Lula diz que o Brasil segue a Coréia

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou seu discurso no jantar oferecido em sua homenagem pelo presidente coreano Roh Moo-Hyun para lembrar que a Coréia do Sul é admirada pelo Brasil e é um modelo para o seu governo. ?O Brasil tem procurado traçar para si mesmo uma trajetória semelhante (à da Coréia). Avançamos muito nos planos político e na macroeconomia. Temos um longo caminho a percorrer, no entanto, nos planos tecnológico e social?, afirmou Lula.

?Aprendemos, no Brasil, a respeitar a determinação e a disciplina que guiaram seu país na busca da prosperidade e do bem-estar social.? Ele lembrou que essas características possibilitaram à indústria coreana sua ?excelência tecnológica? e também levaram o país a uma política de universalização da educação e dos serviços básicos de saúde.

Lula lembrou o papel do alfabeto coreano no desenvolvimento da educação no país. Esse conjunto de letras, chamado de Hangeul, foi criado no reinado de Sejong, o Grande, no século 15. Antes, a Coréia utilizava o conjunto de ideogramas chineses, que, por ser muito numeroso e diverso, torna mais difícil a alfabetização.

?A escrita coreana, criada no século 15, bem ilustra a inventividade e poder de adaptação dessa nação. Pela sua precisão e poder expressivo, essa escrita tornou-se a grande guardiã da integridade cultural coreana diante de sucessivas invasões por poderosos vizinhos?, afirmou Lula. ?Pela sua simplicidade, favoreceu os esforços de alfabetização maciça da população?, completou, lembrando que essas características também fazem a Coréia ser hoje um dos paises ?mais adiantados em matéria de inclusão digital?.

Como já havia sido divulgado no comunicado conjunto dos presidentes, Lula lembrou que ?a atenção da comunidade internacional está voltada para a Península Coreana? para reafirmar que ?o Brasil solidariza-se com o empenho do governo do presidente Roh para reduzir as tensões na região?.

Atualmente, a Coréia do Norte desenvolve um programa nuclear e abandonou as negociações para o desarmamento na região, mantidas por Estados Unidos, Coréia do Sul, Japão, Rússia e China. Por causa disso, o país é considerado parte do chamado ?Eixo do Mal? pelo governo do norte-americano George W. Bush. ?Compartilhamos a convicção de que será por meio do diálogo e do engajamento construtivo que se alcançará a reconciliação definitiva do povo coreano?, disse Lula, em referência à divisão da Coréia, que perdura desde os anos 50s, após o fim da Guerra da Coréia.

O jantar encerrou a agenda oficial de Lula na Coréia do Sul. Hoje, às 9h, a comitiva brasileira embarca para Tóquio, no Japão, onde o presidente tem agenda oficial até amanhã. A programação inclui encontros com autoridades e empresários. No sábado, o grupo segue para Nagoya, onde Lula mantém encontros com a comunidade de brasileiros no Japão. No fim do dia, a comitiva retorna para o Brasil.

Negócios entre países pode chegar a US$ 7 bilhões

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse ontem que as relações comerciais entre Brasil e Coréia do Sul podem chegar a US$ 6 bilhões ou US$ 7 bilhões em dois anos. Hoje, segundo Amorim, as trocas entre os dois paises alcançam US$ 3 bilhões, por números brasileiros, e US$ 4 bilhões, segundo os coreanos. O ministro diz não saber por que existe essa divergência nos números.

Para Amorim, a viagem da comitiva brasileira liderada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva serviu como ?consolidação de uma relação especial?, já que o presidente coreano, Roh Moo-Hyun, esteve no Brasil ainda em 2004.

Durante entrevista coletiva, o chanceler destacou a importância do ?componente empresarial? da viagem. ?As perspectivas de investimentos são muito grandes?, afirmou Amorim.

Em particular, o chanceler destaca o sinal verde dado pelo presidente Lula durante encontro com empresários para a instalação do Banco de Desenvolvimento da Coréia no Brasil. O objetivo será o de apoiar investimentos de empresas coreanas ou de interesse da Coréia no País. ?A disposição do banco é uma demonstração clara de que as perspectivas são enormes?, disse o ministro.

Segundo a Divisão de Operações de Promoção Comercial do Itamaraty, o Korea Development Bank (Banco de Desenvolvimento da Coréia) é um banco de capital estatal fundado em 1954 e tem o objetivo de ?gerir e suprir fundos para indústrias coreanas?. Atualmente, segundo o Itamaraty, o KDB tem 35 agências na Coréia, mais cinco no exterior (Tóquio, Nova York, Cingapura, Londres e Xangai). O banco também tem dois escritórios de representação e três subsidiárias internacionais.

O KDB tem atualmente capital total de 167 bilhões de wons – aproximadamente US$ 167 milhões.

Presidente quer ?vender? carne bovina

O Brasil controla cerca de 20% do mercado mundial de carne bovina, segundo o FAO (Fundo para Agricultura e Alimentação das Nações Unidas), mas o governo quer mais: ?O presidente Lula tem fixação para que o Brasil venda carne brasileira no exterior?, disse o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Luiz Fernando Furlan, que integra a comitiva de autoridades e empresários brasileiros em viagem para a Coréia do Sul e o Japão em busca de novos negócios – em especial ligados à carne.

Os sul-coreanos, assim como os japoneses, não compram o produto por questões sanitárias envolvendo a febre aftosa no Brasil. O tema foi discutido no encontro entre Lula e o presidente sul-coreano, Roh Moo-Hyun, segundo Furlan.

O ministro disse que foi acertado que os dois países vão intensificar a questão sanitária para que o Brasil possa no futuro ser autorizado a vender carne bovina como já se vende a de frango.

?MP do bem?

Outro ministro que acompanha o presidente Lula é Antônio Palocci, da Fazenda. Ele comentou que os empresários coreanos gostaram muito da ?MP do bem? – a medida provisória do governo brasileiro que desonera de impostos federais as empresas que querem investir no Brasil.

Palocci disse que os coreanos têm investimentos programados para o Brasil nos setores de siderurgia e eletrônicos e que serão beneficiados com a ?MP do bem?.

Segundo o ministro, os investimentos estrangeiros no Brasil estão aumentando e o governo está criando benefícios para tornar o País mais atrativo do que países como a Índia.

O governo indiano tem um esquema equivalente à ?MP do bem? e estava disputando com o Brasil os investimentos que a Posco, a maior siderúrgica da Coréia do Sul e uma das maiores do mundo, quer fazer.

Depois do anúncio da ?MP do bem?, a Posco acabou escolhendo o Brasil como destino de seus recursos.

Palocci disse que o governo brasileiro vai continuar reduzindo progressivamente os impostos sobre investimentos até o final do governo.

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