Dieese: inflação volta a pesar mais para baixa renda

Levantamento divulgado hoje pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostrou que a taxa de inflação para a população de menor poder aquisitivo foi, pelo segundo mês seguido, mais expressiva que a apurada para a população de maior renda na capital paulista. Conforme a pesquisa que a instituição realizou por meio do Índice do Custo de Vida (ICV), enquanto a variação média do indicador foi de 0,22% em abril, o índice específico para os mais pobres registrou taxa de 0,52%. Já o indicador que engloba o custo de vida dos mais ricos apresentou variação bem menos significativa no mês passado, de 0,11%.

Além do ICV geral, o Dieese calcula mensalmente mais três índices de inflação, segundo os estratos de renda das famílias da cidade de São Paulo. O primeiro grupo corresponde à estrutura de gastos de um terço das famílias mais pobres (com renda média de R$ 377,49); o segundo contempla os gastos das famílias com nível intermediário de rendimento (renda média de R$ 934,17); o terceiro reúne as famílias de maior poder aquisitivo (renda média de R$ 2.792,90).

Em abril, os três índices apresentaram taxas menores. No primeiro estrato, o ICV foi 0,36 ponto porcentual inferior à variação de 0,89% do mês anterior. No terceiro, de maior renda, a taxa de inflação foi 0,21 ponto inferior à de março. No grupo intermediário, o ICV passou de 0,62% para 0,29%.

O Dieese destacou que variações de preços nos grupos Alimentação e Habitação, em princípio, têm maior impacto para as famílias com menor nível de rendimento. Alterações de valores nos gastos com Transporte, Educação e Saúde afetam mais aquelas com maior poder aquisitivo. No entanto, ao se desagregar estes grupos, observa-se que certos reajustes podem afetar as famílias de formas distintas. Assim, mudanças em preços de medicamentos, transporte coletivo e alimentação no domicílio são mais percebidas pelas famílias do primeiro estrato. Modificações nos valores da assistência médica, do transporte individual e da alimentação fora do domicílio são mais notadas por aquelas de maior poder aquisitivo.

No mês passado, segundo a instituição, os reajustes no grupo Alimentação, que apresentou alta de 0,75% em grande parte por causa dos preços do subgrupo Produtos in Natura e Semielaborados (avanço de 0,99%) afetaram mais as famílias de menor poder aquisitivo, em virtude do peso deste subgrupo na composição de seus orçamentos domésticos. Desta maneira, as contribuições nos cálculos das taxas por estrato de renda foram maiores para quem tem menor renda, reduzindo-se na medida em que o nível de rendimento cresce: 0,36 ponto porcentual para as famílias de menor poder aquisitivo; 0,27 ponto para o estrato intermediário; 0,14 ponto para as famílias de maior renda.

Comportamento semelhante foi observado no grupo Saúde, que apresentou alta média de 0,91% em abril. Segundo o Dieese, os impactos foram de 0,19 ponto porcentual para a inflação das famílias de menor poder aquisitivo; de 0,14 ponto para as do estrato intermediário; e de 0,10 ponto para as famílias mais ricas. “O motivo destes impactos decrescentes está na elevação dos preços dos medicamentos, que têm peso relativamente maior no orçamento das famílias de menor poder aquisitivo”, salientaram os técnicos do Dieese, referindo-se ao segmento que apresentou elevação média de 5,23% na coleta do ICV.

A instituição destacou ainda que a queda média de 1,05% – observada no grupo Transporte e que teve origem, principalmente, no subgrupo individual por causa da diminuição no valor dos combustíveis – resultou em contribuições negativas para todas as famílias. Foram mais acentuadas, entretanto, paras as de maior renda (baixa de 0,20 ponto porcentual) e menores para aquelas de baixo poder aquisitivo (queda de 0,05 ponto). Para o estrato intermediário, o alívio gerado para a inflação foi de 0,15 ponto porcentual.