Fraga culpa candidatos à Presidência por tensão na economia

O presidente do Banco Central, Armínio Fraga, concentrou hoje (9) nos candidatos à sucessão do presidente Fernando Henrique Cardoso a responsabilidade pela geração de um clima de desconfiança e de medo em relação ao futuro do País, que vem minando principalmente o setor financeiro. Fraga criticou severamente a divulgação de idéias ?exóticas e ortodoxas? em ?conversas de esquina? dos dois candidatos, como a adoção de medidas de controle de câmbio no País. Defendeu ainda que a situação é difícil, porém ?administrável?, e deixou claro que não bastam ?comunicados? assinados por ambos os concorrentes à Presidência para a superação da crise.

?Os candidatos precisam ser mais enfáticos, perseverar mais e rechaçar abertamente caminhos estapafúrdios?, afirmou Fraga, que se colocou novamente à disposição de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, e de José Serra, do PSDB, para conversas sobre a situação do País. ?A hora é de se fazer debates e de se deixar tudo com clareza?, completou.

Segundo Fraga, a iniciativa dos candidatos de trazerem a público seus programas de governo e de assumirem compromissos de responsabilidade fiscal e de respeito aos contratos e de manutenção da estabilidade da moeda, antes do primeiro turno, garantiu ao País a conclusão do novo acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) em uma época nada favorável para a América do Sul.

Mais especificamente, garantiu o acesso a uma linha de US$ 30 bilhões e a mais US$ 3 bilhões, do Banco Mundial. Para ele, no presente momento, a incoerência entre os discursos públicos dos candidatos ao segundo turno e suas conversas privadas estariam na base da crise enfrentada pelo País. ?Não adianta o candidato fazer um discurso político forte e, em conversa de esquina, fazer um discurso diferente. Essa conversa pode ter repercussão. É uma coisinha dita…?, afirmou. ?Vejo no ar idéias como o controle de câmbio. Isso é uma maluquice. Controle de câmbio é incompatível com a democracia e com a liberdade individual?, acrescentou, em referência a uma proposta defendida pelo megainvestidor George Soros, seu ex-empregador.

O presidente do BC ainda insistiu em sua tese de que a crise financeira enfrentada pelo País é contornável, desde que haja maior clareza de posições, coerência e sangue frio pelos candidatos. Várias vezes ao longo da entrevista, Fraga repetiu que existe uma noção negativista e ?complexa? na sociedade brasileira em relação ao futuro do País, uma ?perplexidade? em relação à desvalorização do real, e um ?clima de que o Brasil não dará certo, de que é inviável?. Esse ambiente de medo teria sido motivado pelo discurso dúbio dos candidatos.

Questionado por jornalistas presentes se a responsabilidade por essa crise não seria também o resultado de erros cometidos pelo atual governo e, em especial, por sua própria equipe, Fraga irritou-se. Rechaçou a insinuação de culpa da atual administração e de uma possível tendência a apoiar o candidato oficial e saiu em autodefesa. ?Não admito qualquer insinuação desse tipo. Nunca houve viés (político) na nossa atuação, nem de um lado nem por outro?, declarou. ?Não vejo o que poderia ter sido feito de maneira diferente. Um leilão ou outro, talvez. Temos tomado decisões extremamente difíceis, em um ambiente complicado. Na média, acho que acertamos?, completou.

As declarações iniciais de Fraga geraram um clima tenso em parte dos jornalistas que, em um primeiro momento, consideraram o discurso do presidente do BC mais favorável ao candidato do governo à sucessão, José Serra. Essa impressão suscitou seguidas perguntas a respeito de suas intenções com a convocação da entrevista, ocorrida logo depois de Fraga ter almoçado com o Fernando Henrique e com o ministro da Fazenda, Pedro Malan. ?Vocês estão batendo no mensageiro. Do que eu vejo do que capto nas conversas com as empresas, com as pessoas nas ruas, com as autoridades acadêmicas e financeiras?, afirmou, recusando-se a responder se seria o intermediário do presidente.

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