Inexperiência provoca fuga de investimentos na Bolívia

Para a Economist Intelligence Unit, o quadro atual da Bolívia é de fuga de investimentos, com inexperiência administrativa do Estado. O governo boliviano pretendia chegar ao fim deste ano com déficit fiscal de 3,2% do PIB. Mas fechou julho com superávit de 5,2%, porque a arrecadação explodiu, com a elevação da tributação sobre as petrolíferas, e a equipe de Evo Morales não consegue investir ou gastar.

Neste cenário, a Petrobras tem força total. Estima-se que os impostos pagos pela empresa correspondam a 10% de toda a arrecadação boliviana (quase US$ 1 bilhão). No entanto, o efeito mais perverso do processo de negociação que se arrasta desde 1.º de maio é a paralisação dos investimentos nos pequenos e médios campos de petróleo.

Por outro lado, a forte relação de dependência entre Brasil (que precisa do gás boliviano para abastecer as indústrias paulistas) e Bolívia (que vende 26 milhões de metros cúbicos de gás por dia ao País) também começa a pender favoravelmente para a margem brasileira.

Para conseguir convencer o governo boliviano a voltar atrás na portaria que previa a transferência do controle das refinarias da Petrobras para a YPFB (a estatal boliviana do setor), há cerca de duas semanas, o Brasil ameaçou reduzir a importação de gás. As autoridades brasileiras argumentaram que a saída seria comprar gás em estado líquido – que pode vir em navios e não precisa de gasodutos – de outros países, inclusive da Venezuela.

?É difícil prever como será o comportamento do governo boliviano. O certo é que não há por que romper relações com a Bolívia, que vive momentos de excitações e hesitações?, disse o presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), José Botafogo Gonçalves.

?A situação é complicada, pois existe um componente político-ideológico. É possível que se encontrem soluções razoáveis para a saída da Petrobras do refino, com condições reciprocamente aceitáveis, sem que seja comprometido o abastecimento de gás?, afirma o ex-ministro das Relações Exteriores Luiz Felipe Lampreia.

Na visão do ex-ministro boliviano dos Hidrocarbonetos Mauricio Medinaceli, antecessor de Andrés Solíz Rada – que pediu demissão há cerca de dez dias -, o governo boliviano não trabalha com a hipótese de não fechar um entendimento com a Petrobras:

?Não vejo motivos para que a Bolívia arrisque seu relacionamento com a Petrobras. Não podemos esquecer que o gasoduto que transporta o gás para São Paulo não pode ser redirecionado. Se o Brasil não comprar mais nosso gás, teremos um problema grave?.

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