Copom adia, mais uma vez, queda dos juros

Mais uma vez o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central optou pela manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 19,75% ao ano. É a terceira manutenção consecutiva. Entre setembro de 2004 e maio deste ano, foram nove elevações. A convergência das expectativas de inflação para a meta ainda não foi suficiente para o BC se convencer de que os preços estão sob controle. A volatilidade nos mercados, em especial nos preços internacionais de petróleo, adiou o tão esperado início do ciclo de baixa dos juros.

?Avaliando as perspectivas para a trajetória da inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, manter a taxa Selic em 19,75% ao ano, sem viés?, diz a nota divulgada pelo Banco Central após a reunião de ontem.

O comitê trabalha para assegurar a convergência da inflação para a meta perseguida pelo BC, que é um IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de 5,1%. No mês passado, o índice foi de 0,25%.

A previsão do mercado já está próxima da meta ajustada: 5,4%, segundo a última pesquisa da autoridade monetária feita com analistas.

Com essa trajetória de queda praticamente assegurada, a expectativa é que o BC comece a reduzir os juros a partir de setembro. Na ata da reunião do mês passado, o comitê reafirmou que manteria a Selic neste patamar ?por um período suficientemente longo de tempo?.

O IPCA é o indicador usado pelo governo para as metas de inflação, que neste ano é de 4,5%, com uma margem de tolerância de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo. Isso significa que a inflação no período de 12 meses ?7,94% até julho-?, ainda supera o teto da meta de inflação, que é de 7%. Embora a meta seja de 4,5%, o BC anunciou em setembro do ano passado que irá perseguir uma inflação de 5,1%.

Um dos motivos que levou o BC a adotar uma política monetária mais dura por nove meses foi o temor de que a recuperação econômica provocasse reajustes nos preços por parte da indústria. Essa pressão pode ser maior se a indústria não for capaz de atender toda a demanda.

No entanto, esse risco foi descartado neste ano, quando a indústria passou a crescer em um ritmo menor.

A produção industrial brasileira registrou alta de 1,6% em junho, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

No ano passado, o PIB (Produto Interno Bruto) teve um crescimento de 4,9%, o maior desde 1994. No entanto, o crescimento no primeiro trimestre do ano foi de apenas 0,3% na comparação com o trimestre anterior. Já a produção industrial, que no ano passado cresceu 8,3%, ficou estável em abril na comparação com março.

A justificativa para a reunião de hoje será conhecida no dia 25, quando será divulgada a ata da reunião.

Para Fiep, Comitê ?vive em outro Brasil?

O presidente do Sistema Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Rodrigo da Rocha Loures, voltou a criticar o Comitê de Política Monetária do Banco Central pela manutenção da taxa básica de juros em 19,75% ao ano. ?A manutenção da taxa Selic diante de um quadro recessivo, agravado pela crise política, mostra a insensibilidade do Copom com a realidade brasileira?, afirmou Rocha Loures.

Para o presidente da Fiep, ?o Copom vive em outro mundo, distante do cotidiano do País?. ?Persiste o viés de pautar a atividade econômica brasileira pela referência do mercado financeiro. Esta política apenas intensifica um panorama que já é crítico, econômica e politicamente?, completa Rodrigo da Rocha Loures.

Para o economista Alex Agostini, da GlobalInvest, com a decisão de manter a taxa Selic inalterada em agosto, o Comitê de Política Monetária (Copom) mostrou que está buscando chegar o mais próximo possível de uma inflação de 5,1% este ano. Ele é de opinião de que a taxa Selic deve começar a cair em setembro e terminar o ano em 17,75% ao ano.

Para o analista, já havia condições técnicas para a redução da taxa Selic na reunião deste mês, mas o Banco Central optou por aumentar a margem de segurança para cumprimento da meta deste e do próximo ano. A meta de 2006 é de 4,5%, com margem de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.

Decepção

A Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP) afirma que, mais uma vez, o Banco Central agiu com extremo conservadorismo ao optar pela manutenção da taxa básica de juro, em 19,75%. Para a entidade, há vários sinais favoráveis à redução da Selic, que daria impulso à atividade econômica. Abram Szajman, presidente da Fecomércio-SP, diz em comunicado que o juro alto não é capaz de controlar outros fatores que afetam a economia, como a crise política e a alta do petróleo.

A Fecomércio-SP avalia ainda que há tendência de queda na intenção de compra, conforme apontam os dados mais recentes do Índice de Confiança do Consumidor (ICC), feita na capital paulista. Em comparação com os dados da semana anterior, o ICC registrou queda de 19,9%, indo para 106,8 pontos, na margem da fronteira que delimita o otimismo e o pessimismo, já que o índice varia de 0 a 200 pontos.

CNI diz que manutenção dos juros é decepcionante

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) qualificou de decepcionante a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a taxa de juros básica inalterada em 19,75% ao ano. segundo a CNI, tanto o comportamento corrente da inflação como sua tendência futura justificariam o início de um ciclo de queda dos juros. ?Ambos apontam para o alcance da meta de inflação tanto em 2005 como em 2006?, disse em comunicado.

Para a CNI, o Copom ignorou os parâmetros utilizados pelo próprio Comitê quando da decisão de elevação das taxas de juros no final do ano passado. ?A manutenção da Selic significa, na prática, um endurecimento da política monetária em um momento em que se justificaria um abrandamento do rigor monetário?, diz a CNI.

O economista Newton Rosa, da Sul América Investimentos, considerou que a decisão dos diretores do Banco Central de manter os juros básicos da economia por mais um mês confirmou o perfil conservador da instituição. Ele afirma que a inflação está convergindo para a meta de 5,1% do BC, mas que a autoridade monetária espera sinais mais claros.

?Preocupações com o petróleo, o ritmo da economia e mesmo a crise política levaram o Comitê de Política Monetária (Copom) a manter a taxa Selic em 19,75% ao ano mais uma vez?, afirmou.

Rosa aposta que em setembro o BC terá mais condições de começar a cortar os juros básicos da economia. Ele espera quatro cortes de 0,5 ponto percentual até dezembro, chegando ao final do ano com a taxa Selic em 17,75% ao ano.

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