Deutsche rebaixa Brasil e cita cenário político

O banco alemão Deutsche rebaixou a recomendação para os títulos da dívida externa brasileira. Entre as justificativas, a instituição financeira citou o risco de novas derrotas do governo Lula em votações no Congresso. É o primeiro grande banco estrangeiro que menciona o quadro político para sustentar uma piora na sua avaliação sobre os papéis da dívida.

Na semana passada, a corretora americana Merrill Lynch abriu a temporada de rebaixamentos, mas argumentou apenas que os riscos de perda oferecidos pelos títulos brasileiros cresceram devido à expectativa de novas altas dos juros nos EUA.

Em relatório, o Deutsche informa que a derrota do presidente Lula na eleição da presidência da Câmara ?poderá reduzir a probabilidade de conseguir a aprovação de algumas reformas importantes?. Segundo o banco alemão, há o risco de o governo elevar os gastos públicos, afrouxando a disciplina fiscal.

No mês passado, o governo anunciou o aval do FMI para gastar cerca de R$ 2,8 bilhões anuais, entre 2005 e 2007, em obras de infra-estrutura. Os recursos sairão do superávit primário – dinheiro que o setor público economiza para pagar juros da dívida.

Na prática, o FMI autorizou o governo a fazer um superávit menor, com a condição de que o dinheiro liberado seja usado em obras aprovadas e monitoradas pelos técnicos do Fundo.

Com o rebaixamento, o banco recomenda ao investidor assumir uma posição ?neutral? (igual à média do mercado), e não mais ?overweight? (acima da média). Na prática, isso significa que os clientes devem reduzir o total de dinheiro aplicado nos títulos do País no mercado, o que pode provocar queda nos preços desses papéis, elevando o risco-Brasil. Ontem esse indicador subiu 1,53%, aos 398 pontos.

No mês passado, um relatório do banco londrino HSBC também indicou preocupação com as batalhas políticas travadas em Brasília que devem definir o candidato ?anti-Lula? para a eleição presidencial de 2006. A instituição apontou o ex-governador do Rio de Janeiro e terceiro colocado na eleição de 2002, Anthony Garotinho (PMDB-RJ), como o ?único candidato que poderá possivelmente sacudir os mercados como fez Lula em 2002?. 

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