Minhocas são tão valiosas quanto o solo

Elas podem não ter um visual muito atraente e certamente causam repulsa a muitas pessoas, mas são de fundamental importância para a agricultura. As minhocas, anelídeos da classe oligoqueta, geralmente vivem no solo e podem medir de alguns centímetros apenas até dois metros de comprimento. São animais detritívoros (que se alimentam de detritos) e um dos responsáveis pela composição do húmus, fertilizante orgânico utilizado nas plantações.

De acordo com o pesquisador George Brown, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Florestas, são muitos os benefícios das minhocas para o solo. “A minhoca funciona como um arado natural. Ela faz o revolvimento do solo para baixo e para cima, permitindo aumento da oxigenação do espaço. Outras abrem buracos na superfície que vão ajudar a filtrar a água. Para quem utiliza o plantio direto (sem arenagem da terra por meio de máquinas), as minhocas são excelentes aliadas”, explica o professor, que é líder do projeto “Importância das minhocas para a fertilidade do solo e como indicadoras de qualidade ambiental”, que reúne dez unidades da Embrapa, 12 instituições parceiras e participação de 39 pesquisadores.

Brown explica como as minhocas fazem essa “tarefa”. “Elas realizam um trabalho de compostagem dos materiais orgânicos no solo. Se alimentam dessa matéria juntamente com a terra e os seus excrementos, que a gente chama de coprólitos, ricos em nutrientes. Estes são depositados nas galerias do solo, tornando-o mais saudável.” O professor diz que as raízes tendem a procurar por esses coprólitos devido às suas propriedades. “É como se a planta soubesse o que seria melhor para ela. Por ser um material muito rico, a planta procura para se fortalecer. Outro aspecto interessante das raízes é que elas usam os espaços abertos pelas minhocas para se fixar”, complementa.

A minhoca funciona como um arado natural. Ela faz o revolvimento do solo para baixo e para cima, permitindo aumento da oxigenação do espaço.” George Brown, pesquisador da Embrapa Florestas.

Outro fator citado pelo pesquisador é o trabalho físico, químico e biológico desenvolvido por esses bichos. “Ela (a minhoca), sozinha, consegue realizar um trabalho muito importante para garantir a qualidade do solo. Faz todo o processo físico ao escavar e arar, o processo químico ao selecionar as partículas e comer a matéria orgânica e processando os nutrientes mais ricos, como, por exemplo, nitrogênio, fósforo e carbono, e também o processo biológico, uma vez que ajudam a combater pragas e doenças, como a nematoide, que ataca principalmente as raízes”, cita. A minhoca no solo torna as raízes mais resistentes aos ataques de doenças. No caso da macieira, por exemplo, esses anelídeos ajudam a combater um fungo que ataca a árvore enterrando folhas com os esporos patogênicos do fungo, impedindo que se disperse.

Mundo afora

O trabalho desenvolvido pelo pesquisador George Brown já dura pelo menos 20 anos. Ele faz uma avaliação da minhoca para fertilidade do solo e diz que poucas espécies do animal foram estudadas no Brasil. “Existem 55 espécies de minhoca no Paraná e 300 no País, mas apenas seis delas foram estudadas. É praticamente nada”, calcula. As pesquisas de Brown também abrangem como as práticas de manejo do terreno podem afetar as minhocas e o impacto que um solo contaminado pode ter sobre elas. “E também abordamos a minhocultura, em que trabalhamos com espécies que vivem na matéria orgânica, muitas delas exóticas (vindas da Ásia, África e Europa), que produzem o húmus.” O trabalho de Brown chamou a atenção de uma equipe de televisão da Austrália, que produz materiais para o can,al National Geographic. O documentário que está sendo produzido, e que será lançado ano que vem, chama-se Caçadores de minhoca, e vai mostrar pesquisas realizadas ao redor do mundo envolvendo temas como a importância da minhoca para fertilidade do solo, criação de minhocas para processar lixos orgânicos, minhocultura, entre outros.

“O documentário vai além de mostrar a importância da minhoca. Ele vai revelar o papel dos pesquisadores que desenvolvem pesquisas com minhocas. Aqui no Brasil, vamos mostrar uma espécie conhecida como minhocuçu ou minhocão gigante, no Amapá, norte do Brasil. Essa espécie é tema de uma das pesquisas desenvolvida por nós”, conclui.

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