José Alencar volta a criticar os juros

Brasília – O vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, considerou hoje (15) muito tímido o corte de 0,5% na taxa de juros feito pelo Banco Central (BC) na última quarta-feira e desferiu novos ataques à política econômica do governo. Ele disse que os juros reais de 12,5% que o Brasil paga são dez vezes maiores do que no mundo desenvolvido e estrangulam a capacidade de investimento do País. "Enquanto as atividades produtivas não puderem remunerar os custos de capital, não haverá investimentos como o Brasil precisa e pode", observou.

Segundo o Alencar, "o potencial brasileiro permite muito mais investimentos" do que os feitos atualmente no País. Ele falou aos jornalistas após presidir, no Grupamento de Fuzileiros Navais, a entrega da Ordem do Mérito da Defesa a 228 autoridades civis e militares.

Ele reconheceu que a decisão do Copom indica uma tendência de queda, mas disse que só vai ficar satisfeito quando o Brasil adotar os juros do mercado externo. "As nossa taxas ainda estão elevadíssimas", criticou, citando o exemplo da Colômbia, que paga um quinto desse valor.

O governo, a seu ver, comete um equívoco ao prestigiar o capital frente à atividade produtiva, esquecendo-se, conforme destacou, de que "o capital é apenas um dos fatores de produção". Para o vice-presidente, os empresários estão sendo estimulados a aplicar seus recursos no mercado financeiro porque não conseguem remunerar o custo do capital quando aplicam em atividade produtiva. "Nós estamos premiando a especulação financeira em detrimento da produção", observou.

Alencar não entende também por que o Brasil mantém a indexação dos preços administrados, como as tarifas de energia, transporte telefonia e água, que acabam contaminando a inflação do País. Ele calcula que a indexação das tarifas de serviços básicos, junto com os preços cartelizados do petróleo, elevam a inflação em cerca de 30%. "Cerca de 1,5% da inflação de 5% advém desses itens. Não há taxa de juros capaz de combater isso", explicou.

Para ele, o País vive um falso dilema inflacionário. "Eu quero inflação zero, mas para isso é preciso denunciar essa indexação de serviços públicos", enfatizou. Alencar recordou que a grande força do Plano Real, criado pelo governo anterior, foi a desindexação da economia. Mas lamentou que, com as privatizações as companhias de energia começaram a adotar cláusulas de correção monetária, estendidas depois a outros serviços públicos.

Segundo o vice-presidente, os juros vão cair daqui em diante por força da pressão nacional. "A média da taxa básica real de 40 países é um décimo da taxa básica que nós praticamos. Então a nossa deve estar errada, não é possível. Não precisa ser especialista para ver isso", criticou.

Ele disse também que dois terços da população brasileira consome apenas o essencial e, para essa maioria, o combate à inflação por meio da taxa de juros é um mecanismo cruel. "Não tem como achatar o consumo de quem consome o essencial, portanto, elevar os juros é medida inócua para inibir o consumo de dois terços da nossa população.

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