Copel pode comprar participação na Celesc

Um possível interesse na Celesc, divulgação do balanço de 2009, anúncio de tarifas possivelmente sem alteração, no meio do ano. As notícias preencheram boa parte das duas últimas semanas, na Copel. Para o presidente da estatal, Rubens Ghilardi, a empresa pode, sim, comprar participação na Celesc, mas desde que haja intenção de venda, ou pelo Estado catarinense, ou pela Previ, que também detém participação acionária na companhia.

A intenção de comprar a Celesc, divulgada na edição do dia 10 de março do jornal Valor Econômico, não foi confirmada com todas as letras por Ghilardi. “Não é bem o que o jornal publicou”, esclarece. Segundo ele, a pergunta era se a Copel, assim como a estatal mineira Cemig, teria interesse na companhia catarinense, caso ela fosse colocada à venda. Nesse caso, a resposta do executivo é mesmo positiva.

Mas ele lembra que, como a Celesc, ao menos no momento, não está à venda, a Copel não irá apresentar propostas espontâneas de compra. Por outro lado, a possibilidade existe, já que a estatal catarinense atravessa uma crise institucional: acionistas minoritários questionam a gestão da companhia, cujo resultado de 2009 deve ficar abaixo do esperado. A situação pressiona o governo do Estado vizinho.

Outra alternativa para que a estatal do Paraná assuma o controle da empresa catarinense, lembra Ghilardi, seria através do fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, a Previ. O fundo possui 33,11% das ações ordinárias e 1,90% das preferenciais da Celesc, que correspondem a 14,46% do capital total. “A Previ tem uma briga judiciária com o Estado de Santa Catarina. Se ela estiver interessada em vender, a Copel vai estudar”, afirma o executivo.

Nesse caso, porém, Ghilardi que ainda não sabe que efeitos as iminentes mudanças no primeiro escalão do governo do Estado devem implicar no comando da Copel frisa que há impedimentos políticos e legais, que terão que ser superados. “Eu só posso ser majoritário em qualquer empresa”, afirma, em relação à proibição constitucional de que a Copel participe de empresas como acionista minoritária. Uma saída para isso apenas seria possível com aprovação da Assembleia Legislativa.

O presidente da estatal paranaense diz, ainda, que uma possível participação da Copel na Celesc seria mais lógica do que uma eventual aquisição pela Cemig. Ele ressalta parcerias de longa data entre as companhias, como, por exemplo, para o atendimento na fronteira dos dois estados. A Copel fornece energia para algumas cidades catarinenses, e a Celesc, por sua vez, atende alguns municípios paranaenses. “Há uma sinergia entre as empresas”, conclui Ghilardi.

Sonhos

De qualquer forma, enquanto o negócio não é viabilizado, o executivo da Copel recorda outros sonhos de aquisição da empresa, que deseja atender a todas as cidades paranaenses. A Companhia Campolarguense de Energia (Cocel), que atua em Campo Largo, é uma delas, bem como a Companhia Força e Luz do Oeste (CFLO), que atende Guarapuava e alguns municípios vizinhos, e a Força e Luz Coronel Vivida (Forcel), que distribui energia no município do Oeste do Estado. “A ideia é por coerência social, até para termos uma tarifa equalizada para todos os paranaenses. Mas não querem vender”, lamenta.

Havia, também, a intenção de comprar a Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (Cteep). A Copel foi impedida de participar do leilão da empresa, já que a legislação paulista proíbe a compra de estatais locais por empresas públicas de outros estados. O imbróglio continua sendo discutido no Tribunal de Justiça de São Paulo, que já negou, em 2006, pedido de liminar da, Copel, que tentava garantir a participação no leilão da empresa.

Lucro líquido da empresa supera R$ 1 bilhão

Caso a Celesc seja colocada à venda, a Copel teria segurança para bancar uma compra. Após a divulgação, na última semana, do balanço de 2009 da companhia, o presidente da estatal, Rubens Ghilardi, afirmou que a empresa tem “absoluta tranquilidade” nem só para executar o programa de investimentos de 2010, previsto em R$ 1,343 bilhão, como também para expandir os negócios da empresa.

De acordo com o balanço, o lucro líquido da Copel, no ano passado, foi de R$ 1,26 bilhão, o que manteve a empresa, já por quatro anos seguidos, com resultados positivos acima de R$ 1 bilhão. O lucro de 2009 foi, porém, um pouco inferior ao de 2008 (R$ 1,79 bilhão). Já os investimentos somaram R$ 943,9 milhões.

Ghilardi comemora o resultado, lembrando que, em 2002, a companhia tinha passado pelo maior prejuízo de sua história (R$ 320 milhões). Para ele, os últimos sete anos foram de recuperação, que começou com importantes revisões em contratos de compra de energia lesivos à empresa.

O executivo também lembra que os lucros recentes vêm acontecendo mesmo com a empresa dando descontos nas tarifas de energia. Para ele, os próprios consumidores ajudam a reverter o desconto, compensando no consumo. Como exemplo disso, ele cita as indústrias: enquanto, no País, a queda no consumo de energia, no ano passado, foi de 10%, no Paraná houve redução de apenas 1%.

Apesar da queda na indústria (que aumentou o consumo no último trimestre), a demanda por eletricidade cresceu 5,9% no comércio, 5,3% nas residências e 4,6% no campo. Em 2009, o mercado consumidor atendido diretamente pela Copel cresceu 3,1%.

Preço

A exemplo do que vem acontecendo nos últimos anos, Ghilhardi informa que a Copel está prevendo reajuste próximo a zero, ou até negativo, na tarifa de energia, em junho. A previsão leva em conta nem só a variação nos preços da energia de Itaipu, influenciados pelo dólar, mas também os novos critérios de cálculo estabelecidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que no ano passado teve o método questionado pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

Banda Larga

Ghilardi também comentou que, apesar de problemas detectados nos testes do ano passado, o acesso à internet por meio da rede elétrica deve continuar recebendo investimentos da Copel. Para ele, o serviço precisa de ajustes, começando na rede aérea, até dentro das residências, onde outros aparelhos eletrônicos podem causar interferência no sinal. Por enquanto, o foco da empresa, segundo o executivo, será na chamada “última milha” do acesso. As maiores distâncias serão preenchidas via fibra ótica meio que, recentemente, foi objeto de parceria entre a estatal e a Intelig, que esta semana passou a oferecer o serviço de internet via rede elétrica em São Paulo, em conjunto com a AES Eletropaulo Telecom. (HM, com agências)