Lula garante economia estabilizada

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, disse ontem no Japão que é preciso ?recuperar o tempo perdido no aprimoramento e na revitalização das relações do Japão com o Brasil?. O presidente Lula falou para cerca de 700 empresários japoneses e brasileiros, no discurso que marcou sua despedida da capital japonesa.

Lula encerrou o seminário ?Brasil-Japão: Oportunidades de Investimento, Comércio e Turismo? com um discurso de cerca de meia hora, em que repetiu o convite aos investimentos no Brasil e reiterou seu compromisso com as políticas de estabilização da economia.

?Não tomaremos nenhuma atitude que possa significar tornar a economia brasileira vulnerável e nem tampouco nenhuma medida populista, que muitas vezes serve para eleger um candidato, mas afunda o Brasil em anos e anos de recessão.?

O presidente também criticou brasileiros que, segundo ele, ocupam posição de destaque, mas não dão a devida ?dimensão? ao Brasil: ?Lamentavelmente, no meu País, tem muita gente que, embora tendo cargos importantes, pensa pequeno, não pensa grande e não dá dimensão de grandeza para o que o Brasil representa no mundo de hoje?.

Lula lembrou que, há pouco tempo, a possibilidade de o Brasil romper a barreira dos US$ 100 bilhões exportados era objeto dessa descrença. Ele também lembrou resultados que considera positivos da economia em seu governo, como o maior crescimento da indústria em 18 anos e a geração média de 127 mil empregos por mês, contra 8 mil mensais em anos anteriores.

?O Brasil não tem volta. O Brasil vai ter que aproveitar todos os momentos positivos que puder ter para que, no século 21, o Brasil se transforme definitivamente numa grande economia, capaz de competir em igualdade de condições com as maiores economias do mundo?, disse Lula aos empresários, que, num hotel de luxo da capital japonesa, passaram o dia assistindo a palestras sobre o Brasil ministradas por autoridades do governo.

Lula disse ainda que o País só não alcançou resultados melhores em sua história pela falta de planejamento de longo prazo: ?Já podíamos ter chegado lá, mas não chegamos porque, muitas vezes, no nosso País, as pessoas não conseguem pensar para 20 anos, não conseguem pensar para 30 anos. Muitas vezes, as pessoas conseguem pensar apenas de eleição em eleição?.

O presidente também criticou os que abdicam desse planejamento por interesses pessoais: ?Não é possível e não é justo que um homem, por mais importante que seja, possa colocar os seus interesses pessoais acima dos interesses de uma nação. Que ele esteja mais preocupado com seu futuro do que com o futuro do seu povo e com o futuro da sua nação?.

?Por isso é que nós não brincamos quando se trata de política econômica?, acrescentou.

Na manhã de hoje, Lula e sua comitiva seguem para Nagóia, onde terão encontros com representantes da comunidade de brasileiros no Japão.

Antes de encerrar o seminário, Lula manteve vários encontros com empresários e autoridades japonesas, incluindo o casal imperial e o presidente português, Jorge Sampaio.

Meirelles reafirma que crescimento é sustentável

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse ontem a empresários japoneses, em Tóquio, que a economia brasileira adquiriu ?status? de estabilidade de longo prazo. ?O crescimento sustentado e firme hoje é uma realidade concreta no Brasil, deixou de ser apenas desejo, intenção?, afirmou.

O objetivo de Meirelles é aumentar a presença dos bancos e agências de desenvolvimento japoneses no Brasil. Ele explicou que os empresários japoneses exigem longa maturação em seus projetos de investimento, o que exige previsibilidade de retorno. Por isso, eles só investem em economias estáveis, completou.

Segundo o presidente do BC, a economia brasileira ?passou no teste? da recuperação nos últimos dois anos e hoje dá mostras concretas de crescimento ordenado. ?Por essa razão, acreditamos que haverá aumento natural da presença japonesa no Brasil?, adiantou. Meirelles acha que os acordos assinados na visita que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz ao Japão ?vão abrir portas? para o aumento do comércio bilateral.

Diálogo

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, destacou que ?foi extremamente importante? o diálogo entre Brasil e Japão sobre a utilização de combustível de biomassa e a criação de um grupo de trabalho sobre o tema que aconteceu em reunião anteontem. ?É um país faminto de energia, que tem grande preocupação ambiental e necessidade de ter garantia de abastecimento. Então há progressivamente uma perspectiva muito positiva.?

Segundo Amorim, os dois países estão se redescobrindo: ?Tivemos uma parceria fortíssima na década de 70 com outras condições, mas, de qualquer maneira, o Japão é um país que tem complementariedades enormes com o Brasil?.

Grupo de trabalho debate uso do biocombustível

O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, disse, em Tóquio, que a criação de um grupo de trabalho para discutir a utilização, pelo Japão, de combustíveis produzidos a partir de biomassa, como o etanol e o biodiesel, é um avanço porque indica a concretização de um projeto. ?Até agora, esse assunto da agroenergia vinha sendo tratado com boa vontade, mas sem uma consistência em termos de políticas desenvolvidas. A decisão do presidente Lula de criar um grupo para discutir as formas de implementação desse programa muda completamente o panorama?, afirmou.

Roberto Rodrigues participou juntamente com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outros ministros que integram a comitiva de reunião de trabalho para discutir a utilização pelos japoneses de combustíveis como etanol e biodiesel.

Segundo o ministro da Agricultura, o Brasil exporta hoje cerca de 2 bilhões de litros de etanol por ano e tem mais de 30 projetos de agroindústria, ligados ao setor de etanol, em implementação. O trabalho conjunto com o Japão representa oportunidade de crescimento para as exportações brasileiras do combustível. ?Hoje, o Japão mistura 3% de etanol na gasolina de forma não obrigatória. Se isso fosse obrigatório, nós teríamos o Japão com um mercado de 1,5 bilhão de litros de etanol por ano. É quase outro volume do que é exportado pelo Brasil para todos os países do mundo?, explicou.

Roberto Rodrigues afirmou que juntos, Brasil e Japão podem criar um novo paradigma para a utilização de combustíveis líquidos. ?A grande alternativa líquida de curto prazo é a energia de origem vegetal porque é renovável, sustentável, melhor do ponto de vista ambiental e reduz a distância entre os países, uma vez que os mais pobres vão produzir para atender os ricos?, acrescentou.

Crise por CPI não afetará economia, diz Palocci

O ministro da Fazenda, Antônio Palocci, disse que a crise política por conta da CPI Mista dos Correios ?não vai tirar o Brasil de uma rota muito forte e segura de estabilidade e crescimento econômico?. A estabilidade dos fundamentos econômicos do País foi exatamente uma das preocupações que os empresários japoneses demonstraram durante a reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Tóquio.

?Há problemas políticos, mas a questão é admiti-los e dialogar?, disse Palocci. Segundo ele, a crise não chegou a afetar o mercado.

Balanço

?Nesta semana, mesmo com a tensão no campo político, nós tivemos uma evolução positiva do risco-país que caiu a semana toda. A questão cambial permaneceu a mesma. A bolsa em um dia subiu, no outro caiu.?

?Teve (a bolsa) uma grande normalidade, que é uma evolução da estabilidade econômica. Isso não quer dizer que a economia é alheia à questão política, mas quer dizer que a economia está bastante sólida.?

O ministro da Fazenda fez um pequeno balanço da viagem da comitiva brasileira à Ásia e a avaliou como ?bem-sucedida?.

?A viagem aqui ao Japão foi de retomada. O Japão era o segundo maior investidor no Brasil e agora é o sexto. Sendo a segunda maior economia do mundo, nós temos interesse em receber investimento de porte dos japoneses.?

Banco anuncia empréstimo de US$ 500 milhões

O JBIC (sigla em inglês para o Banco do Japão para Cooperação Internacional) anunciou ontem a concessão de um empréstimo de US$ 500 milhões ao Brasil destinados essencialmente a financiar projetos de infra-estrutura. O empréstimo foi anunciado durante o segundo dia de visita oficial ao país do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A soma será destinada a financiar projetos locais de desenvolvimento de infra-estruturas, assim como investimentos de capital realizados por exportadores brasileiros, incluindo as empresas japonesas no Brasil, afirmou o banco público em comunicado.

?O empréstimo ajudará a melhorar o entorno econômico para filiais locais de empresas japonesas e aumentar as exportações de energia, de recursos naturais e de outros produtos do Japão?, acrescenta o texto.

O presidente brasileiro está acompanhado no Japão por uma comitiva que inclui, ministros Antônio Palocci Filho (Fazenda), Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), Dilma Rousseff (Minas e Energia), Roberto Rodrigues (Agricultura) e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, além de 250 empresários.

Voltar ao topo