Copom não surpreende e Selic sobe para 18,75%

O recuo da inflação em janeiro não serviu para o Banco Central mudar de idéia e suspender o ciclo de aperto monetário. Como já era esperado, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) decidiu elevar a taxa básica de juros da economia, a Selic, em 0,5 ponto percentual, para 18,75% ao ano, na reunião encerrada ontem. Foi a sexta elevação consecutiva. Essa é a maior taxa desde outubro de 2003 (19%). Não foi adotado viés. Ou seja, a taxa não será alterada antes da reunião de março.

A decisão de ontem indica que o BC ainda não viu sinais de que a inflação está completamente sob controle. A autoridade monetária eleva o juro para deixar o crédito mais caro para empresas e pessoas e conter o consumo. Dessa forma, assegura a estabilidade da moeda.

O aumento da Selic acontece na mesma semana em que o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) anunciou que a inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) ficou em 0,58% em janeiro, ante 0,86% em dezembro.

O IPCA é o indicador da meta de inflação do governo, que é de 4,5% em 2005, com uma margem de tolerância de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo. Embora a meta seja de 4,5%, o BC anunciou em setembro que irá perseguir uma inflação de 5,1%. Entretanto, as expectativas do mercado apontam para um IPCA de 5,74% neste ano.

Mais aperto

O rigor do BC deve continuar enquanto não houver uma convergência das expectativas para o objetivo. Enquanto isso não acontece, empresários e políticos devem aumentar a pressão para que haja uma reversão nesse movimento de ajuste.

A autoridade monetária teme que a recuperação econômica cause reajuste nos preços por parte da indústria. Em 2004, a indústria cresceu 8,3%, o melhor resultado desde 1986, segundo o IBGE. O uso da capacidade instalada, medido pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), está em torno de 83% – patamar que é o mais elevado já registrado pela entidade.

A cautela do governo vem do temor da falta de investimentos – se eles não forem feitos no nível necessário, é possível uma crise de demanda – consumo acima da capacidade da indústria atender os pedidos -, o que pressionaria ainda mais os preços.

EUA

Externamente, o BC segue atento ao que ocorre nos EUA.

Desde o ano passado, a maior economia do mundo promove elevações em sua taxa de juros para conter o risco de inflação. Hoje, a taxa está em 2,5% ao ano.

Com rendimento maior, os títulos do governo norte-americano – considerados as aplicações financeiras mais seguras do mundo, com risco próximo de zero – atraem investimentos que, em tese, se sujeitariam a riscos maiores, como ações, dívidas públicas e privadas e o câmbio de moedas. Com isso, sobra menos dinheiro para investimentos em títulos de mercados emergentes, como o Brasil, considerado de risco alto.

A justificativa para a reunião de ontem será conhecida no dia 24, quando será divulgada a ata da reunião.

Objetivos

O objetivo do Banco Central com o aumento do juro é controlar a inflação. Desde 1999, quando o governo adotou o sistema de metas de inflação e o câmbio flutuante, a taxa de juros é o principal instrumento usado para conter a pressão de preços.

A alta do juro aumenta a atratividade por títulos da dívida pública do governo e, conseqüentemente, provoca um aumento nas taxas para financiamentos cobradas pelas instituições financeiras, inibindo a capacidade de investimentos das empresas e o crescimento da economia.

Além disso, os juros altos desestimulam o consumo, principalmente de bens como automóveis e imóveis, normalmente adquiridos por meio de financiamento, e diminui o espaço que as empresas têm para reajustar os seus preços.

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