Falta importado nos supermercados

Rio (AG) – Vinhos, petiscos, geléias, molhos, biscoitos, bombons e queijos importados vêm perdendo espaço nas vitrines das delicatessens. Nos supermercados, a participação dessas iguarias e bebidas finas caiu de 4%, em 1997, para 1,8% em 2001. Assustados com a alta de 20,3% do dólar desde maio, os empresários do setor prevêem queda de 35% na venda desses produtos, que deve ficar em 1,2% do faturamento de R$ 70 bilhões estimado para 2002.
Mas mesmo sob a forte pressão do dólar, os comerciantes têm consciência de que precisam manter o bom padrão de atendimento. Como alternativa, vêm abrindo espaço para pequenas e médias indústrias nacionais que oferecem artigos de qualidade, similares aos importados. Como o chucrute, produzido pela Hemmer (SC), encontrado por R$ 3,75 (600g) no Zona Sul, ou a geléia de damasco Línea diet (SP), oferecida a R$ 7,65 na Sendas.
A tradicional Lidador, que até o início da década de 90 tinha mais de 90% de artigos importados, reduziu essa participação para 80%. Nas vitrines, os consumidores encontram hoje licor de cassis Stock (por R$ 10,20), lingüiça petisquinha de porco (R$ 3) e palmito em conserva Concórdia (R$ 3,80).
– Estamos sofrendo com estas oscilações do dólar. Mas percebemos também que nosso cliente enfrenta dificuldades, por isto estamos adiamos os repasses e procurando similares nacionais que saiam mais baratos – diz Joaquim Cabral, dono da Lidador.
Como exemplo, cita o tomate seco, que vende a R$ 6,50, enquanto os italianos saem por até R$ 9. Cabral lembra que as indústrias brasileiras de queijos e vinhos decidiram investir em qualidade, para enfrentar a invasão dos importados após o real, e hoje oferecem também produtos que já competem com as boas marcas estrangeiras.
 Este comportamento é confirmado por Elizabeth Lamosa, dona da Adega do Bacalhau, no BarraShopping. Ela conta que ao abrir a loja, há seis anos, só oferecia vinhos italianos, portugueses e franceses. Com o golpe da desvalorização, em janeiro de 1999, sua primeira iniciativa foi viajar para a região produtora de Bento Gonçalves, para escolher marcas de qualidade que agradassem aos clientes. Como a Miolo, em oferta a R$ 9,98:
– O vinho nacional já representa 55% do nosso movimento. Temos Valduga, Salton e Miolo, entre outros, e a venda só cresce.
A turbulência do dólar encolheu o mercado de delicatessen. No Centro do Rio, foram fechadas pelo menos três lojas nos últimos cinco anos: de Pomerode, SuperDelli e Delícias do Mundo. No caso desta última, a rede de cinco filiais foi reduzida a duas.
O presidente da Associação Brasileira de Supermercados, José Humberto Pires de Araújo, diz que esta tendência é inevitável, se o dólar continuar inviabilizando as importações. Lembrou que a própria classe média vem buscando opções mais baratas na linha de produtos de valor agregado mais alto. Cientes dessa mudança, as empresas vêm comprando menos ou procurando produtos no mercado interno:
– O momento é delicado, mas acreditamos que vai melhorar. Enquanto isto não ocorrer, as empresas devem rever as compras e buscar os artigos atrativos aqui mesmo para não perder clientes.
É o que tem feito o Grupo Sendas, em que os importados já representaram 7% do faturamento e este ano devem ficar em 2%. Segundo Nelson Sendas, vice-presidente do grupo, se a tendência for mantida, o Natal deste ano terá bem menos importados.

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