Dependência de capital é a maior falha do Brasil

São Paulo

(AG) – Alvo constante de especuladores, economias emergentes como Brasil, Coréia do Sul, Rússia e México reagiram de forma diferente para tentar reduzir sua dependência de capitais externos. De todos, o Brasil foi o que apresentou os piores resultados, conforme análise concluída na semana passada pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Para o Iedi, o ajuste do setor externo no Brasil foi limitado, o que se traduz em altas taxas de juros (para atrair capital e fechar o balanço de pagamentos) e na excessiva vulnerabilidade às turbulências como a das últimas semanas.

A Coréia do Sul, que passou por uma crise financeira em 1997, levou três trimestres para anular um déficit em conta corrente que equivalia a 20% de suas exportações. Nos 12 meses encerrados em abril, o tigre asiático apresentou um superávit de US$ 7 bilhões. A Rússia, fustigada pelos especuladores em 1998, saiu em dois anos de um déficit equivalente a 10% de suas exportações para a um alto superávit. Até o fim do primeiro trimestre, o país acumulava um superávit de US$ 31,2 bilhões.

Em 12 meses, o déficit em conta corrente do Brasil ficou em US$ 19,027 bilhões – 3,7% do PIB. O número esconde uma notícia ruim. Tal desempenho foi determinado pelo baixo nível de atividade no país – que se reflete em queda do volume de importações.

– Os ajustes em outros países foram rápidos, melhoraram de forma radical sua condição externa e o risco a eles atribuído. Já o ajuste brasileiro transcorre com altos e baixos há três anos (desde a desvalorização de 1999) e o país não tem mais tempo – resume o diretor-executivo do Iedi, Julio Cesar Gomes de Almeida.

A primeira razão para o fracasso brasileiro é a queda dos preços internacionais das commodities, em que o país é um exportador competitivo. A ausência de políticas eficazes limitou o avanço das exportações e uma substituição de importações mais forte.

Há ainda o custo do grande passivo externo (soma da dívida externa e do estoque de capital estrangeiro no país), acumulado nos anos de fartura de financiamentos estrangeiros. Paga-se muito de juros e em remessa de lucros e dividendos para o exterior. A projeção do Iedi é que o passivo externo pule de US$ 365 bilhões para US$ 383 bilhões até dezembro.

O déficit do balanço de pagamento equivale hoje a quase 35% das exportações brasileiras, contra menos de 5% na Coréia do Sul e na Rússia. O governo ainda precisa do ingresso maciço de recursos externos para fechar suas contas. O nervosismo recente do mercado demonstra o perigo desse expediente. Em maio, pelo terceiro mês consecutivo, o país recebeu um volume menor em investimentos diretos estrangeiros: US$ 1,428 bilhão, contra US$ 1,964 bilhão em abril e US$ 2,366 bilhões em março. Até a quarta-feira, o acumulado em junho não passava de US$ 700 milhões.

Adversários com mesma opinião

Adversários políticos, os economistas Guido Mantega (assessor econômico do petista Luiz Inácio Lula da Silva) e Luiz Paulo Velloso Lucas (que trabalha para o candidato José Serra, do PSDB) têm a mesma opinião sobre o desarranjo do setor externo. Na avaliação de ambos, este será o principal desafio do novo presidente. Também existe uma unidade em relação ao que esse presidente deveria fazer – criar uma política industrial que conjugue o aumento das exportações e a substituição maciça de bens importados. As diferenças começam a aparecer nos programas de governo.

Crédito subsidiado

Mantega defende a concessão de crédito subsidiado do BNDES a setores com potencial exportador. Também afirma que o governo deveria reduzir impostos da cadeia de produção dos bens que são exportados. Isto feito, Mantega avalia que o país teria condições de ampliar entre um ano e um ano e meio seu saldo da balança comercial em US$ 10 bilhões.

– Um déficit em conta corrente entre 2,5% e 3% do PIB seria um nível mais confortável para o país – afirma o assessor de Lula.

Já Velloso Lucas, do PSDB, fala numa nova política industrial, mas ressalta que isso não pressupõe a concessão de qualquer tipo de subsídio. Na sua opinião, o próximo ocupante do Palácio do Planalto deveria ter o perfil de um “presidente caixeiro-viajante”, divulgando os produtos brasileiros no exterior. Ele nega que a situação atual seja insustentável:

– Isso é terrorismo da oposição, porque a balança comercial já apresenta tendência ascendente.

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