Mudanças

Copel pede a suspensão do reajuste na tarifa de energia

Atendendo solicitação do governo do Paraná, seu acionista majoritário, a Copel vai pedir suspensão temporária do reajuste das tarifas aprovado ontem pela diretoria da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Assim que saiu o anúncio do aumento médio de 35,5%, que vigoraria para os 4,2 milhões de clientes da empresa em 396 municípios paranaenses, o governador Beto Richa usou as redes sociais para mostrar sua contrariedade aos índices aprovados. Apesar de o presidente da empresa, Lindolfo Zimmer, alegar que é impossível amortizar o repasse ao consumidor, a ideia do governo é não aplicar os percentuais integrais autorizados para este ano.

Pela Aneel, o consumidor residencial teria alta de 33,5%. Já empresas e comércios, que utilizam alta e média tensão, teriam aumentos de 37,5% e 35%, respectivamente. Levando em consideração que um consumidor residencial gasta em média 170 kW/h, o que significa R$ 69,79 por mês na fatura, com o reajuste desembolsaria R$ 93,16.

Como a energia é comprada pela Copel em leilões do governo federal, todos os anos, no dia 24 de junho, a empresa precisa redimensionar os custos de acordo com os preços praticados nesses leilões do setor elétrico. Segundo a empresa, entre os fatores que influenciaram a variação dos preços está a quantidade de chuvas nos reservatórios brasileiros e a quantidade de energia termoelétrica, com custos de geração mais elevados, usada para abastecer o Estado.

“Fui surpreendido com a decisão do governo federal de aumentar a luz em 35,05%. Vamos pedir à Aneel a suspensão da aplicação para buscar uma solução junto com a Copel”, postou o governador. Segundo ele, o reajuste da empresa paranaense de distribuição é de apenas 1,5% e o restante estaria relacionado ao custo do sistema nacional de compra e venda de energia. “A energia está muito cara porque o sistema nacional tem acionado muito as usinas térmicas, que têm um custo mais elevado. A Copel segue as regras do governo federal”, argumentou, em resposta aos internautas.

Em comunicado divulgado ao mercado no final da tarde, a energética informou que “está realizando análises técnicas para identificar a melhor forma de aplicação do diferimento, de modo que não traga prejuízo à saúde financeira da companhia e, assim que concluído, o pleito definitivo relativo ao diferimento será apresentado à Aneel”.

“Amortização impossível”

Em entrevista ao Paraná Online antes da divulgação do pedido de suspensão do aumento, o presidente da Copel argumentou que o aumento no valor da tarifa se justifica para que seja possível manter o atual sistema elétrico do Paraná. Segundo Zimmer, é impossível amortizar o repasse por conta da margem em que a empresa trabalha. “Se a Copel não der lucro não tem como fornecer ao consumidor final uma energia de qualidade e não há como manter o sistema de distribuição”, completou.

A grande questão, para Zimmer, está justamente na forma como acontecem os leilões. “Não escolhemos de quem comprar, apenas digo o quanto preciso de energia e recebo a nota fiscal”. Mas Zimmer reitera que o atraso no cronograma de obras em linhas de transmissão do sistema integrado também prejudicou o fornecimento e exigiu que fosse necessária a aquisição de energia de usina térmicas.

Segundo Zimmer, o preço da energia comprada de usinas térmicas é quase sete vezes superior ao valor estabelecido para compras de hidroelétricas. Portanto, o que era para ser um “porto seguro” para as companhias distribuidoras acabou por se transformar em uma das fontes prioritárias de fornecimento.

Impacto

Os paranaenses, além de sentir diretamente no bolso o reajuste, também deverão se preparar os efeitos colaterais refletidos no custo de vida. Segundo Aurélio Sant’Anna, vice-presidente da F,ederação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), o setor industrial vê com preocupação esse novo repasse de custos, já que ele colocará em xeque a competitividade das empresas do Estado.

“A indústria de transformação será a mais afetada, pois se vale de maquinário para poder transformar os insumos básicos”, comentou Sant’Anna. O prognóstico da Fiep é que os setores têxtil, metalomecânico e moveleiro devem ser os que mais sentirão os efeitos dos novos preços, o que pode significar perda do poder de competição dentro e fora do Brasil.

Com a necessidade de se manter no mercado, muitas empresas precisarão rever suas planilhas de custos e uma das alternativas para a redução do valor de produção é a demissão de funcionários. Essa seria, para o vice-presidente da Fiep, uma das alternativas possíveis para que não exista repasse dos custos de produção, que devem aumentar entre 5% e 6%.

“No Paraná, especificamente, estamos com a produtividade abalada por conta do salário mínimo regional que é um dos mais altos do país. Esse é um fator que ajuda a deixar o Produto Interno Bruto (PIB) da indústria abaixo do índice geral ou ainda em patamar negativo”, comentou. (JS)

Acumulado

O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) calcula que, de 2011 até maio deste ano, o aumento real acumulado, sem impostos, da tarifa da energia elétrica foi de 17,60%. Em comparação, no mesmo período, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi de 26,73%. “Isso significa que, no acumulado, o reajuste da tarifa do setor elétrico está abaixo da inflação”, afirma Sandro Silva, economista do Dieese.

Indignação

Como resposta ao anúncio do reajuste, 250 pessoas se reuniram em frente ao Palácio Iguaçu, sede do governo estadual, na tarde de ontem, para protestar contra a nova tarifa. A manifestação foi organizada pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), responsável por uma mobilização na manhã em frente à sede da Copel, no Batel. O grupo pede que o aumento seja anulado e que os moradores afetados pela abertura das comportas da Usina Salto Caxias, no Rio Iguaçu, durante as chuvas do começo do mês, sejam indenizados pela companhia.