Desvalorização do real acumula 37% este ano

São Paulo

(Das agências) – A cotação do dólar repetiu, ontem, o comportamento do dia anterior. Oscilou durante todo o dia, mas no sentido inverso, de queda. No fechamento, no final da tarde, a moeda americana havia perdido 3,2% da valorização obtida na quarta-feira, e era vendida no câmbio comercial a R$ 3,66. Na Argentina, o dólar era vendido ontem pelo Banco Central a 3,65 pesos. No ano, o real já acumula desvalorização de 37%, sendo de 17,5% apenas no mês de setembro.

Segundo operadores, a queda se deve unicamente ao fim da pressão exercida anteontem devido ao vencimento de uma dívida cambial de US$ 1,52 bilhão liquidada ontem cedo pelo Banco Central em reais, de acordo com o valor da Ptax (taxa média compilada pelo BC entre as instituições financeiras) de ontem.

“Mesmo assim, a queda deveria ser maior”, observou Miriam Tavares, diretora da corretora AGK. “A especulação é até compreensível, já que a incerteza [sobre o cenário eleitoral] é grande e realmente gera apreensão até que o novo governo defina sua linha, mas há também manipulação dos agentes financeiros para aumentar seus lucros.”

Anteontem, o dólar chegou a subir 5,88% e fechar a inéditos R$ 3,78, após registrar pico de R$ 3,82 durante o dia. “Não dá para saber até onde o dólar vai subir, nem até quando”, disse Miriam.

O volume de negócios continua escasso, mas a previsão é de que melhore nos próximos dias com a volta dos exportadores para o mercado, após alguns dias de ausência.

O BC vendeu US$ 63,4 milhões em um leilão de linha de crédito para financiamento de exportação, mas não interveio de forma direta no mercado, ou seja, vendendo dólares à vista.

No último desdobramento eleitoral, pesquisas apresentadas pelo Ibope e pelo Vox Populi na noite de anteontem mostraram Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com 41% das preferências, enquanto José Serra (PSDB) teria 19% pelo Vox Populi e 18% pelo Ibope, onde está empatado tecnicamente com Anthony Garotinho (PSB), que tem 15% das preferências pelo instituto.

Pelo Vox Populi, Garotinho tem 14%, como Ciro Gomes (PPS), que por sua vez aparece com 12% no Ibope. Em ambos os levantamentos todos os candidatos oscilaram apenas dentro das margens de erro.

Nas casas de câmbio, dólar por R$ 3,40

Olavo Pesch

Embora o dólar comercial tenha atingido os patamares recordes do Plano Real nos últimos dias, ontem era possível comprar a moeda norte-americana nas casas de câmbio de Curitiba por R$ 3,40, ou seja, R$ 0,26 inferior ao fechamento oficial. Valor também abaixo do dólar turismo normalmente praticado por esses estabelecimentos, que ontem fechou cotado a R$ 3,71 para venda. A explicação dos operadores para o preço inferior ao oficial é que o giro de dólar continuou acontecendo no mercado, com forte movimento de vendedores procurando as casas de câmbio.

“Quem quer vender, aproveita a alta”, resume Andreas Wiemer, gerente da Confidence Câmbio. Em média, metade dos negócios com dólar do estabelecimento são de compra e metade de venda. Ontem, 90% do volume foi de compra no balcão, a R$ 3,25. A moeda norte-americana foi vendida entre R$ 3,40 e R$ 3,45 na capital paranaense. “O dólar comercial inflou-se muito rapidamente principalmente por causa da especulação, mas não reflete procura tão grande de pessoas viajando. Essa taxa mais baixa aplicada ao dólar e ao euro é em cima da oferta e procura, pelo alto volume de moeda em circulação no mercado”, considera Wiemer.

Na Confidence, o euro era comprado ontem a R$ 3,20 e vendido a R$ 3,35, enquanto a cotação oficial era, respectivamente, de R$ 3,39 e R$ 3,65. “As taxas de outras moedas de menor procura, como dólar canadense, dólar australiano e libra esterlina continuam compatíveis com o dólar comercial”, compara Wiemer.

“Como muita gente está vendendo dólar, aproveitando a alta, hoje (ontem) tivemos dificuldade de conseguir reais, o que normalmente não estava acontecendo”, relata Gerhard Fuchs, diretor da Transcorp Câmbio Express. “Existe muita oferta no paralelo. Como no turismo mexo com moeda física, me obrigo a acompanhar as cotações do papel-moeda nas outras casas. Se eu pagar igual ao comercial, vai ficar difícil vender”, comenta.

Na Transcorp, o dólar foi adquirido ontem por R$ 3,25 e vendido por R$ 3,40. “Aqui tenho a possibilidade de vender até mais barato do que isso, enquanto o dólar turismo nos bancos normalmente acompanha a cotação do comercial, em torno de R$ 3,70.”

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