Copom defende política de cortes tímidos nos juros

O Copom (Comitê de Política Monetária, do Banco Central) defendeu-se ontem veementemente das críticas a sua política de cortes tímidos na taxa básica de juros da economia brasileira (Selic). Nas últimas duas reuniões, o comitê decidiu reduzir os juros em apenas 0,25 ponto percentual – chegando ao atual patamar de 16% ao ano – e recebeu críticas de diversos segmentos da sociedade de que estaria travando o crescimento econômico.

Na ata da reunião da semana passada, divulgada ontem, o Copom enumera diversas vantagens dessa política e afirma, entre outras coisas, que não está comprometendo o crescimento nem mostrando temores de descontrole da inflação no futuro.

“Não faz sentido (…) inferir de forma mecânica que um ritmo mais moderado de reduções dos juros corresponda a uma avaliação negativa sobre o comportamento futuro da inflação, ou que dele deva resultar pessimismo a respeito da trajetória futura do nível de atividade”, diz a ata.

O comitê também afirma que cortes suaves mostram a estabilidade da economia. “Um sintoma natural de normalização progressiva do ambiente macroeconômico é justamente o decaimento do ritmo médio dos cortes da taxa de juros básica.” Por último, o Copom também afirma que essa política foi responsável pela redução da inflação nos últimos dois meses – o IPCA (índice de preços que serve de base para as metas de inflação) caiu de 0,76% em janeiro para 0,61% em fevereiro e, depois, para 0,47% em março.

“O Copom avalia que a atuação cautelosa da política monetária tem sido fundamental para aumentar a probabilidade de que a inflação convirja para a trajetória de metas.”

Gás sobe menos; energia mais

O Copom (Comitê de Política Monetária, do Banco Central) elevou sua previsão para o aumento da energia residencial neste ano, de 6,9% para 8,5%. Segundo o BC, os reajustes já concedidos em alguns Estados ficaram acima do esperado.

Entretanto, na ata de sua última reunião, divulgada ontem, o comitê reduziu de 10% para 6,9% sua estimativa para a alta de preços do gás de cozinha. Também houve redução, ainda que pequena, da projeção de aumento das tarifas de telefone fixo, de 6,8% para 6,7%.

Já a previsão de alta da gasolina ficou estável, em 9,5%. Apesar das diversas alterações, somados os preços administrados por contrato ou monitorados também ficaram praticamente estáveis, subindo de 7,3% para 7,4% neste ano.

Todas essas projeções servem para o BC traçar cenários de trajetória de inflação futura e orientam as decisões do Copom sobre juros. Na última reunião, o comitê decidiu reduzir a taxa básica da economia brasileira (Selic) de 16,25% para 16% ao ano.

BC otimista com economia este ano

O Copom (Comitê de Política Monetária, do Banco Central) avalia que nem a provável alta de juros nos Estados Unidos, nos próximos meses, nem a alta da inflação no atacado devem abalar o crescimento da economia brasileira neste ano.

Na ata de sua reunião da semana passada, divulgada ontem, o BC abandona completamente o tom pessimista que dominava as atas divulgadas nos dois primeiros meses deste ano e traça um cenário cor-de-rosa para a economia.

Segundo o BC, os juros americanos não terão grande impacto sobre o fluxo de dólares para o Brasil porque o governo já fez o ajuste das contas externas e reduziu a dívida indexada ao dólar. Além disso, o mercado teria antecipado os possíveis efeitos de uma ação do Federal Reserve (o BC dos EUA) e os preços dos títulos da dívida externa brasileira estariam neste momento já corrigidos.

“É importante ressaltar que cenários plausíveis de elevação da taxa básica de juros norte-americana já estão precificados pelos mercados de títulos, o que permite antever um impacto residual menor sobre as condições de liquidez internacional no momento em que esses cenários vierem a se concretizar”, diz o Copom.

“De forma geral, o cenário externo permanece bastante favorável.” Entretanto, o Copom admite um provável solavanco no curto prazo. “(A alta dos juros nos EUA) não deve acarretar correções muito acentuadas nos custos e na disponibilidade do financiamento externo para a economia brasileira ao longo de 2004, apesar da provável instabilidade que deverá ser observada no curto prazo”, afirma o BC.

Inflação

O Copom afirma na ata que continua trabalhando com um pequeno repasse da inflação no atacado – mais alta nos últimos meses – para o consumidor.

Apesar de admitir que a alta dos preços ficou acima das expectativas tanto em março (quando o IPCA atingiu 0,47%) quanto no primeiro trimestre (1,85%) , o BC entende que as expectativas do mercado para a inflação deste ano ficaram “relativamente estáveis”.

Por isso, a inflação ainda estaria “levemente” abaixo da meta de 5,5% para este ano se for considerada a manutenção do atual cenário (dólar a R$ 2,88).

Crescimento

O BC também enumera na ata diversos indicadores positivos para mostrar que a economia continua em crescimento. Na semana passada, relatório divulgado pelo banco de investimentos norte-americano JP Morgan dizia que “sinais mistos de crescimento” colocavam em dúvida a meta de expansão do PIB (Produto Interno Bruto) estipulada pelo governo para a economia neste ano, de 3,5%.

Para o BC, entretanto, “a atividade econômica continua em tendência de expansão” e o “crescimento da produção industrial já está tendo reflexo no nível de emprego”.

Juros mantidos a partir do 2.º semestre

O economista do banco Schahin, Cristiano Oliveira, classificou de “mais cautelosa e menos densa” a ata do Copom (Comitê de Política Monetária), divulgada ontem, com as justificativas para o corte simbólico do juro de 0,25 ponto percentual, para 16% ao ano, anunciado na semana passada.

Na sua opinião, o BC iniciou em março um miniciclo de corte de juros ou “ajuste fino” que não deverá se estender por muitos meses.

“Atribuímos alta probabilidade de o BC interromper o ciclo de corte dos juros no início do próximo semestre”, diz Oliveira.

Para a reunião de maio, a expectativa inicial do economista é de mais uma queda de 0,25 ponto percentual.

“A ata de abril não trouxe nenhuma revelação a respeito dos próximos passos do BC na condução da política monetária”, diz Oliveira.

Suas estimativas são de que o IPCA (inflação oficial do país) registre inflação entre 6,2% e 6,4% em 2004 e que a meta da taxa Selic seja reduzida para o patamar de 14% ao ano em dezembro próximo.

“A menção na ata à aceleração das diversas medidas de núcleo da inflação em março e ao fato de as expectativas do mercado terem se desviado da meta central que o BC persegue, deve manter o mercado focado nestes dois indicadores nas próximas semanas”, afirma o economista do Schahin.

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