Crise foi a pior desde a década de 80

Brasília

  – A escassez de crédito que atingiu em cheio as empresas brasileiras este ano foi a pior desde a crise da dívida externa no final dos anos 80. A taxa de rolagem de papéis como bônus, notes e commercial paper emitidos pelas empresas brasileiras no exterior foi de apenas 7% em outubro, o nível mais baixo da última década, segundo o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes. Sem conseguir renovar seus compromissos lá fora, o setor privado teve que comprar dólares no mercado para quitar os débitos, isso ajudou a pressionar a cotação do dólar que bateu sucessivos recordes nos últimos meses.

Em outubro, US$ 1,3 bilhão deixou o País por conta desses pagamentos, o que reforçou o saldo negativo de US$ 2,3 bilhões na conta capital e financeira do balanço de pagamentos, no qual são registrados os ingressos e saídas de empréstimos, investimentos diretos e aplicações em geral.

Desde o final do segundo semestre essa perda de recursos vem se acentuando. O que tem compensado parcialmente as saídas de recursos para pagamento de dívida e também de aplicações no País é o dinheiro do Fundo Monetário Internacional (FMI) e o ingresso de investimentos estrangeiros diretos. Em outubro, esses investimentos somaram US$ 1,3 bilhão.

“A despeito do ajuste fenomenal que tivemos em conta corrente, o financiamento não se ajustou prontamente”, observou. “Tivemos as incertezas do processo eleitoral e um cenário internacional ruim com perspectiva de guerra entre os EUA e o Iraque, fraude na contabilidade de grandes corporações americanas, a Argentina com problema e a economia mundial com fraco crescimento”, destacou Lopes. Nesse cenário de maior volatilidade, completa, “quem pode, paga suas dívidas”.

Segundo ele, em novembro, a taxa de rolagem já está aumentando. A taxa global, que inclui além dos papéis os empréstimos realizados diretamente com os bancos lá fora, subiu de 31%, em outubro, para 55% este mês. “Bônus, notes e commercial paper respondem pela maior parte das operações. Com isso, se a taxa geral subiu é porque a taxa de rolagem desses papéis também está melhorando”, explicou.

Ainda assim, o Brasil deverá encerrar 2002 com uma taxa de rolagem em torno de 34% para papéis e 62% para as operações de empréstimos. Para o ano que vem, o BC estima que a dificuldade de renovar créditos pode ocorrer no início do ano mas deverá se recuperar gradualmente. A taxa média, no final do ano, deverá ser de 50% para papéis e 90% no caso de empréstimos.

Intervenções

A falta de crédito no exterior para os grupos brasileiros aliada a uma posição defensiva dos bancos que acumularam dólares nas suas carteiras obrigou o governo a aumentar as intervenções do BC no mercado de câmbio nos últimos meses. No entanto, Lopes acredita que essas atuações tendem a diminuir. Na última projeção do BC, por exemplo, vão faltar US$ 2,1 bilhões para cobrir as operações do mercado entre novembro e dezembro. Com isso, as intervenções do BC no período foram estimadas em US$ 1,7 bilhão. No entanto, até ontem (26), o BC havia vendido apenas US$ 95 milhões no mercado de câmbio, incluindo moeda e linhas de crédito.

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