Disparada do dólar leva caos ao setor de turismo

A disparada do dólar na última semana afetou rapidamente o setor de turismo no Brasil. No Paraná, as agências de viagem constataram redução de até 90% na demanda por pacotes internacionais. “Essa semana foi um caos”, resume Geraldo Rocha, vice-presidente da Abav/PR (Associação Brasileira das Agências de Viagem – regional Paraná). “Houve muitos cancelamentos e adiamentos em viagens turísticas internacionais, reflexo da alta repentina do dólar. As vendas caíram de forma assustadora por causa da incerteza do mercado”, comenta.

“A semana foi muito ruim. Todo mundo cancelando ou prorrogando a emissão de passagens para ver como vai ficar”, confirma Mauro Lopes, proprietário da agência de turismo Visittour. Clientes que tinham acertado excursões para a Disney, na Semana da Criança, desistiram ou prorrogaram para o final do ano. “Teve gente que chegou a falar que não ia mais fazer o roteiro, mas muitos substituíram as reservas de turismo agora por viagem nacional”, conta Rocha. O principal destino do turismo doméstico continua sendo o Nordeste.

Mas com a instabilidade que predominou na semana passada no País, até as vendas de pacotes nacionais foram impactadas, recuando 20% em relação à semana anterior. “Pela maneira como aconteceu essa incerteza geral do mercado, aposentados e clientes mais conservadores ficaram na expectativa de espera até por viagem nacional e deixaram para depois”, diz. Com a moeda norte-americana nas alturas, as poucas passagens vendidas foram para pessoas com compromissos inadiáveis. “Só deixa de adiar viagem quem tem compromisso comercial ou precisa viajar por razão de saúde”, observa Rocha.

Recuperação (?)

“Tenho pena de agências que se especializam em um segmento. Quem atende só internacional, sempre quebra. Já tive 80% de movimento internacional e 20% nacional. Hoje, tenho 85% a 90% de nacional e o resto de internacional, sempre acompanhando o mercado”, diz o vice-presidente da Abav/PR, proprietário da GR Turismo. Apesar do baque da última semana, ele acredita na possibilidade de recuperação do turismo doméstico. Um pacote de cinco dias para uma capital do Nordeste, incluindo passagens aéreas e hospedagem em hotel padrão quatro estrelas, custa hoje cerca de R$ 1,5 mil por pessoa. Já um pacote de quatro dias para Nova Iork, que já custou US$ 1,8 mil, sai por US$ 600. Ou seja, de duas semanas para cá, passou de R$ 1,7 mil para mais de R$ 2 mil.

Como nas últimas quinta e sexta-feiras o dólar apresentou queda, alguns turistas já retornaram às agências. “Hoje (sexta-feira) já teve gente que voltou a conversar para viagens de fim de ano, na expectativa do dólar baixar mais um pouco”, informa Rocha. “Com uma diferença de R$ 0,80 por dólar em pouco tempo, todo mundo recuou, porque não está sobrando dinheiro para ninguém. Mas com a perspectiva de baixa do dólar e de um acordo com o FMI, a situação vai melhorar e o pessoal volta a comprar passagens”, opina Lopes.

O vice-presidente da Abav/PR recorda que na época do atentado nos EUA, em 11 de setembro passado, alguns hotéis brasileiros aproveitaram a crise internacional para elevar tarifas. “Alguns resorts no Nordeste aumentaram as tarifas em 40% entre dezembro e janeiro, ficando mais barato viajar para os EUA”, cita Rocha. Agora, porém, a tendência é outra. “Com a crise, os hotéis vão diminuir preços.” Em agosto começa a “baixa temporada” do setor, que termina em 10 de dezembro.

Crise setorial

Mesmo assim, as projeções para o segundo semestre não são otimistas. “A previsão para o segundo semestre é preocupante porque não temos um feriado para aproveitar pacotes emendando quinta a domingo”, destaca Rocha. Diante da falta de perspectivas, as agências brasileiras estão enxugando seu quadro de pessoal. “Há demissões e até fechamento recente de agências. Algumas pessoas estão desistindo do ramo para não aumentar o buraco. Existe uma onda de pessimismo em Curitiba e em todo o mercado nacional”, ressalta. “Nos últimos quatro meses, teve mais agências fechando do que abrindo no Brasil.” Só em Curitiba, existem cerca de 300 agências, que geram aproximadamente mil empregos diretos.

Porém os problemas do setor turístico não se resumem às agências de viagens. “O mercado está muito inseguro. Isso se mede pelas companhias aéreas nacionais, todas em dificuldade. A Varig vai devolver vários aviões”, cita.

Hotelaria teme alta de custos

O setor hoteleiro do Paraná avalia com cautela o impacto das oscilações do dólar. “A expectativa é que a alta gere incremento do turismo de lazer interno, mas por outro lado, não sei se vai ter um fluxo grande de estrangeiros vindo para o Brasil. Quem vai para um País que está quebrado?”, avalia Hercílio Struck, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Paraná (Abih/PR).

“Vamos ser otimistas e acreditar que venham estrangeiros. Só que a alta do dólar vai puxar uma série de custos na hotelaria, que já estão extremamente elevados”, chama a atenção Struck. Ele se refere à possibilidade de aumento dos combustíveis, que provocaria elevação nos custos de transportes e, conseqüentemente, nos produtos (alimentos, materiais de limpeza) e insumos (energia elétrica, telefonia), causando inflação. “As margens da hotelaria estão muito próximas do prejuízo. O que vem de implemento de receita em função de turistas nacionais e internacionais fica igual ao custo que temos para absorver”, considera.

Segundo Struck, o setor está há quatro anos sem aumentar as tarifas, convivendo com baixas taxas de ocupação. O primeiro semestre de 2002 foi o pior dos últimos anos para os quatrocentos hotéis paranaenses, com ocupação média de 40% dos 25 mil leitos. No ano passado, no mesmo período, as taxas variavam entre 50% e 55%. Eventos ajudam a aumentar os índices em determinados períodos do ano, mas não têm sido suficientes para fazer a média subir.

“Como a economia está travada e as empresas assustadas, todo mundo segura custos. Dependemos de viajantes executivos, e a hotelaria é a primeira a ser afetada quando o cliente reduz despesas”, frisa o presidente da Abih/PR. “Não vejo otimismo para o segundo semestre. As montadoras, que eram um grande filão de hospedagem em Curitiba e Região Metropolitana, estão fazendo PDV para demissões”, exemplifica Struck.

Conseqüência do pouco movimento, os hotéis partem para enxugamento do quadro de funcionários. “Hotéis que trabalham com equipe de trinta pessoas cortam 20% do pessoal devido às baixas taxas de ocupação”, informa Struck. O setor hoteleiro paranaense gera cerca de 12 mil empregos diretos e 50 mil indiretos.

Freio nos investimentos

Struck salienta que este não é um bom momento para se investir em construção de novos hotéis e flats. “Não existe mercado para isso. O mercado está explodindo”, enfatiza. Na Grande Curitiba, há quinze empreendimentos hoteleiros em construção. No interior do Estado, são mais dez novos projetos em andamento. “Alguns tem baixado o ritmo das obras, porque a hotelaria está com o pé no freio desde janeiro”, reforça.(OP)

O que fazer ao mudar planos

Rio

(AG) – Você comprou a passagem, mas não os dólares para gastar na viagem? Ou quer adiar a ida para a excursão do pacote que você adquiriu? Confira o que fazer:

Passgens

Adiar o embarque: Na remarcação de bilhetes com tarifa promocional é cobrada multa média de US$ 100; para as chamadas tarifas cheias (passagem com preço integral), não há cobrança de multa. Tarifas promocionais têm validade mais curta; as cheias em geral valem por um ano. Veja com a companhia aérea as regras para o bilhete que você está adquirindo.

Cancelar o bilhete: Neste caso, pede-se o reembolso da passagem. Você recebe o reembolso com o valor da passagem corrigido pelo câmbio do dia e paga uma taxa de serviço, que é descontada do total reembolsado. No caso das tarifas promocionais, essa taxa varia; para as cheias, custa US$ 25 ou 10% sobre o valor do reembolso, o que for menor. O prazo para pedido de reembolso é de um ano da data da compra.

Pacotes de viagem

Adiar a ida: A negociação para adiamento de pacotes de viagem varia de acordo com a agência. A multa por adiamento de pacotes depende do bilhete aéreo e da parte terrestre – por isso, além dos cerca de US$ 100 pela remarcação do bilhete (se ele for promocional), há as multas dos hotéis, por exemplo, que variam para cada estabelecimento. A validade do pacote também depende de cada agência, mas geralmente ela vai até o fim da temporada (alta ou baixa) em que ele foi comprado, já que, mudando a temporada, mudam os preços dos serviços.

Cancelar o pacote: Também depende de cada agência. Normalmente as multas cobradas são de acordo com a antecedência do pedido de cancelamento: se você cancela a 30 dias da data de embarque, a multa é de x; se for a 15 dias, de 2x, e assim por diante.

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