Mercado interno pode ter escassez de aço em 2008

Sem aumentos de capacidade produtiva previstos para este ano, as siderúrgicas devem enfrentar dificuldades para abastecer toda a demanda do mercado interno. A expectativa é de que as encomendas da indústria manterão o ritmo acelerado do ano passado, esbarrando na capacidade das usinas, que já operam a todo vapor.

Segundo estimativas do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), se o crescimento do consumo de aços planos alcançar 15% este ano sobre as 11,7 milhões de toneladas do ano passado, a demanda chegará muito perto da capacidade de produção, que é de 14 milhões de toneladas. "Podem surgir problemas de abastecimento no segundo semestre", disse o presidente do Inda, Christiano da Cunha Freire.

No ano passado, a limitação da capacidade provocou uma queda significativa das exportações de aço, que foram direcionadas para atender o crescente mercado interno. No entanto, especialistas acreditam que essa opção está próxima do seu limite, porque coloca em risco as relações comerciais das siderúrgicas no mercado externo. "As vendas internas podem chegar no máximo a 80% porque existem contratos de longo prazo no exterior", disse o analista da Link Corretora Leonardo Alves.

As siderúrgicas produtoras de aços planos CSN e a Usiminas destinam 71% e 77% das vendas para o mercado interno, respectivamente. A Gerdau, que fabrica aços longos, separa 69% da sua produção no Brasil para o mercado doméstico. No período acumulado dos nove primeiros meses do ano passado, a Usiminas reduziu suas exportações em 25% para atender os clientes brasileiros. A CSN diminuiu suas vendas internacionais em 18% no terceiro trimestre de 2007, enquanto o volume vendido no País cresceu 21,8%. A Gerdau reduziu seus embarques a partir do Brasil em 10,3% no ano passado.

Isso indica que as siderúrgicas terão pouco espaço para cortar ainda mais suas exportações, gerando dificuldades de abastecimento internamente. Nesse cenário, as usinas e a indústria terão de apelar para as importações de aço justamente em um momento de alta nos preços internacionais. Desde o início do ano, o aço laminado a quente no exterior subiu 20%, passando de US$ 660 por tonelada para US$ 800 por tonelada, impulsionado pela demanda e pela alta dos insumos.

As importações trarão custos muito maiores para a indústria devido aos preços elevados e às questões logísticas. Segundo o analista de siderurgia da Prosper Corretora, Alan Cardoso, uma das maiores dificuldades será lidar com a necessidade de prazos maiores para os pedidos no exterior.

A situação só deve se normalizar com a entrada dos projetos de ampliação das siderúrgicas, a partir do ano que vem. Mesmo assim o analista da Socopa Daniel Lemos ressalta que as condições são favoráveis para as usinas, que terão facilidade para repassar a alta de custos nas atuais condições de escassez do mercado. "A siderurgia conseguirá aumentar os preços com maior tranqüilidade", disse.

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