Greve dos fiscais prejudica exportações

A greve dos fiscais federais agropecuários, iniciada na última segunda-feira, já está trazendo prejuízos a uma das grandes indústrias de derivados de leite e carne suína do Paraná, a Frimesa, com sede em Medianeira (oeste do Estado). Segundo o diretor-executivo da empresa, Elias José Zydeck, a indústria não está exportando desde segunda-feira, quando médicos veterinários do Ministério da Agricultura aderiram à paralisação.

Segundo Zydeck, o mercado externo exige que o certificado do Serviço de Inspeção Federal (SIF) seja assinado por alguém do setor público. Para Zydeck, a liminar obtida pelo Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Paraná (Sindicarnes-PR), autorizando a contratação de veterinários particulares para desempenhar a função dos fiscais parados, não está surtindo efeito.

?Para o mercado interno está tudo normal. Os técnicos estão trabalhando e eles têm autonomia para emitir certificação de produtos para circulação nacional. O problema está nas exportações. Estamos com sérios problemas em função da não-emissão dos certificados?, afirmou Zydeck. Segundo ele, a empresa conta com veterinários próprios, mas não é suficiente. ?A posse dos certificados é do sistema de inspeção?, explicou. De acordo com o diretor, existem programações de embarque e prazos de entrega que não estão sendo cumpridos. ?A situação é grave?, apontou. No frigorífico da Frimesa, em Medianeira, atuam dois médicos veterinários, três técnicos e 21 funcionários na área de inspeção. A indústria conta ainda com outros dois veterinários, nas unidades de lácteos.

A Frimesa exporta, por mês, cerca de mil toneladas de carne suína e 600 toneladas de derivados lácteos. ?A partir de quarta-feira (hoje), a produção destinada à exportação terá que parar?, prevê.

Em meio a tantos contratempos – política cambial desfavorável, greve dos fiscais federais, suspeita de febre aftosa no Paraná-, a Frimesa pensa em reduzir ou até mesmo deixar de exportar a partir do ano que vem. ?Estamos revendo a estratégia de exportação para o ano que vem. Vamos rever o mix de produtos e direcionar novidades para o mercado interno?, revelou. As exportações, segundo Zydeck, respondem atualmente por cerca de 18% do faturamento da empresa.

80% em greve

Conforme levantamento preliminar da delegacia do Ministério da Agricultura no Paraná, pelo menos 80% dos fiscais federais agropecuários do Estado aderiram à paralisação. Segundo o delegado regional do Ministério da Agricultura, Valmir Kowaleski, a Advocacia Geral da União (AGU) deve entrar com recurso para tentar derrubar a liminar obtida pelo Sindicarnes-PR na última segunda-feira. No Paraná, atuam cerca de 230 fiscais federais agropecuários.

Com relação ao resultado definitivo dos exames feitos nos animais suspeitos de aftosa, o delegado afirmou que deve ficar pronto até amanhã, segundo informações do diretor do Laboratório Nacional da Agropecuária (Lanagro), em Belém do Pará. Sobre a demora da divulgação dos laudos – as primeiras amostras colhidas foram enviadas há quase três semanas para o laboratório -, Kowaleski afirmou que a ?demora depende do material coletado e das provas sucessivas realizadas.? ? Como é uma prova biológica, há várias interferências desse cultivo celular?, disse. Segundo ele, o fato de as amostras terem sido colhidas a partir de lesões escassas e discretas dos animais, também dificultaram a agilidade dos resultados. ?Não se trata de um material ruim. Acontece que as lesões nos animais eram pequenas?, esclareceu.

Laudo sobre aftosa no Paraná sai amanhã

O laudo definitivo sobre a existência ou não de febre aftosa no Paraná deve ser divulgado amanhã pelo Laboratório Nacional da Agropecuária (Lanagro), de Belém, que está analisando o material coletado dos animais sob suspeita. Os exames realizados até ontem, incluindo as vísceras de um animal abatido, não constataram a presença do vírus causador da doença, de acordo com o chefe do setor de virologia do Lanagro, Antônio Júlio Montenegro.

Já o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, disse ontem que aguarda para, no máximo, até o final da semana o resultado dos exames de material colhido em animais do Paraná com sintomas de febre aftosa.

A suspeita de contaminação no Estado foi anunciada pela Secretaria de Agricultura do Paraná no dia 21 de outubro. Em audiência convocada pelas comissões de Agricultura e de Fiscalização e Controle da Câmara dos Deputados, para falar dos focos de aftosa no Mato Grosso do Sul e da suspeita no Paraná, Rodrigues disse que esperava a confirmação positiva ou negativa até ontem. ?Mas até agora, mesmo com exames mais completos e mais aprofundados, as análises do Lanagro deram negativo. Para mim, seria até politicamente mais fácil explicar que o foco no Paraná existe e seria proveniente do Mato Grosso do Sul do que dizer que os sintomas dos animais daquele estado não foram confirmados?, observou o ministro.

?Suspeita-se que os animais doentes do Paraná sejam oriundos de leilões realizados em Maringá e Toledo (PR), onde foram comercializados animais de Eldorado, cidade onde foi registrado o primeiro foco no Mato Grosso do Sul?, explicou.

O Ministério da Agricultura definiu como área de risco sanitário 36 municípios do Paraná: os quatro onde foram encontrados os animais doentes – Maringá, Grandes Rios, Amaporã e Loanda – além de outros 32 vizinhos. (ABr e AE)

Ministro admite diagnóstico precipitado

Brasília (AE) – O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, admitiu ontem que pode ter se precipitado ao considerar como foco as suspeitas de febre aftosa em quatro municípios do Paraná. No dia 22 de outubro, o ministro disse que a possibilidade da doença no rebanho paranaense chegava a 90% por causa do contato do rebanho do Paraná com o de Mato Grosso do Sul.

Por causa da suspeita, o comércio de carne de animais vivos, carne industrializada e subprodutos de 36 municípios do Paraná para outros Estados foi suspenso. A medida prejudicou a economia dos municípios interditados e impôs prejuízos aos produtores de leite locais, que foram obrigados a jogar fora toda a produção leiteira.

Em audiência pública na Câmara dos Deputados, Rodrigues reconheceu que pode ter havido precipitação da área técnica do Ministério da Agricultura. No entanto, classificou como ?tempestivas e positivas? as ações adotadas pela Secretaria de Agricultura do Paraná.

A possibilidade de ajuda aos pecuaristas do Paraná prejudicados com a restrição de trânsito, segundo o ministro, será analisada caso não se confirme a suspeita do foco. Essa avaliação depende dos resultados dos exames de animais suspeitos do rebanho paranaense.

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