Diretor do FMI critica protecionismo aos países pobres

O diretor-executivo do Brasil no Fundo Monetário Internacional (FMI), Paulo Nogueira Batista, ressaltou hoje que protecionismo é uma constante mesmo em momentos de crescimento rápido e de “vacas gordas”. “Mas é importante desistir desse protecionismo, principalmente contra países mais pobres”, afirmou, após o encerramento do primeiro dia de reuniões paralelas do G-20, na capital paulista. De acordo com ele, os países desenvolvidos buscam o protecionismo seletivo de muitos produtos em que o Brasil é competitivo, citando os itens ligados à agropecuária e manufaturas leves.

A avaliação de Nogueira Batista é a de que a crise atual não é tão profunda, mas que pode se agravar se os Estados Unidos, a Europa e os países emergentes não agirem de forma coordenada para neutralizar o processo recessivo ou até mesmo depressivo que pode se instalar no planeta. “O Brasil tem saído fortalecido no plano internacional”, observou. De acordo com ele, um dos sinais desse fortalecimento, foi o de que houve uma reforma nos votos e nas cotas do FMI há seis meses. “Ainda trata-se de algo insuficiente, mas foi um passo significativo para o Brasil”, avaliou.

Ele lembrou que o Brasil presidiu um encontro do G-20 num momento crucial da turbulência no mês passado. E que também ganha destaque hoje com a realização do encontro do G-20 em São Paulo. “Creio que a influência do Brasil está aumentando. O País não tem só extensão geográfica, poder econômico e grande população, mas tem também política externa e articulada, que não pratica radicalismos e que dialoga, mas sempre defendendo questões nacionais”, analisou. Para ele, as perdas no Brasil até agora com a crise foram específicas no mercado financeiro e em algumas empresas, mas sua avaliação é a de que a economia real tem apresentado desempenho razoável.

Em princípio, Nogueira Batista evitou fazer um prognóstico a respeito das mudanças que a vitória do democrata Barack Obama à presidência dos Estados Unidos refletirão no atual cenário de crise. “Veremos, não sabemos ainda”, afirmou. “Mas pelo que ele vem dizendo, Obama se mostra mais propenso a reconhecer a importância da regulação dos sistemas financeiros.”

Para o diretor do FMI, um ponto negativo é que o presidente começará a trabalhar em um ambiente de grande esperança e com credibilidade. “Isso lembra um pouco a situação do democrata Roosevelt (Franklin Delano Roosevelt, que assumiu em 1932 a presidência dos EUA, em meio a uma depressão causada pelo crash da Bolsa de Nova York em 1929)”, lembrou. “Agora a crise é a mais grave desde aquela, que antecedeu a posse de Roosevelt.”