, quando terminar o seu mandato, ele vai olhar para frente, vai olhar para trás e para os lados e ele vai se perguntar: aonde estão todos aqueles companheiros que eu pensei que estavam comigo quando eu estava no poder??

O presidente afirmou que não vai fugir dos problemas à frente da Presidência da República. ?Se um dia, por mais grave que tenha um problema, por mais desgraças que estejam acontecendo na nossa vida, eu não tiver coragem de encontrar com o meu povo é porque eu estou fazendo alguma coisa errada. Enquanto tiver consciência que estou fazendo as coisas que acredito, mais do que isso, fazendo as coisas que eu posso, para dizer não ou para dizer sim, para anunciar pouco ou para anunciar muito ou até para anunciar, podem ter certeza que eu estarei com vocês?.

A seca atingiu 30% dos municípios de Santa Catarina. Os prejuízos no campo ultrapassam R$ 650 milhões. Além disso, 144 cidades estão em estado de emergência.

Um grupo de agricultores bloqueou o trânsito na BR-285, em Lagoa Vermelha, no Rio Grande do Sul. Hoje, os produtores ocupam o trevo de acesso a Sananduva. A manifestação solicita medidas do governo estadual e federal para amenizar os prejuízos causados pela seca.

Em Sarandi, a BR-386 segue interrompida em meia pista pelo mesmo movimento. O tráfego está liberado no km-140, próximo ao acesso da cidade. Patrulheiros da Polícia Rodoviária Federal orientam os motoristas no local. O prazo dado pela Justiça Federal para deixar a rodovia termina às 16h30.

Hidrelétrica de SC pode parar

Florianópolis – A usina hidrelétrica de Machadinho, localizada no Rio Uruguai, entre Piratuba e Maximiliano de Almeida, pode parar em três ou quatro dias por causa da seca em Santa Catarina. O gerente de Operação, Elinton Chiaradia, informou que a geração deveria ter sido interrompida na segunda-feira, mas a chuva do domingo estabilizou o nível do lago, que estava baixando 12 centímetros por dia.

Com a chuva, o volume que estava entrando era igual ao que saía, mas baixaria para 250 metros cúbicos por segundo, a partir de terça-feira. Chiaradia explicou também que a usina está operando em seu patamar mínimo operacional. O lago está mais de 14 metros abaixo do nível máximo, com apenas 4% do volume utilizado para geração de energia. Na usina hidrelétrica de Itá ainda não há previsão de suspensão da geração de energia.

Defesa Civil age no Paraná

Curitiba – As regiões paranaenses afetadas pela estiagem podem contar com as Comissões Municipais de Defesa Civil (Comdecs) para amenizar as conseqüências da falta de chuva. No início do ano passado, a Defesa Civil Estadual concluiu a implantação das comissões nas 399 cidades paranaenses, fazendo do Paraná o segundo estado a alcançar 100% de abrangência. ?Quem ganha com isso é a sociedade?, afirmou o coordenador estadual de Defesa Civil do Paraná e secretário-chefe da Casa Militar, major Anselmo José de Oliveira. Em Cruzeiro do Iguaçu, a comissão municipal tem trabalhado para reduzir as perdas provocadas pela seca. Segundo Ivanor Wolff, chefe da divisão agropecuária, a comissão atua no levantamento de dados e dá assistência à população da cidade. Wolff ressaltou o apoio do governo do Estado, dizendo que ?todas as reivindicações foram atendidas?. Cândido de Abreu decretou situação de emergência e enviou correspondência à Defesa Civil Estadual ontem. Segundo o chefe de gabinete da Prefeitura, Darcy Schactal, a Comdec do município vai atuar proporcionando uma assistência à população e está realizando levantamentos junto à Emater.

Implantação

Segundo major Anselmo, a implantação das comissões nos municípios é uma norma da Coordenadoria Nacional de Defesa Civil, e apenas os Estados que as tiverem, podem contar com verbas federais para a defesa civil. O órgão atua em emergências, para salvar vítimas de enchentes, vendavais e outros fenômenos naturais, bem como na prevenção dos efeitos dessas ocorrências. Também cabe à instituição, identificar áreas de risco e montar as estratégias de atuação em casos de urgência.

O major ainda explica que para obter o apoio, em caso de situação de emergência, é necessário que as prefeituras entrem em contato com a Defesa Civil Estadual. ?Tão logo a Defesa Civil Estadual seja informada, as medidas necessárias serão tomadas, como a homologação do decreto municipal, feita pelo governo do Estado, e o encaminhamento do processo para a Defesa Civil Nacional, em Brasília?, explicou. As comissões municipais, além de agilizar o atendimento em emergências, também são encarregadas pela fiscalização do trânsito e armazenamento de produtos perigosos. E ainda pela localização de áreas que representem risco à vida e ao patrimônio, como as sujeitas a alagamentos. Segundo o major Anselmo, ?cada cidade paranaense tem sua Comdec, pois é ela que faz o primeiro atendimento no caso de uma calamidade pública?.

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