Dólar ignora corte de juros e continua subindo

O dólar ignorou o otimismo geral dos mercados após o corte dos juros e atingiu no fechamento de um novo recorde da história do real. O mercado de câmbio operou com pouca liquidez, pressionado pela expectativa de fortes saídas de moeda até o final do mês. A divisa norte-americana encerrou a R$ 2,897 para a venda, ligeiramente acima da cotação máxima de R$ 2,895, atingida em 1 de julho. Na contramão, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) encerrou o pregão viva-voz com avanço de 1,69%, aos 10.756 pontos e giro financeiro de R$ 510 milhões.

São Paulo

(Das agências) – “O dólar tinha que responder porque há menos investimento direto e não há espaço para a renovação de empréstimos desde o segundo trimestre”, avaliou o diretor do Banco Itaú Sérgio Werlang. A dificuldade de rolagem de empréstimos no exterior é apontada por profissionais do mercado como a pedra no sapato do mercado de câmbio. Operadores especulavam sobre uma saída de recursos, sem apontar com convicção a origem. Para um desses operadores, tratava-se de um pagamento de títulos, no exterior, com hedge feito no mercado futuro de dólar, no Brasil. Segundo o profissional, essa é a única explicação para o emparelhamento, desde a véspera, entre o contrato de dólar mais curto negociado na Bolsa de Mercadorias & Futuros, o de agosto, e a cotação da moeda no mercado à vista. O remetente dos dólares estaria comprando moeda e exercendo o seu hedge (proteção), com a venda do futuro.

Operadores também disseram que parte da corrida para o dólar ocorreu porque o Banco Central não anunciou um novo leilão para a rolagem de R$ 2,69 bilhões em papéis cambiais que vencem no próximo dia 18. Na véspera, um leilão de swap completaria a rolagem fracassou completamente.

“O mercado já estava estressado porque esperava um anúncio de um leilão de swap para a rolagem do dia 18, que não aconteceu. Além disso, há um grande banco estrangeiro que está atuando fortemente na ponta de compra desde a abertura”, descreveu o gerente de câmbio de uma corretora paulista.

O pessimismo no câmbio contrastou com o alívio visto nos demais mercados financeiros, depois que o Comitê de Política Monetária do Banco Central reduziu em 0,5 ponto percentual a taxa básica de juros da economia, agora em 18% anuais (Ver matéria na página 24). “Parece que os fundamentos da economia prevaleceram e confirmaram a lei de juro baixo, dólar caro”, comentou um operador em São Paulo.

Dívida interna dispara: R$ 653,7 bi

Brasília (Das agências) -A dívida pública mobiliária interna em junho subiu de R$ 639,39 bilhões para R$ 653,75 bilhões. O motivo principal para a subida do endividamento é a desvalorização do real frente ao dólar de 12,78%. De acordo com o coordenador da Dívida Pública, Paulo Valle, a subida da moeda americana fez com que a dívida aumentasse R$ 23,4 bilhões. O secretário do Tesouro Nacional, Eduado Guardia, disse que esse valor da dívida é “perfeitamente administrável”.

Segundo ele, o governo teve avanços importantes no alongamento da dívida e em função disso não haveria necessidade de qualquer medida “mirabolante” para a administração da dívida mobiliária. A dívida de curto prazo, que vence em 12 meses, subiu de 27,76% para 32,67% do total do endividamento – maior valor desde dezembro de 2000. Esse crescimento é resultado da tentativa do governo de conter as turbulências no mercado, provenientes do período eleitoral, por meio da troca de títulos de longo prazo por papéis de curto ou curtíssimo prazo.

As operações para acalmar o mercado aumentaram os vencimentos previstos para este ano em R$ 25,4 bilhões. Para o primeiro ano de mandato do próximo presidente, os vencimentos aumentaram R$ 10,8 bilhões. A turbulência no mercado financeiro fez também com que a dívida atrelada ao câmbio subisse de R$ 193,70 bilhões para R$ 216,74 bilhões. Esse valor indica que, do total da dívida em títulos, 33,15% estão sujeitos aos efeitos do dólar.

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