FMI analisa vender parte do ouro

A venda de parte das reservas de ouro do Fundo Monetário Internacional (FMI) para financiar o alívio da dívida dos países mais pobres é um dos assuntos que devem ser decididos hoje pelas 184 nações que fazem parte do organismo, na reunião conjunta do FMI com o Banco Mundial. No entanto, o diretor-gerente do Fundo, Rodrigo Rato, alertou os países ricos – cujo voto será essencial para aprovar essa operação – que essa iniciativa não será suficiente para reduzir significativamente a pobreza naqueles países.

Washington (AG) – A proposta da venda, feita pela Grã-Bretanha, estipula que ela serviria para cobrir uma parcela de cerca de US$ 6 bilhões que os países africanos devem ao próprio Fundo. Rato sugeriu que, embora o gesto fosse elogiável, seria preciso que os países ricos fizessem mais para ajudar os necessitados:

?Se decidirem a venda para pagar a dívida deles com o Fundo, será preciso levar em consideração que aquele volume não chegará a cobrir 20% da dívida total. Portanto, vamos necessitar de uma estratégia mais ampla?, alertou o diretor-gerente do FMI.

O governo do Brasil tem uma posição semelhante. É favorável à venda do ouro, mas também sugere que seja feito algo mais pelos países do Terceiro Mundo. O essencial, segundo disse o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, que participa da reunião, seria que os países industrializados derrubassem as barreiras comerciais impostas aos produtos dos demais:

?Os países mais pobres seriam fortemente beneficiados com políticas comerciais mais abertas. Não há motivo para manter protecionismo tão elevado?, afirmou o ministro.

?Por isso é preciso trabalhar nos fóruns de negociação comercial, para que avance a abertura do comércio, principalmente na área agrícola. Isso fará com que países em desenvolvimento e pobres obtenham resultados não por doação, mas pelo seu próprio esforço produtivo, o que é significativo?.

É preciso cautela para não abalar o mercado

Para o Fundo Monetário Internacional (FMI), o alívio da dívida é apenas uma alternativa, um primeiro passo. O seu diretor-gerente, Rodrigo Rato, insiste com os países industrializados sobre a necessidade de eles oferecerem uma contínua e maior assistência financeira aos pobres: ?Aproveito a oportunidade para, mais uma vez, sublinhar a necessidade do envio de recursos adicionais para financiar o desenvolvimento?.

O ministro da Fazenda, Antônio Palocci, por sua vez, acrescentou que o Brasil participou do esforço dos países de renda média e dos ricos para perdoar a dívida, e agora insistirá para que isso seja complementado por uma mudança de atitude:

?Nós achamos que a diferença e a desigualdade econômica que separam continentes inteiros precisam ser combatidas com boas políticas. Não há sentido em não evoluir, em não buscar iniciativas que promovam o bem-estar dos mais pobres. Tenho tratado disso diretamente com o secretário do Tesouro americano, John Snow, e com outros?.

Rato disse que uma eventual venda do ouro do FMI teria de ser feita de forma prudente, para não causar transtornos no mercado. Segundo fontes do Fundo, ?há uma grande simpatia interna? para que operações desse tipo sejam realizadas. No entanto, um forte lobby das grandes mineradoras da África do Sul, da Austrália e do Canadá e pressões contrárias do Congresso dos Estados Unidos seriam entraves à venda.

Aqueles países alegam que se o FMI se desfizer de parte de seu ouro haverá uma queda do preço desse metal no mercado mundial, causando perdas em suas exportações, além de desemprego em alguns dos países que a instituição estaria tentando ajudar, como a Tanzânia e o Peru – que são produtores de ouro.

Parlamentares de 11 estados americanos enviaram recentemente uma carta ao secretário do Tesouro dizendo que ?uma transação dessas poderia provocar efeitos adversos no mercado?. Eles disseram ainda que, como a maior porção do ouro que está no FMI pertence aos EUA, a venda significaria que os contribuintes americanos ?estariam pagando o preço de maus empréstimos feitos pelo Fundo?.

O FMI tem o terceiro maior estoque de ouro do mundo, num total de 103,4 milhões de onças – que hoje valem cerca de US$ 44 bilhões. Qualquer transação desse tipo exige a aprovação de ao menos 85% dos acionistas do FMI. Ou seja: é essencial a concordância dos EUA, que detém 17% do poder de voto no organismo.

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