Investimento

Mulher conquista seu espaço na Bolsa de Valores

A paixão das mulheres por bolsas não é exatamente algo que chame a atenção das pessoas. Isso porque a primeira associação que se costuma fazer, nesse caso, é com um dos acessórios mais indispensáveis ao sexo feminino, a ponto de muitas mulheres serem verdadeiras investidoras na peça.

Quando a bolsa é a de valores, a situação se inverte: são os homens que costumam ser mais associados a esse investimento. Entretanto, isso aos poucos está mudando. A ponto de, entre os investidores individuais da BM&F Bovespa, as mulheres estarem caminhando para atingir um quarto do total. E elas, ainda, estão mostrando outro comportamento nessa época de crise econômica.

De acordo com os dados da Bovespa, em 2002 ano em que a Bolsa iniciou seu programa de popularização eram pouco mais de 15 mil mulheres investindo individualmente em ações o equivalente a 17,6% do total. Hoje, 23,3% de quem investe lá é do sexo feminino.

São quase 125 mil mulheres, em um total de 534 mil investidores, um crescimento de 730%. A proporção está cada vez mais próxima, por exemplo, da divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que apontou, no ano passado, que 33% das famílias eram chefiadas por mulheres.

No Paraná, a proporção é um pouco menor. As cerca de 6,4 mil mulheres que aplicam na bolsa são aproximadamente 21,1% do total, e investem cerca de R$ 410 milhões em ações. Mesmo assim, o número mantém o Estado no quinto lugar entre os que mais têm mulheres investindo no País, atrás apenas de São Paulo, com 57 mil pessoas, Rio de Janeiro (22,6 mil), Rio Grande do Sul (8,4 mil) e Minas Gerais (8,3 mil).

O aumento no interesse está causando até adaptações no mercado. Segundo a Bovespa, hoje há corretoras de valores que mantêm mulheres na mesa de operação, para atender ao público feminino. A intenção é permitir que as mulheres fiquem mais à vontade na hora de dar as ordens de compra e venda de ações. A própria bolsa mantém um programa, o Mulheres em Ação (www.bmfbovespa.com.br/mulheres), que estimula e informa, com uma abordagem mais feminina, sobre investimentos.

Clubes

Uma das formas que mais vêm estimulando as mulheres a investir na bolsa é o clube de investimentos. Muitas corretoras mantêm programas desse tipo, e algumas criam verdadeiros clubes da Luluzinha, em que só mulheres podem participar.

A corretora Omar Camargo, de Curitiba, tem há um ano um desses clubes, com aproximadamente 30 mulheres. Elas fazem reuniões periódicas e informais na sede da empresa, em que discutem e aprendem um pouco mais sobre o mercado financeiro.

De acordo com a gerente de relacionamento da corretora, Anne Louise Caron, o clube foi formado em um momento de euforia do mercado, quando a empresa percebeu que muitas mulheres estavam procurando investir na bolsa. “A nossa proposta é também educativa. Nos encontros e nos boletins que enviamos, não usamos o ‘economês’. Assim, quem não é da área tem menos resistência”, afirma.

O perfil das mulheres é, segundo Caron, diferente do dos homens. A diferença aparece, para ela, principalmente na hora de se portar perante o risco. “Os homens vão com mais apetite, mesmo às vezes sem saber o que estão fazendo. Já as mulheres têm um perfil mais cauteloso. Levam mais tempo para tomar decisões e, quando tomam, são mais fieis ao que decidiram”, analisa, lembrando que algumas das mulheres do clube visitaram a corretora pelo menos meia dúzia de vezes, antes de decidirem investir.

Crise

E essa cautela, aliada à fidelidade, têm aparecido bastante nos últimos meses, com o avanço da crise global. Caron diz que, apesar do clube de investimentos não ter recebido no,vos membros, as mulheres que já participavam do grupo têm mostrado confiança no mercado. “Não tivemos nenhum resgate, e nenhuma mulher deixou o clube”, informa. “Elas não fazem muitas operações especulativas. Então, sinto mais tranquilidade por parte delas”, diz.

Idade nem sempre é documento

Quem pensa que as mulheres mais jovens são as campeãs nos investimentos individuais na bolsa, se engana. Apesar de estarem, de fato, em menor número, as mulheres com mais de 66 anos têm mais dinheiro na bolsa do que quase todas as demais faixas etárias femininas juntas.

Dos R$ 12,36 bilhões que as mulheres tinham investidos na bolsa em fevereiro deste ano, R$ 5,16 bilhões pertenciam às quase 14 mil mulheres dessa faixa etária. Em quantidade de pessoas, as mulheres entre 26 e 35 anos são mesmo as mais numerosas: são cerca de 31,8 mil investidoras. Elas, porém, não investem muito -respondem por apenas cerca de R$ 810 milhões.

Os valores, por sinal, vão subindo conforme a faixa etária, enquanto a quantidade de mulheres vai caindo: no grupo entre 36 e 45 anos de idade, são 26,9 mil mulheres e R$ 1,46 bilhões investidos. Entre 46 e 55 anos, 25,8 mil mulheres investem um total de R$ 2,07 bilhões. E, entre 56 e 65 anos, são R$ 2,75 bilhões investidos por 19 mil pessoas.

A tendência só é diferente nos grupos de idades mais baixas: entre 16 e 25 anos, são poucas mulheres cerca de 6,6 mil e pouco valor investido R$ 150 milhões. A Bovespa contabiliza até investidoras infanto-juvenis: são 766 com menos de 15 anos, com R$ 50 milhões aplicados.

Pioneira na área vive em Curitiba

As mulheres podem estar conquistando maior espaço no mercado de ações apenas recentemente. Mas isso não significa que não participam do setor há muitas décadas. E a pioneira da área no Brasil e segunda a trabalhar com o mercado financeiro na América Latina vive em Curitiba.

É a executiva Ingeborg Sippel Camargo, hoje com 88 anos, presidente da corretora Omar Camargo, uma das maiores do Estado. Nascida na Alemanha na década de 20, “dona Inge”, forma com que Ingeborg é chamada carinhosamente pelos amigos e funcionários assumiu a corretora, que na época era apenas um pequeno escritório, depois do falecimento precoce do fundador da empresa, seu marido Omar Amorim Camargo, na década de 60.

Assim, passou a frequentar os pregões diários da Bolsa de Valores do Paraná, como operadora a única do Brasil. Tanto que, em 1968, em uma espécie de congresso latino-americano do setor, realizado no Rio de Janeiro, eram apenas ela e uma venezuelana em meio a mais de 400 profissionais homens.

Depois disso, Inge se tornou vice-presidente da bolsa paranaense. Foi, ainda, representante das Sociedades Corretoras Paranaenses na Comissão Nacional de Bolsas de Valores (CNBV), onde também era a única mulher. Recebeu várias homenagens pelo pioneirismo e pela forma com que conduziu seu negócio.

A última foi durante a ExpoMoney 2009, realizada em março, em Curitiba. Inge até hoje cumpre rotina diária de trabalho na corretora que preside. Lá, procurou manter a confiança nas mulheres.Em uma área em que os homens predominam, 40% dos colaboradores da corretora são do sexo feminino.

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