Evo recua de acusações e culpa imprensa

Foto: Arquivo/O Estado
Evo Morales: com diferenças.

O presidente da Bolívia, Evo Morales, numa entrevista à imprensa ontem, recuou claramente das duras críticas e acusações que desferiu anteontem contra a Petrobras. Morales negou ter afirmado que a estatal brasileira é ?sonegadora de impostos e contrabandista? na Bolívia e culpou a imprensa, que segundo ele quer criar uma crise entre ele e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Morales informou que terá ?uma reunião importantíssima? hoje cedo com o presidente brasileiro. Ao ser questionado sobre a reação do presidente Lula, que se disse ?indignado? com suas declarações, Morales respondeu: ?Podemos ter diferenças, não conheço a versão do presidente Lula. Se ele disse que está indignado, pode ser uma posição de seu governo. Nós também podemos estar indignados com empresas que exploram nossos recursos naturais?.

Morales disse que ?não está expulsando? a Petrobras ou a espanhola Repsol da Bolívia. ?Queremos ela como sócia, para que isso nos permita investir, resolver com os recursos naturais os problemas econômicos e sociais de meu país?, afirmou.

Reunião hoje

Ele disse que ?as negociações e o diálogo? em torno da nacionalização das reservas de gás ?estão sempre abertos?. Segundo Morales, na reunião com o presidente Lula hoje, ?certamente acertaremos algumas bases para que sigamos aliados como países, como empresas?.

O presidente boliviano disse que a Bolívia, ao contrário do Brasil e da Venezuela, não tem uma estatal petrolífera de porte. ?A Bolívia tem todo o direito e controlará toda a cadeia de produção com seus sócios?, disse. ?A PDVSA (da Venezuela) continuará, a Repsol (da Espanha) também, e a Petrobras. E para isso o governo estabeleceu um prazo de negociação de 180 dias, de acordo com o decreto de nacionalização.?

Morales negou que tenha acusado a Petrobras de sonegadora de impostos e contrabandista. ?Eu disse que vamos investigar se as empresas petroleiras pagam ou não pagam imposto, se fazem contrabando ou não?, disse. ?Isso está sujeito a investigação, eu disse que há denúncias contra algumas empresas, não falei da Petrobras.? Ele acusou a imprensa de ter criado um mal-entendido em torno do caso. ?Se alguns meios de comunicação com terceiras intenções querem confrontar-nos, querem me colocar contra o companheiro Lula, isso não vai acontecer?, disse.

?Temos muitas coincidências com o companheiro Lula, um dirigente sindical, agora presidente, que respeito e admiro muito.? E acrescentou: ?Lamento muito se alguns meios de comunicação disseram que a Petrobras é contrabandista?.

Protesto ?de biquini? quebra rigidez do encontro

Viena (AE) – Com um cartaz nas mãos, um biquíni minúsculo e adornada com lantejoulas no corpo esguio, a rainha do Carnaval de Gualehuaychú, na divisa entre a Argentina e o Uruguai, causou estardalhaço no momento em que os sisudos chefes de Estado dos países da União Européia e da América Latina posavam para a foto oficial do encontro, ontem em Viena. Provocando sorrisos, expressões de surpresa e (poucos) gestos de contrariedade dos líderes, a performance da argentina Evangelina Carrozo serviu ao objetivo do Greenpeace de despertar a atenção do mundo para o conflito entre Argentina e Uruguai em torno da instalação de duas empresas de papel e de celulose no lado uruguaio da fronteira.

Entretanto, o cartaz que dizia ?basta de papeleiras poluidoras?, em espanhol e inglês, foi o que menos atraiu os olhares. Interessado a princípio na cartolina, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva imediatamente desviou os olhos atentos para a beldade. Néstor Kirchner fez um gesto de perplexidade com os braços, mas abriu um sorriso de satisfação ao observar o desfile da conterrânea.

Os primeiros-ministros José Luis Zapatero, da Espanha, e Tony Blair, da Grã-Bretanha, se derreteram. Mesmo Tabaré Vázquez, presidente do Uruguai, rendeu-se, bem-humorado, e riu do protesto da rainha do Carnaval contra a fábrica de celulose que ele luta para implantar. Pouco antes, ao entrar na sala onde posaria para a foto, Vázquez não havia nem mesmo cumprimentado seu vizinho Kirchner. Mas a explosão de regozijo veio do solteirão Hugo Chávez, presidente da Venezuela, que está separado há anos. ?Não pude ver nada de protesto contra papeleiras. Só vi a moça, elegante e bela como a América do Sul?, disse. ?É uma das melhores coisas desta reunião de cúpula. Eu até joguei um beijo para ela.?

O Greenpeace preparou cuidadosamente o protesto. Pouco antes da chegada dos presidentes, Evangelina Carrozo misturou-se a fotógrafos e cinegrafistas como se fosse uma repórter, discretamente vestida com um casaco. Assim que os líderes tomaram seus lugares, despiu o sobretudo e desfilou com seu cartaz, seu biquíni e suas botas até os joelhos. Imediatamente, um segurança austríaco a enlaçou pela cintura e a levou para fora.

A chamada ?guerra das papeleiras? começou há de um ano, quando as empresas do setor de papel e celulose Botnia, da Finlândia, e Ence, da Espanha, iniciaram a construção de suas indústrias na região de Fray Bentos, no Uruguai. O investimento supera US$ 1,7 bilhão. As obras, entretanto, provocaram o protesto inflamado dos moradores de Gualehuaychú, cidade do lado argentino. Eles argumentam que as fábricas irão poluir o Rio Uruguai e já trazem prejuízo ao setor de turismo.

A briga foi parar nas Nações Unidas na forma de uma queixa da Argentina à Corte Internacional de Haia, na Holanda. Embora sócio dos dois países no Mercosul, que ainda não definiu um acordo sobre regras de investimento, o Brasil considerou a disputa como uma contenda bilateral e decidiu não se envolver publicamente.

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