Movimentações

Operações de Vale e Petrobras sofrem efeito “manada”, diz estudo do BC

As movimentações do mercado financeiro nos últimos quatro anos em relação às ações mais líquidas da bolsa de valores brasileira, Petrobras e Vale, são, em grande parte, fruto do comportamento de manada. Esse tipo de atuação dos investidores é comumente associado a períodos de maior volatilidade e se deve ao componente humano na negociações de ativos. O efeito manada ocorre quando o investidor decide imitar a decisão de investimento de outro agente, o qual supõe estar melhor informado, ao invés de acreditar em suas próprias conclusões.

Essa constatação sobre Vale e Petrobras foi feita no trabalho “Há Efeito Manada em Ações com Alta Liquidez do Mercado Brasileiro?”, divulgado pelo Banco Central por e-mail hoje. O documento, que está no site da instituição, é de autoria da mestre em economia pelo IBMEC Juliana Serapio da Silva e dos servidores do BC Cláudio Henrique Barbedo e Gustavo Araújo. Como sempre, a autarquia faz a ressalva de que as opiniões expressas neste tipo de trabalho são dos autores e não refletem, necessariamente, a visão do BC.

Por meio de uma avaliação intradiária, os economistas chegaram à conclusão de que a probabilidade de uma transação ter a mesma direção da transação anterior é em torno de 80%. Mesmo com a possibilidade praticamente igual de um negócio ser iniciado por uma compra ou por uma venda. “Desta forma, a direção da transação seguinte é dependente da transação anterior. Tal constatação contraria a hipótese do passeio aleatório e sugere a existência do efeito manada”, escreveram.

Para fazer o levantamento, os autores avaliaram o comportamento das ações da Petrobras e da Vale na bolsa de valores do Brasil de 2010 a 2014 utilizando duas metodologias. Pelo método de Christie e Huang (1995), não houve sinais de efeito manada utilizando dados com intervalos de 30 minutos. Já pelo método pressão de preços (price pressure), foram constatadas essas evidências.

Os economistas lembraram que, após a crise econômica de 2008, que gerou perdas que se alastraram para economias do mundo todo, a eficiência dos mercados e dos modelos econômico-financeiros foi questionada. “Alta volatilidade, bolhas de apreçamento e crises financeiras se tornaram termos recorrentes e cada vez mais investigados”, citaram.

Como explicam os estudiosos, a Moderna Teoria de Finanças (MTF) diz que as decisões de um investidor são baseadas na maximização da sua utilidade esperada. Essa teoria observa também que os movimentos de preços das ações são imprevisíveis e seguem um passeio aleatório. “No entanto, alguns autores defendem que os preços de mercado seguem determinados padrões que são explicados pelas Finanças Comportamentais e que a MTF não consegue explicar diversos fenômenos que ocorrem cotidianamente nos mercados financeiros.”

A teoria de finanças comportamentais começou a ganhar notoriedade quando trabalhos sobre o tema ganharam o prêmio Nobel de Economia em 2002. Ao considerar os aspectos psicológicos dos seres humanos, os modelos de finanças comportamentais envolvem a possibilidade de irracionalidade dos agentes e pretendem preencher as lacunas teóricas da MTF. Essa teoria evidencia falhas da MTF, tendo em vista que decisões errôneas dos investidores nem sempre acarretam em oportunidades de arbitragem para outros. A informação imperfeita e a racionalidade limitada descrevem de forma mais fiel o comportamento do mercado.

As Finanças Comportamentais utilizam conceitos provenientes de diversos campos do conhecimento, como Psicologia, Economia e Finanças, a fim de construir modelos de mercado mais complexos e incorporar vieses cognitivos que ocorrem na tomada de decisão. Uma das principais distorções estudadas pelas Finanças Comportamentais é o comportamento de manada, que vai de encontro à hipótese de que os preços se movimentam por meio de um passeio aleatório.

O trabalho no site do BC salienta também que o comportamento de manada ocorre

quando um grupo de investidores negocia o mesmo ativo, na mesma direção do mercado, em um certo período, ignorando suas próprias informações e crenças a respeito dos preços dos ativos. O fenômeno, no entanto, poderia levar a uma perda ou deterioração da informação, fazendo até com que o preço de um ativo se distancie do seu valor fundamental. “Desta forma, medir e identificar períodos nos quais o efeito manada é verificado é de suma importância para entender a qualidade da informação no mercado financeiro e o processo de formação dos preços dos ativos”, argumentaram os autores.

Pelo estudo, verifica-se que em 2 de dezembro de 2013 foi vista a maior dispersão dos retornos da Petrobras em relação ao Ibovespa e em 23 de março de 2010 foi verificada a maior dispersão para a ação da Vale. “É importante destacar que no período estudado a Petrobras pode ter tido os retornos de suas ações afetados pela política de preços administrados no governo. Entretanto, não é de nosso conhecimento de que essa interferência tenha alguma relação com o efeito manada”, esclareceram os autores.