Energia ainda é dúvida para o crescimento

Foto: Átila Alberti/O Estado
Energia para o desenvolvimento: suficiente ou não?

O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, afirmou ontem que se o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro crescer, em média, 4,8% entre 2007 e 2010, haverá um déficit de energia de 764 megawatts (MW) médios, o que representa 1,3% do mercado total. A projeção consta no Plano Decenal de Energia Elétrica (PDEE) 2007-2016, em elaboração pela autarquia do Ministério de Minas e Energia (MME).

 ?Essa falta será suprida no próximo leilão A-3 (início do suprimento em três anos), que contratará energia para 2010?, explicou o executivo, durante o evento ?Balanço de Oferta de Energia e Regulamentação do Setor Energético Brasileiro?, promovido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Segundo Tolmasquim, o déficit previsto contempla os mercados livre e das concessionárias. O próximo leilão A-3, marcado para maio, atenderá apenas as distribuidoras. De acordo com o presidente da EPE, cerca de 16 mil MW foram inscritos até o dia 26 de janeiro para disputar a licitação. ?Os dados são preliminares?, pondera. Do volume total, 86% é oriundo de usinas térmicas, 11% de hidrelétricas e 3% de Pequenas Centrais Hidrelétricas. Além disso, 85% das usinas que se cadastraram são novas e 15%, botox (licitadas desde 2000, mas descontratadas até 2004).

Em um cenário de crescimento inferior do Produto Interno Bruto (PIB) – adotado no PDEE de 4% para o período de 2007 a 2010 – a situação do País será mais tranqüila. A expectativa é que, em 2010, haja uma sobra de 585 MW médios, o que representa um excedente de 1% do mercado total.

O PDEE 2007-2016 está previsto para o fim do primeiro trimestre deste ano. De acordo com Tolmasquim, o cenário de restrição de gás natural para as termelétricas foi considerado pela EPE na elaboração do estudo, com base nos testes promovidos pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). O executivo reafirmou que a situação de abastecimento de energia nos anos 2007 e 2008 é excelente, em razão das chuvas no início deste ano que recuperaram o nível dos reservatórios das hidrelétricas. ?As térmicas a gás natural despacharão muito pouco nesse período.?

Dilma acha que não

A ministra Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil da Presidência da República, afastou a possibilidade de falta de energia no país nos próximos anos. De acordo com a ministra, o governo federal prefere ?dar a força de sua opinião baseada na definição do Ministério de Minas e Energia?, que prevê a produção de energia suficiente para cobrir a demanda nos próximos anos.

Dilma se referia a um relatório elaborado pela Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae), do Ministério da Fazenda, segundo o qual o crescimento acelerado da economia entre 2007 e 2010 poderia fazer com que o sistema elétrico opere no limite, havendo risco de apagão.

?Uma posição dentro do Ministério de Minas e Energia diz que não corremos risco de apagão. O Ministério da Fazenda fez um estudo, o MME faz projetos e todo um controle do abastecimento de energia?, afirmou Dilma, durante visita ao estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, onde estão sendo realizadas reformas para os Jogos Pan-Americanos, que serão disputados em julho, no Rio.

A ministra reiterou que o País conta com um conjunto de obras propostas, que serão realizadas através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), anunciado pelo governo federal na semana passada. De acordo com ela, essas obras, que incluem a construção de novas usinas hidrelétricas, garantem ?um grau de suficiência do País em matéria de energia num horizonte para além de 2010?.

Petrobras nega apagão. Tourinho diz que ?preocupa?

Brasília (AE) – O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, reiterou ontem, em apresentação na sede da empresa, a ?absoluta tranqüilidade? quanto ao abastecimento de energia elétrica no País nos próximos anos. Ele citou os projetos destinados à produção de gás, entre eles o início da produção de GNL (gás líquido) em 2008, para ressaltar que haverá condições de suprir a crescente demanda pelo insumo. ?No que depender da Petrobras, não há risco de apagão?, disse.

Gabrielli destacou ainda que a auto-suficiência do Brasil em petróleo está garantida, pois a estatal espera produzir ao menos 20% a mais do que o consumo anual do País, com a manutenção da relação reserva/produção em no mínimo 15 anos.

Gabrielli reafirmou que faz parte das estratégias da empresa assegurar a liderança mundial no desenvolvimento e produção do biodiesel. ?Estamos acompanhando uma tendência mundial?, afirmou. Sobre os projetos de investimentos para os próximos anos, Gabrielli destacou as construções de novas plataformas e também os investimentos na construção do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). ?Serão impactos persistentes e duradouros no aumento da eficiência em conjunto da cadeia produtiva?, disse.

Relatório verdadeiro

O senador Rodolpho Tourinho (PFL-BA) por sua vez, disse ontem que o relatório da Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae) do Ministério da Fazenda que aponta risco de novo apagão até 2010 é ?muito verdadeiro?. Tourinho, que foi ministro de Minas e Energia de 1999 até fevereiro de 2001, afirmou ser preciso ?reconhecer que o problema existe?.

O relatório da Seae alerta sobre o risco de um novo apagão caso a economia brasileira tenha um crescimento de mais de 4% ao ano até 2010. Como reação, o Ministério da Fazenda divulgou nota afirmando que o documento não refletia a posição do ministério. O ministro Guido Mantega disse que o documento estava ?superado? e que não o levou Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em consideração.

Para Tourinho, o governo está, sim, preocupado com o futuro do abastecimento de energia. E essa preocupação, disse, está refletida no PAC, que prevê investimentos de R$ 274,8 bilhões (de um total de R$ 503,9 bilhões) só para a área energética. ?A grande preocupação do PAC é com a área de energia?, salientou.

Voltar ao topo