Crise argentina e dólar fazem aumentar o pão

O pão francês deve ficar mais caro nas próximas semanas. Pelo menos é o que prevêem os proprietários e gerentes de padarias de Curitiba, que já começam a receber farinha de trigo com o preço reajustado. Além da crise argentina e a alta do dólar, que refletem diretamente no valor do trigo – matéria-prima da farinha -, o reajuste do preço do gás de cozinha e o aumento salarial dos funcionários das padarias, são os fatores que contribuem para a alta do tradicional pãozinho de 50 gramas, e outros produtos derivados da farinha, como broa e diferentes tipos de pães.

O reajuste, segundo previsão do presidente do Sindicato dos Panificadores, Joaquim Gonçalves, deve ser de 18%. O proprietário da padaria América – uma das mais antigas de Curitiba -, Alfonso Eduardo Engelhardt, prevê que o aumento deva acontecer em no máximo 30 dias. Segundo ele, a próxima remessa de farinha de trigo já virá com reajuste de 6% a 7%. “Vou esperar para sentir a reação do mercado. Só vou repassar a alta quando não houver mais condição”, promete. A unidade do pão francês na padaria América custa R$ 0,17, e Engelhardt acredita que o preço passará para R$ 0,19, aproximadamente. Além da questão do dólar – que influencia diretamente no preço da farinha de trigo, já que quase 80% do trigo utilizado no País é importado -, o comerciante atribui o aumento à alta da tarifa da energia elétrica e aumento salarial dos funcionários que trabalham em padarias.

O comerciante Aladim Luciano, proprietário da panificadora Aladim, no bairro Bacacheri, conta que na próxima remessa de farinha de trigo pagará 25% a mais. Para não ficar no prejuízo, Aladim deve passar o reajuste aos consumidores, que irão pagar entre R$ 0,20 e R$ 0,22, pelo pãozinho que hoje custa R$ 0,18. “Os clientes chiam, mas acabam comprando”, diz. Ele lembra que há estabelecimentos que vendem a unidade por um preço menor, mas a farinha utilizada “é de terceira.” “A concorrência é muito grande, e é desleal Farmácia e loja de conveniência vendendo pão, por exemplo, acho totalmente errado”, critica.

Na panificadora Cravo e Canela, localizada no bairro Mercês, a gerente-administrativa Raquel Alvarenga Costa diz que o preço do pãozinho não foi alterado ainda devido às oscilações do dólar e da farinha de trigo. “A gente está aguardando para ver como vai ficar, se o dólar vai continuar subindo”, conta. Segunda ela, também a alta no preço do gás de cozinha – reajuste de 16,72% desde o início do ano, segundo o Dieese-PR -, deve influenciar no aumento não apenas do pão francês. Ela lembra que desde janeiro do ano passado, o preço do pão caseiro, broas e outros tipos de pães permanece o mesmo.

Abitrigo

Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Roland Guth, a iminente alta no preço do pãozinho tem uma explicação simples e matemática: o trigo subiu quase 50% desde o início do ano – 20% apenas nos últimos quinze dias. Isso se deve, explica ele, à crise argentina e ao período de entressafra do grão. “Dos 6,5 milhões de toneladas de trigo que o Brasil importa, 96% vem da Argentina. E com a crise econômica e política que atravessa aquele País, os produtores preferem ?segurar? o grão a vender”, comenta. Isso faz com que o preço da tonelada do trigo estoure. “Na Argentina, a tonelada está custando US$ 162. É um valor altíssimo. Sazonalmente, na entressafra o grão fica mais caro, mas gira em torno de US$ 130”, afirma. Ao todo, o Brasil consome cerca de 10 milhões de toneladas de trigo por ano, mas só produz em torno de 4 milhões – quase 60% do montante é do Paraná.

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