Ferrugem asiática ameaça produção nacional de soja

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Manchas na folha são
o principal sintoma.

Os produtores de soja estão com as suas atenções voltadas para uma doença na lavoura que pode causar muitos prejuízos: a ferrugem asiática. O desenvolvimento dela ocasiona a redução no número de grãos e do seu peso, gerando perdas na produção. As propriedades com plantações de soja estão em alerta, para evitar a contaminação.

De acordo com a Embrapa Soja, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, a ferrugem asiática está presente em onze estados brasileiros (Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul, Maranhão, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Santa Catarina, Tocantins e Rondônia) e no Distrito Federal. O Paraná, segundo produtor brasileiro de soja, possui o maior número de focos de ferrugem no País. São 141 regiões dentro do Estado onde existe a presença da doença. Mas a Embrapa garante que não haverá grandes perdas no Paraná.

Fungo

A ferrugem asiática é causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi e foi relatada pela primeira vez no Japão, em 1902. No Brasil, há notícias do aparecimento da doença em 1947. Os principais sintomas da ferrugem ocorrem nas folhas, normalmente as localizadas nas partes baixas da planta. São minúsculos pontos escuros, de no máximo um milímetro de diâmetro, com coloração esverdeada. O agricultor ou o técnico consegue identificá-la ao colocar a folha contra um fundo claro. Na face inferior da folha, nota-se saliências onde os fungos estão situados.

A ferrugem pode ser confundida com outras doenças e, se houver dúvidas em sua identificação, as folhas suspeitas devem ser encaminhadas para laboratório. O diretor executivo da Cooperativa Central de Pesquisa Agrícola (Coodetec), Ivo Carraro, conta que o fungo somente se desenvolve quando há a junção de três condições: a presença de um hospedeiro (a soja), umidade e temperaturas amenas (menores de que 28ºC). "Nos locais em que o tempo está seco, não deverá haver conseqüências graves. O problema é maior se houver muita umidade", afirma.

Os fungos causadores da ferrugem são disseminados com o vento. "Somente temos hipóteses de onde o fungo pode ter vindo. Acreditamos que seja a África, continente onde há várias plantações de soja e a presença de ferrugem asiática", revela o implementador estadual do Projeto Grãos da Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), Fernando Adegas. Em 1998, a doença se tornou epidêmica no Zimbabwe, ocasionando perdas de 60% a 80% na produção de soja.

A ferrugem está realmente incomodando os produtores brasileiros há três safras, de acordo com ele. Houve grandes perdas na Bahia dois anos atrás e somente algumas localizadas em 2004. Os focos começaram a aparecer desde o início do ano, fase em que os primeiros cultivos começaram a florescer. É justamente nesta época que os fungos passam a surgir com mais facilidade. O constante monitoramento da plantação é a principal recomendação dos técnicos especializados para evitar as perdas na produção.

Consórcio

O governo federal, por meio do Ministério da Agricultura, criou o Consórcio Anti-Ferrugem para centralizar todas as informações sobre a doença no País. Diversas entidades e empresas constituíram uma parceria para divulgar as orientações necessárias aos produtores e deixá-los em alerta. O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, disse há duas semanas que a força-tarefa vai impedir o avanço da ferrugem na safra 2004/2005. Ele afastou a possibilidade de prejuízos neste ano, mas reconheceu que a última safra teve perdas de US$ 3 bilhões por causa da doença.

Para o pesquisador de fitopatologia da Embrapa Soja, Rafael Soares, o Paraná é o Estado com um grande número de focos porque a cobertura de assistência técnica é maior do que em outros locais. Ele comenta que a ferrugem se tornou um problema de extrema gravidade. "O problema não é maior aqui do que em outros estados. Depois que aparece, não tem como erradicar. O produtor vai ter que aprender a conviver com a ferrugem", salienta. Soares acredita que não haverá grandes perdas no Paraná. "De maneira geral, todas as áreas estão sendo bem monitoradas. Os estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul possuem áreas mais extensas, o que pode gerar problemas em escala maior. Além disso, lá o clima também está bastante favorável.

O pesquisador informa que a doença está se multiplicando, reforçando a tendência de que as plantas colhidas tardiamente poderão sofrer mais com a ferrugem asiática. "Estas vão precisar de mais fungicida, ao menos duas aplicações. Os cultivos mais precoces podem escapar com apenas a pulverização. Tudo também depende das condições climáticas", declara.

O monitoramento das plantações está sendo realizado de diversas maneiras. Uma delas é a utilização de unidades de alerta. A soja é plantada em pequenas proporções, antes do cultivo propriamente dito, com o objetivo de verificar o surgimento da ferrugem. "Estas unidades florescem antes do restante da lavoura. A doença vai ocorrer nesta proporção, sendo um indicativo para a aplicação de fungicida", esclarece Soares.

Orientações

O acompanhamento junto aos produtores também está sendo realizado pela Emater. De acordo com Adegas, toda a estrutura do órgão foi adaptada para a assistência contra a ferrugem asiática. Parcerias foram firmadas para colocar à disposição três laboratórios que identificam a doença. "Os monitoramentos estão sendo realizados junto aos agricultores intensivamente. Os técnicos passam recomendações importantes para a preservação da lavoura. Se a ferrugem não apareceu até agora na propriedade, nem mesmo nas áreas vizinhas, o acompanhamento continua. Se já apareceu, é preciso aplicar fungicida. Caso a lavoura ainda esteja intacta, mas nas vizinhas a doença surgiu, o técnico analisa o estágio para verificar se vai aplicar fungicida de imediato ou não", aponta.

Os produtores ligados às cooperativas estão com uma boa assistência de cobertura, segundo Carraro, da Coodetec. "O prejuízo com a ferrugem, se tiver, será muito pequeno. Isso vai acontecer se o trabalho efetivo dos técnicos das cooperativas continuar. Eles estão fazendo a identificação correta e em tempo certo. Dada a devida atenção, a doença poderá ser controlada corretamente. Somente terá perdas quem realmente não estiver atento para o que está acontecendo", ressalta. De acordo com ele, o acompanhamento do cultivo deve ser feito pelo menos uma vez por semana. A Coodetec também disponibiliza um laboratório para análises das folhas com suspeita da doença.

Fungicidas

Para as empresas de insumos agrícolas, o aparecimento de ferrugem asiática nas lavouras de soja é um bom negócio. Os produtores brasileiros poderão gastar R$ 1,5 milhão com fungicidas nesta safra para combater a doença. Os técnicos destacam a importância de saber o momento correto de aplicar o veneno porque, com doses desnecessárias, os gastos com fungicidas podem extrapolar os custos iniciais dos agricultores.

Segundo o Ministério da Agricultura, a solução definitiva para este quadro será a utilização de variedades de soja resistentes ao fungo. A Embrapa está investindo em um projeto que visa desenvolver sementes mais eficientes contra a ferrugem ou que requeiram menos fungicidas. Cerca de R$ 18 milhões já foram destinados a este estudo. Se não houver um tratamento preventivo, 80% das plantações de soja do mundo estarão sujeitas à ferrugem asiática.

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