FHC: mercados ignoram esforços e destroem tudo

Guaiaquil

  – Escolhido como orador principal da II Reunião de presidentes da América do Sul, no Equador, o presidente Fernando Henrique Cardoso fez um duro discurso contra a lógica dos mercados financeiros e a falta de uma instituição internacional que possa controlar a atuação do setor. Em tom de desabafo, Fernando Henrique disse que passou os últimos dez anos – dois como ministro da Fazenda e quase oito como presidente -cumprindo o receituário econômico para administrar o país de forma responsável.

Segundo o presidente, os mercados não compreendem esses esforços e destroem em pouco tempo o que levou anos para ser construído. O presidente afirmou que não há como rebater essas pressões do mercado financeiro. Ele criticou indiretamente a atual postura dos Estados Unidos e, sem citar o nome do presidente George Bush, disse que falta uma liderança política que faça com que o mundo entenda que não se pode mais caminhar nesse clima de incertezas.

“Não há como rebater certas pressões do mercado financeiro, que destróem em pouco tempo o que se levou tantos anos para construir. É essa ordem mundial que queremos? Não temos mais como continuar com essa incerteza e com o risco que não se pode mais calcular”, disse o presidente. Segundo Fernando Henrique, o Brasil passou uma década aplicando os ensinamentos de manutenção do superávit primário, pagamento das dívidas, e manejo das variáveis da economia com responsabilidade e, mesmo assim, a situação hoje não é de tranqüilidade.

“Não fiz outra coisa nesses dez anos senão reconstruir o Estado brasileiro, manter viva, mesmo com ajustes, uma política social. E, mesmo assim, parece que os mercados financeiros não entenderam”, desabafou o presidente. Numa referência indireta ao processo eleitoral brasileiro, Fernando Henrique disse que os mercados financeiros fazem as suas profecias e passam a atuar para que elas se tornem realidade, mesmo que sem ter nenhuma certeza de que essas fatos vão se concretizar.

O presidente se referiu ao fato de os investidores internacionais temerem uma vitória de um candidato da oposição e afirmarem que isso mudaria os rumos da economia. “E fazem isso por uma desconfiança básica de que setores da sociedade podem mudar tudo o que está se fazendo e passem a agir com irresponsabilidade. Mas, por que esses setores atuariam com irresponsabilidade se o sentimento na região não vai nessa direção”, disse ele, rebatendo a tese do mercado.

Segundo Fernando Henrique, as forças políticas mundiais não se empenharam, durante os últimos dez anos, em debater a criação de um organismo internacional de controle dos mercados. Para o presidente, hoje se fala a linguagem do unilateralismo, e não do multilateralismo. Numa crítica aos EUA, ele disse que o G-7 e o G-8 muitas vezes se reúnem com a suspeita de estar se encontrando apenas “para ratificar a decisão de um só”. Falta, na opinião do presidente, alguém que comande o mundo numa outra direção. Devido ao unilateralismo, disse Fernando Henrique, a integração entre União Européia e Mercosul não avança, e só terá resultado para futuras gerações. Esse também seria o motivo de a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) estar estagnada, segundo o presidente. Sobre o Brasil, o presidente disse que o governo faz seu ?dever de casa? para garantir a normalidade dos fundamentos econômicos nacionais.

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