Para BC, crise é mais intensa do que se previa

O Banco Central afirma no Relatório Trimestral de Inflação divulgado nesta segunda-feira (22) que, apesar da maior resistência da economia brasileira a choques externos, a crise dá sinais de afetar a atividade econômica doméstica mais intensamente do que se previa. “O ambiente de maior incerteza, levando ao adiamento de decisões de consumo e investimento, as condições mais restritivas de crédito interno e externo (maiores taxas de juros, menores prazos e maior seletividade), inclusive com restrição significativa de linhas de crédito externo, a redução da demanda mundial e a depreciação cambial, encarecendo os bens de investimento importados, são ingredientes que apontam para desaceleração econômica”, diz o BC no documento.

A autoridade monetária lista indicadores antecedentes e efetivos – como vendas, produção industrial, índices de confiança, grau de utilização da capacidade instalada e férias coletivas em algumas empresas – que sinalizam algum arrefecimento da atividade do País, embora o tamanho desta desaceleração “esteja envolta em elevado grau de incerteza”. “Como resultado, as projeções futuras sobre a taxa de inflação também acabam sendo feitas com elevada incerteza”, diz o BC no documento, destacando que este problema da incerteza, especificamente no caso da inflação, é potencializado pelo fato de que “o mecanismo de transmissão do hiato produto para os preços tende a ocorrer com defasagem maior que a do câmbio”. Outro fator que segundo o BC dificulta a avaliação sobre o futuro é que a atividade econômica estar vindo de uma expansão muito forte. “Assim, formação de preços com base na demanda recente e, em alguns casos, na própria demanda corrente ainda poderia apontar pressões de alta”, diz o BC.

Consumo e investimentos

O BC afirma no Relatório Trimestral de Inflação que a crise financeira internacional já afeta negativamente a atividade econômica brasileira e um dos mecanismos em que isso se dá é pela ampliação da incerteza sobre o futuro, que “tem levado os agentes a adiarem decisões importantes de consumo e investimentos”. A crise também afeta a atividade econômica pela redução da demanda externa, pela restrição das fontes de financiamento externo, e “pelo efeito indireto, mas importante, sobre as condições financeiras domésticas”. O BC avalia que este efeito pode ajudar de forma importante no processo de contenção da inflação.

“A crise mundial está afetando o nível de atividade da economia brasileira não somente pela redução da demanda externa, mas também pela restrição das fontes de financiamento externo, pelo efeito indireto, mas importante, sobre as condições financeiras domésticas, e pela formação de um quadro geral de incerteza que tem levado os agentes a adiarem decisões importantes de consumo e investimento. Dessa forma, esse canal de transmissão pode mostrar-se particularmente importante para a contenção inflacionária”, diz o BC no relatório de inflação.

Impactos

O Banco Central espera uma contração mais intensa da atividade econômica mundial, em relação ao que previa no relatório de inflação de setembro e, em especial, uma maior repercussão do agravamento da crise mundial nos países emergentes. “Depois de um período onde se acreditava que os efeitos da crise mundial nas economias emergentes pareciam ser, e de fato eram, menos intensos, corroborado ainda por um crescimento acentuado dos preços das commodities, essas economias passaram, nos últimos meses, a sofrer mais fortemente os impactos da crise”, avalia o Relatório Trimestral de Inflação divulgado hoje pelo BC.

O BC destaca que apesar da percepção de que o risco sistêmico mostra alguma moderação, os mercados interbancários ainda manifestam sinais de pressão em razão da proximidade do final do ano e do fechamento dos balanços das instituições financeiras. Além disso, afirma o documento, a contração da liquidez internacional continuou a contribuir para um processo de desalavancagem por parte de administradores de recursos, o que, por sua vez, vem reduzindo os preços de ativos. “Em ambiente de maior aversão ao risco e fluxos de capitais mais escassos, as pressões sobre moedas de economias emergentes foram mantidas”.

Para o BC, os problemas do sistema financeiro internacional vêm se agravando por uma deterioração cíclica na qualidade do crédito, o que tende a reforçar a contração das condições financeiras e, por conseguinte, o risco de intensificação da desaceleração. O relatório destaca, no entanto, que em última instância a severidade e persistência da desaceleração dependerão, de forma importante, do comportamento e da resiliência do mercado de trabalho.

Efeito ambíguo

O BC avalia que a capacidade de o setor externo ajudar no controle da inflação está comprometida. Segundo o Relatório Trimestral de Inflação divulgado hoje, os efeitos da desaceleração mundial mais intensa sobre a inflação doméstica têm sinal ambíguo. Segundo o BC, a redução das exportações, ao atuar como fator de contenção da demanda agregada, e o recuo dos preços das matérias-primas (commodities) contribuem para aliviar pressões inflacionárias domésticas.

Por outro lado, a intensificação da aversão ao risco e a repatriação de capitais para as economias maduras reduziram a demanda por ativos de economias emergentes, levando a acentuada depreciação de várias moedas nacionais frente ao dólar norte-americano, que terminam por pressionar os preços nessas economias. “Nesse contexto, ainda que a economia brasileira se encontre mais resistente a mudanças de sentimento nos mercados financeiros internacionais, a capacidade de o setor externo contribuir para mitigar riscos inflacionários ficou comprometida”, afirma o BC.

Commodities

O BC avalia que o cenário em relação aos preços das matérias-primas (commodities) se tornou mais benigno do que o existente na divulgação do último relatório de inflação em setembro. O BC destaca que os preços do petróleo, embora voláteis, recuaram de forma expressiva e os de outras commodities também mostraram reduções importantes. “Esse comportamento dos preços das commodities atua na configuração de um quadro mais benigno do ponto de vista de pressões inflacionárias”, afirma o relatório.