Faturamento do produtor rural já caiu 39%

Desde o início da atual crise na agricultura, em 2004, chega a 39% a perda de faturamento do produtor paranaense nas três principais culturas do Estado – soja, milho e trigo. Enquanto há dois anos o faturamento médio por hectare era de R$ 1.407,01, nesta safra o faturamento/hectare deve estar reduzido a R$ 859,00 – uma diminuição de R$ 547,15/ha (39%). O cálculo foi feito pela economista da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), Gilda M. Bozza, levando em conta dados de área, produção, produtividade e preços recebidos.

Nesses dois anos, no caso específico da soja, 76% da perda de faturamento são resultantes da queda de preços; 20% da queda de produção e 4% da redução de área. Entre 2004 e 2006 houve expressiva redução dos preços dos produtos agrícolas: a cotação da soja recuou 36,5%, o milho caiu 25,8% e o trigo teve uma queda de 22,1%. A produção de soja, milho e trigo, em igual período, caiu de 24,39 milhões de toneladas para 21,93 milhões de toneladas, equivalente a uma perda de produção de 2,46 milhões de toneladas (-10%).

A redução de área nas três culturas foi de 361 mil hectares, isto é, passou de 7,84 milhões de hectares para 7,48 milhões de hectares (-4,6%). A cultura da soja registra uma queda de produção de 952 mil toneladas; o milho (safra de verão e safra de inverno) de 78 mil toneladas e o trigo, uma queda de 1,43 milhão de toneladas.

Soja

No caso do produtor de soja é possível quantificar a perda de receita média pelo lado do faturamento e pelo lado dos custos de produção. A redução na produção de soja, no período 2004-2006, foi de 952 mil toneladas (-9,30%) e a redução de área foi de 81 mil hectares.

O valor bruto de produção da cultura estimado para 2006 sinaliza uma queda de R$ 3,24 bilhões (-46,2%), passando de R$ 7,02 bilhões (2004) para R$ 3,77 bilhões (janeiro/maio de 2006). A perda de receita do produtor de soja, no período 2004/2006, pelo lado do faturamento é da ordem de R$ 826,54/ha.

Considerando que lucro é igual a receita menos custo, a elevação do custo de produção em igual período, uma média de R$ 7,00/saca (levantada junto aos produtores de diferentes regiões) e dada uma produtividade média de 50 sacas/hectare, obtém-se o valor de R$ 350,00/hectare, que somado à perda de renda de R$ 826,54/ha, totaliza R$ 1.176,54/hectare. Este é o potencial de perda de receita do produtor de soja no acumulado 2004-2006 (janeiro-maio).

Agricultor europeu quer proibir produtos brasileiros

Genebra (AE) – As mais poderosas associações de produtores e de cooperativas agrícolas da Europa pedem que a Comissão Européia ?proíba imediatamente? a importação de produtos alimentares brasileiros que não estejam dentro dos padrões de qualidade fitossanitária da Europa. Ontem, as entidades enviaram oficialmente as solicitações ao governo europeu que, se implementadas, poderiam afetar as exportações nacionais de carne de porco, ovos, maçã, mamão, além de carne de frango e bovina. O pedido ainda vem exatamente às vésperas de uma reunião dos chefes de Estado que pode desbloquear as negociações para a abertura dos mercados agrícolas da Organização Mundial do Comércio (OMC).

O pedido de proibição foi liderado pela Confederação Geral das Cooperativas Européias (Cogeca) com base em dois relatórios preparados pela própria União Européia (UE), que acusa o Brasil de desrespeitar uma série de padrões internacionais na produção. No final de 2005, os europeus realizaram uma inspeção no País para avaliar a situação fitossanitária. Em abril, as análises ficaram prontas e concluíram que o Brasil não oferecia condições suficientes para que alguns produtos pudessem entrar no mercado europeu.

A UE deu então dois meses para o governo se explicar. Brasília, porém, esperou até o último dia do prazo para enviar as explicações e as medidas que promete tomar para evitar sanções. Os documentos, porém, foram entregues em português, o que obrigará os técnicos a traduzirem os textos.

Segundo os europeus, as deficiências de controle já registradas em 2003 não foram corrigidas, as ações prometidas pelo governo não foram cumpridas, não há controle de remédios em fazendas e ainda sérios problemas nos testes em frangos. ?Fizemos inspeções em 2003 e 2005 e a situação continua igual?, alertou Todd, que confirma que os problemas estão em produtos como carnes e ovos. Ele ainda aponta que algumas medidas já foram tomadas, como o embargo ao mel brasileiro.

Frutas

Outra forte preocupação dos europeus é quanto ao sistema de controle de resíduos de pesticidas em maçã e mamão no Brasil. Segundo o relatório preparado pela UE e que serviu de base para a queixa do setor privado, o mecanismo de monitoramente é pouco efetivo e não dá garantias de que os produtos que entram no mercado europeu estão dentro das exigências impostas pela UE.

Para completar o cenário, Bruxelas alerta que no Brasil apenas um dos oito laboratórios que fazem testes de resíduos de pesticidas em produtos agrícolas é reconhecido e credenciado internacionalmente. ?As deficiências no sistema de controle de resíduos são inaceitáveis dado que a saúde dos consumidores europeus é colocada em risco?, afirmou Feiter na carta.

Negociação

O pedido de proibição, porém, não vem em um momento qualquer. As negociações na OMC estão em uma fase crítica e os europeus terão de ceder na abertura de seu mercado agrícola para que o acordo não fracasse. Mas o setor privado europeu alerta: a UE pode estar abrindo seu mercado para produtos que nem tem padrões adequados ao consumo na região.

Na segunda-feira, os chefes de Estado do G8 se reúnem em São Petersburgo, na Rússia, e tentarão desfazer o nó do debate na OMC. O Brasil defende uma abertura por parte dos europeus, que resistem.

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